Covid-19: Voos turísticos para “lado nenhum” somam clientes na Ásia-Pacífico

Redução dos voos, por causa da pandemia, leva companhias aéreas na Austrália, no Japão ou em Singapura a recorrerem a aviões comerciais para sobrevoar locais turísticos ou atracções naturais. Bilhetes vendem em poucos minutos.

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Qantas quer construir sobre o sucesso das viagens à Antárctica e organizar mais voos turísticos STEPHEN COATES/Reuters

O mercado das “viagens para lado nenhum” está a ganhar adeptos na região Ásia-Pacífico. Companhias áreas como a Qantas Airways (Austrália), a ANA (Japão), a Singapore Airlines (Singapura) ou a EVA Air (Taiwan) estão a procurar reagir às perdas financeiras resultantes da redução significativa do número de voos, por causa da pandemia, com viagens turísticas que, tendo em conta a procura elevada e a velocidade com que os bilhetes estão a ser vendidos, parecem demonstrar que há muito para explorar neste mercado. 

A ideia é simples: o aeroporto de partida é o mesmo que o da chegada e a viagem implica um percurso mais ou menos circular, em que o avião comercial sobrevoa alguns dos locais turísticos ou atracções naturais mais emblemáticas da região.

Um exemplo recente deste tipo de viagens tem a Qantas como organizadora. A empresa australiana propôs aos seus clientes uma viagem com duração de sete horas, cujo percurso inclui a passagem pelo Uluru, pelas regiões áridas do Outback australiano, pela Grande Barreira de Corais e pelo Porto de Sidney – a cidade que é, ao mesmo tempo, local de descolagem e de aterragem do Boeing 787.

Segundo uma porta-voz da companhia aérea os 134 bilhetes postos à venda no site da Qantas, com preços entre os 787 e 3,787 dólares australianos (cerca de 487 e 2,341 euros, respectivamente), foram vendidos em 10 minutos.
“Sabíamos que este voo seria popular, mas não estávamos à espera que esgotasse em 10 minutos. É, provavelmente, a venda mais rápida da história da Qantas”, assumiu esta quinta-feira a porta-voz.

“As pessoas sentem claramente a falta da experiência de viajar de avião. Uma vez que a procura existe, vamos seguramente organizar mais viagens panorâmicas como esta, enquanto esperamos que as fronteiras reabram”, acrescentou, citada pela Business Insider.

O conceito não é, ainda assim, propriamente novo. A própria Qantas e a Air New Zeland (Nova Zelândia), organizam ou co-organizam, há vários anos, viagens até à Antártica, a Sul da Oceânia.

O fenómeno começou, no entanto, a merecer um maior investimento na região Ásia-Pacífico como resposta das empresas às restrições de viagens e à queda abrupta da procura de voos comerciais, no contexto das medidas tomadas a nível nacional e internacional para conter a propagação do vírus SARS-CoV-2.

De acordo com a Associação de Companhias Aéreas da Ásia-Pacífico, citada pela Reuters, o volume de viagens de avião na região caiu em 97,5%.

Antes da Qantas, a EVA, a ANA ou a Singapore Airlines já tinham entrado no mercado das “viagens para lado nenhum”, como começa a ser referido este tipo específico de iniciativas.

A companhia taiwanesa organizou no mês passado um voo especial para o Dia do Pai e vendeu em menos de 5 minutos todos os bilhetes para uma outra viagem em redor da ilha sul-coreana de Jeju.

Já a ANA recorreu ao Airbus A380 que costumava fazer a ligação entre o Japão e o Havai, organiza voos de 90 minutos dedicados à temática da ilha norte-americana.

Apesar do apoio da generalidade do sector da aviação a este tipo de viagens, as organizações ecologistas da região Ásia-Pacífico têm lançado duras críticas às companhias aéreas, por causa da poluição “desnecessária”.

“[Estas viagens] incentivam as viagens com níveis intensivos de emissões de carbono sem uma boa justificação e são apenas uma medida de emergência que nos desvia do rumo da mudança de políticas e de valores para a necessidade de mitigarmos a crise climática”, reagiu o grupo SG Climate Rally, de Singapura, citado pela Reuters.

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