No coração do Alentejo há Terra Nua, um novo parque naturista
Acaba de abrir por terras de Messejana, Aljustrel, um parque de campismo e caravanismo dedicado a quem gosta da vida a nu. Entre o campo, a piscina e noites perfeitas para ver o céu estrelado promete-se “paz de espírito” para corpos despidos de roupas e preconceitos.
Naturistas “desde muito jovens”, Jorge Coelho, ligado ao turismo e hotelaria, e Helder Rodrigues, profissionalmente ligado à banca mas que também foi aprendendo fisioterapia e cozinha, foram alimentando durante anos o sonho de criarem um “paraíso” para quem gosta de desfrutar da natureza a nu. Afinal, “uma forma de vida”.
O projecto acaba de tornar-se realidade com a Terra Nua, um “parque de campismo/caravanismo naturista e em espaço rural”. Um espaço, sublinham, “onde todos os naturistas/nudistas possam passar uns dias de férias em total relaxamento, sem roupa, em comunhão com a natureza e longe de todo o rebuliço e agitação do dia-a-dia”.
No Alentejo encontraram o espaço que procuravam. Ainda tentaram no Algarve, “mas infelizmente foi impossível”, particularmente pelos “preços estúpidos” para os pontos que identificaram como tendo condições. Foi assim que avançaram pelo Alentejo e encontraram em Messejana (Aljustrel) o que procuravam, mas sem grandes facilidades e muitas demoras: “só para aprovar o projecto na câmara foi um ano, em vez de dois meses” e depois foi necessária a vedação com um muro que levou logo 50 mil euros do orçamento e cortou “algum espaço” disponível no terreno, conta-nos Jorge Coelho.
Entre “entraves burocráticos”, a ausência de qualquer apoio público (nenhuma das candidaturas que fizeram foi aceite, refere o proprietário, fosse Portugal 2020 ou qualquer apoio do Turismo de Portugal) e a chegada da pandemia, somaram-se “dificuldades”. Mas, como diz Jorge, “tinha de ser”, mesmo com a ameaça covid-19 “já não havia volta a dar: com ou sem pandemia, o caminho só pode ser em frente”.
Agora sim, o “paraíso” que Helder e Jorge sonharam toma forma em terras de Messejana – abriu a hóspedes em Agosto. O Parque de Campismo Terra Nua está preparado para acolher uma pequena comunidade: tem capacidade para 89 pessoas e conta com 30 alvéolos com acesso a água, 20 dos quais com acesso a electricidade. Inclui balneários “completamente equipados”, sala de recepção e snack-bar. E acima de tudo, inclui piscina, que colmata a lonjura da praia.
Nesta primeira fase, o parque não oferece ainda muitas sombras naturais, mas essa é uma questão mais de Verão. “É um dos handicaps”, admite Jorge. “Mas no Inverno, as pessoas querem é sol”. De qualquer modo, já estão plantadas muitas árvores, entre os alvéolos e outras zonas. “Oliveiras, nespereiras, jacarandás, árvores de fruto e muitas mais”, enumera Jorge, incluindo também algumas de crescimento rápido, como as paulownias.
Em breve, esperam melhorar as edificações, que são em construção modular, com separação do bar, casa de apoio ao pessoal e serviço de cozinha. Até porque Jorge e Helder querem dedicar-se a tempo inteiro ao seu parque e aqui ficar a viver. “Este não é só um projecto de negócio, é também um projecto de vida”, sublinha Jorge. O que se está para ver, como para todos nós, é como a pandemia irá condicionar os próximos tempos, no caso do Terra Nua com a preocupação acrescida de não poderem chegar ao país os turistas europeus que por cá costumam passar longas temporadas no Outono/Inverno.
Já quanto à reacção dos vizinhos, e contando-se pelos dedos o número de espaços naturistas similares em Portugal, o co-proprietário do parque, que fica a 3km de Messejana, adianta que na zona, “naturalmente”, foram recebidos pela população “com muita curiosidade” e, claro, “muita especulação”. “Mas regra geral temos sido bem aceites e abrimos o parque a todos os residentes que o queriam visitar para verem que aqui não se passa nada de extraordinário, é um parque normal”. A única diferença visível é a óbvia: quem por ali faz férias esquece a roupa e relaxa, com “respeito pela natureza e o silêncio”, “sem incómodos”.
Cereja no topo do bolo: como à volta não há edificações, este é um ponto de “tranquilidade”. Entre o despertar com os passarinhos, o adormecer com os mochos e as corujas, as noites podem ser passadas com os olhos nos céus. “Se apagarmos as luzes e estiver um céu magnífico é de tirar o fôlego. Olhamos para cima e vemos milhões de estrelas”, conta Jorge Coelho. “Isto enche-nos a alma”, é “uma paz de espírito”.
O Terra Nua integra já a rede de alojamentos de parcerias com a Federação Portuguesa de Naturismo, que garante descontos aos associados. Ao centro, a rede inclui o Jardim do Eden, em Ansião (Leiria). A sul, Vila Pura (Tavira), Samonatura (Odemira) e Maral (Marvão). Há outros espaços, como o alentejano Monte Naturista O Barão, em Santiago do Cacém.
Em Portugal, são nove as praias oficialmente naturistas: Praia do Homem Nu (Tavira), Barreta (Faro), Adegas (Odeceixe, ao lado da praia principal), Alteirinhos da Zambujeira do Mar e Malhão de Milfontes (ambas no concelho de Odemira), Salto (Porto Covo, Sines), Meco (Sesimbra), Adiça e Belavista (Caparica, Almada).