Lídia Jorge dedica prémio de Guadalajara aos escritores da sua geração que não criaram “literatura fútil”
Lídia Jorge é a 30.ª distinguida com o principal prémio da Feira de Guadalajara. Até aqui só tinha sido entregue a um escritor português: António Lobo Antunes.
A escritora Lídia Jorge foi esta sexta-feira distinguida com o Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara de Literatura em Línguas Românicas, no valor de 150 mil dólares (126 mil euros). António Lobo Antunes era até agora o único escritor português na lista de premiados (desde 2008), de que fazem parte outros autores de língua portuguesa como os brasileiros Rubem Fonseca (em 2003) e Nélida Piñón (em 1995).
O prémio será entregue à escritora portuguesa a 28 de Novembro, dia da inauguração da próxima edição do evento que decorre até 6 de Dezembro, segundo comunicado de imprensa divulgado no site oficial desta feira literária mexicana de que Portugal foi o país convidado em 2018, tendo como comissária Manuela Júdice.
Nessa altura, a autora de A Costa dos Murmúrios (ed. Dom Quixote) esteve na feira e participou num dos debates mais emotivos, com a escritora Isabela Figueiredo, onde abordaram a experiência da colonização e descolonização portuguesa a partir das suas obras e percursos pessoais.
O júri, constituído por Mario Barenghi (Itália), Anna Caballé (Espanha), Luminita Marcu (Roménia), Anne Marie Métailié (França), Rafael Olea Franco (México), Javier Rodríguez Marcos (Espanha) y Regina Zilberman (Brasil), valorizou “uma carreira literária marcada pela originalidade e subtileza do seu estilo, por uma independência de padrões e uma imensa humanidade”.
Em videochamada para a conferência de imprensa em Guadalajara, no México, onde o prémio foi anunciado pela professora universitária espanhola Anna Caballé, transmitida em directo nas redes sociais, Lídia Jorge agradeceu muito aos jurados terem lido os seus livros e pensado que poderia estar entre outros premiados que tanto admira. Disse sentir-se muito feliz por pertencer a uma lista de escritores e de obras que são tão importantes para tantos leitores. Lembrou ainda que este prémio tem a particularidade de ser para as línguas românicas, “que são sobretudo línguas que se dizem barrocas e línguas metafóricas" e isso "significa que têm um pensamento diferente”, considerou.
“[Ao receber] este prémio, que tem como patrono inicial Juan Rulfo, que abriu as janelas da imaginação, e que ao mesmo tempo agrega tantos escritores importantes, sinto-me como se entrasse numa Arca de Aliança, entre esta parte da Europa e a América Latina”, acrescentou a autora de Os Memoráveis (Dom Quixote).
Receber o prémio “é uma grande alegria” e a escritora portuguesa quis compartilhá-la com os seus colegas, os escritores portugueses da sua geração que “apostaram na diferença da literatura portuguesa, com uma grande luta”. Recordou alguns desses nomes, como José Saramago, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Nuno Júdice, Ana Luísa Amaral, Almeida Faria, Mário Cláudio, Luísa Costa Gomes, José Tolentino Mendonça, Teolinda Gersão, Hélia Correia e muitos outros que, disse, “não criaram uma literatura fútil, criaram uma literatura diferente, profunda, talvez difícil”. E acrescentou: “Uma literatura que não nos envergonha, pelo contrário, é uma honra. É a eles que dedico este prémio.”
Este ano a organização da feira recebeu 68 propostas, de 18 países, candidatas ao prémio com obras de 55 escritores de sete idiomas (catalão, espanhol, francês, italiano, romeno, português e galego). O nome de Lídia Jorge foi proposto à organização da feira pela Casa da América Latina, refere a agência Lusa, e a autora, nascida há 74 anos em Boliqueime, no Algarve, é a 30.ª distinguida com o principal prémio de literatura da Feira de Guadalajara.
Este prémio já foi atribuído a Nicanor Parra (1991), Juan José Arreola (1992), Eliseo Diego (1993), Julio Ramón Ribeyro (1994), Nélida Piñón (1995), Augusto Monterroso (1996), Juan Marsé (1997), Olga Orozco (1998), Sergio Pitol (1999), Juan Gelman (2000), Juan García Ponce (2001), Cintio Vitier (2002), Rubem Fonseca (2003), Juan Goytisolo (2004), Tomás Segovia (2005), Carlos Monsiváis (2006), Fernando del Paso (2007), António Lobo Antunes (2008), Rafael Cadenas (2009), Margo Glantz (2010), Fernando Vallejo (2011), Alfredo Bryce Echenique (2012), Yves Bonnefoy (2013), Claudio Magris (2014), Enrique Vila-Matas (2015), Norman Manea (2016), Emmanuel Carrère (2017), Ida Vitale (2018) e David Huerta (2019).