Verões cada vez mais quentes deixam uma “ferida profunda” na cobertura de gelo da Terra

A Organização Mundial de Meteorologia alerta para uma “ferida profunda” nas áreas do planeta cobertas por gelo, acelerada pelas alterações climáticas. As consequências incluem a perda de um ecossistema raro e a subida do nível médio das águas do mar.

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Reuters/ILYA NAYMUSHIN

A agência meteorológica da Organização das Nações Unidas (ONU) lembrou que o Verão de 2020 vai deixar uma “ferida profunda” nas áreas do planeta cobertas por gelo, depois de uma onda de calor no Árctico.

Segundo a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), as temperaturas no Árctico estão a subir duas vezes mais depressa em relação à média global, o que provoca a diminuição do gelo marítimo e o consequente colapso de uma importante plataforma de gelo no Canadá.

A porta-voz da OMM afirma estarmos perante um “círculo vicioso”. “O declínio rápido do gelo marítimo, por sua vez, contribui para um maior aquecimento e, por isso, o círculo continua e as consequências não se limitam ao Árctico”, afirmou Clare Nullis, citada pela agência Associated Press, durante uma conferência de imprensa em Genebra.

Em comunicado, a agência meteorológica alertou que nos últimos meses foram estabelecidos vários novos recordes de temperatura, incluindo na cidade russa de Verkhoyansk, localizada na Sibéria a norte da linha do Círculo Polar Árctico, que atingiu os 38 graus Celsius a 20 de Junho.

“Aquilo a que assistimos na Sibéria este ano foi excepcionalmente mau, excepcionalmente severo”, afirmou a porta-voz, referindo uma onda de calor no Árctico, os incêndios florestais na Sibéria, um quase máximo atingido nos baixos níveis de extensão do gelo marítimo e o colapso de uma das últimas plataformas de gelo intactas no Canadá.

No final de Julho, uma área de 81 quilómetros quadrados da plataforma de gelo Milne, no Canadá, desintegrou-se, reduzindo a área total da plataforma em 43%, segundo a agência.

“O Verão de 2020 vai deixar uma ferida profunda na criosfera [as regiões da Terra cobertas por gelo]” lamentou a OMM em comunicado, apontando uma “tendência preocupante” de inundações resultantes de explosões de lagos glaciares, que se estão a tornar “um factor crescente de alto risco em muitas partes do mundo”.

As consequências incluem a perda de um ecossistema raro, a possível aceleração do deslizamento de glaciares em direcção ao oceano e consequente subida do nível médio do mar, e a criação de novas “ilhas de gelo à deriva”. Na próxima semana, a agência meteorológica vai divulgar um relatório do impacto das alterações climáticas na criosfera.