À descoberta das Berlengas
O leitor Helder Taveira aproveitou as restrições de viagem ditadas pela pandemia para conhecer um destino há muito adiado.
Este ano, devido às restrições das viagens para o estrangeiro, decidimos ir conhecer as Berlengas, um destino que vinha sendo adiado há muitos anos.
Desta vez, a mim e à Luísa, juntaram-se a Marta, o Sérgio e a Paula e lá fomos nós.
Saímos do sol abrasador do Alentejo e quando chegámos a Peniche julguei estar nos Açores. Céu com muitas nuvens e a temperatura amena. Ficámos numa residencial bem no centro de Peniche e daí fomos conhecendo a cidade de pescadores. O peixe óptimo e as caldeiradas que comemos, generosas com peixe fresquinho acabado de chegar da lota, deixaram boas recordações.
Estando em Peniche, não podíamos deixar de ir ao Baleal, que já foi uma pequena ilha, mas agora podemos chegar lá de carro, o que é, diga-se, uma pena. Devia continuar a ser uma ilha, mantendo o espaço recatado de outros tempos. A praia do Baleal é excelente, grande areal, águas calmas. No dizer do escritor Raul Brandão, “a mais bonita das praias portuguesas”.
O nosso destino era conhecer as Berlengas e no dia seguinte, bem cedo, depois do pequeno-almoço, dirigimo-nos ao cais de embarque, já com os bilhetes anteriormente comprados. Um marinheiro começou a distribuir sacos para o enjoo, facto que nos deixou algo apreensivos. A viagem correu muito bem e sem que fosse necessária a sua utilização. A chegada às Berlengas foi muito agradável, pois o cais é mesmo junto da praia do Carreiro. Pequena praia de águas cristalinas e cheia de peixes que tranquilamente vão nadando ao nosso lado sem se assustarem. Nesse espaço, a fauna é muito rica, representada por aves que nidificam unicamente nas Berlengas, como o roque-de-castro, o corvo-marinho e o airo, símbolo da Berlenga e uma das mais pequenas aves marinhas portuguesas.
No século XV estabeleceram-se ali alguns pescadores e mais tarde os monges da Ordem de São Jerónimo criaram um mosteiro que, para além da reclusão devida aos religiosos, pretendia auxiliar as vítimas dos muitos naufrágios que na altura por ali ocorriam.
Logo que saímos do barco, junto ao cais, um casario de cerca de 20 casas de pescadores que aí foram construídas há mais de 70 anos e que eram o apoio à pesca. Caminhamos até ao farol, sempre acompanhados por muitas gaivotas. Pelas 12h, como já tínhamos combinado, fomos num pequeno barco conhecer as grutas da Berlenga Grande. A gruta Furado Grande é a mais impressionante da Berlenga - atravessa a ilha, é como se fosse um túnel natural de 70 metros de comprimento. São dezenas de grutas para explorar em toda a ilha, muitas delas submersas, só acessíveis pelo mergulho. É necessário ser bom piloto para navegar no interior das grutas sem embater nas rochas. O passeio de barco terminou mesmo junto ao forte de São João, construído no século XVII, para evitar a entrada de piratas e corsários.
Visitámos o forte, que também abriga a Associação Amigos das Berlengas. Aí é possível pernoitar, mas a associação Amigos das Berlengas é um grupo muito fechado e é muito difícil conseguir entrar nessa associação e muito mais difícil conseguir lugar para aí ficar alojado.
Regressámos a Peniche, numa viagem tranquila e vendo ao fundo o cabo Carvoeiro envolto em nevoeiro.
Helder Taveira (texto e fotos)