Cinema ao ar livre, cozinha regional ou fine dining: Savoy Palace quer seduzir o Funchal
O hotel lançou propostas para todos, hóspedes ou não. No Terreiro há cozinha regional para experimentar. No Alameda um toque mediterrânico e no Galáxia a proposta é de fine dining. Há ainda um chá das cinco e até ciclos de cinema.
Já antes da pandemia que a estratégia de muitos hotéis, de norte a sul do país, passava por abrir os seus restaurantes aos chamados “passantes”, aquelas pessoas que não estão alojadas, mas que gostariam de experimentar uma cozinha diferente, um cocktail no rooftop — no último andar, normalmente com uma vista digna de se recordar —, um menu executivo à hora de almoço ou um brunch ao fim-de-semana. No Savoy Palace, no centro do Funchal, as portas abriram-se aos residentes e tem sido um sucesso, reconhece o director José Pereira.
Sob a batuta do chef Carlos Gonçalves, que chegou em Março de 2019 à Madeira, estão as várias cozinhas do Savoy Palace assim como os seus conceitos. A grande surpresa deste Verão foi o Terreiro, admite o cozinheiro. Aquele é um espaço único e Gonçalves inspirou-se nele para criar uma carta onde a cozinha madeirense, os seus pratos e produtos reinassem, mas sempre com um toque contemporâneo. Sentado à mesa com José Pereira, o chef — com uma carreira que já chegou à maioridade e que passou pelo Ritz Four Seasons, em Lisboa, o Marriott Praia d'El Rey, Óbidos, e o Corinthia Hotel Lisboa — conta como foi aprendendo a conhecer os costumes e a gastronomia madeirense, de maneira a conseguir reflecti-la num lugar tão especial como o Terreiro, que replica a arquitectura das antigas quintas da região. A cozinha de algumas zonas do continente não foi esquecida, salvaguarda o chef, mas foi-lhe dado um twist misturando-a com a local, como por exemplo a massada de peixe e camarão (15 euros) ou a pá de anho de leite assada, cuscuz da Calheta com segurelha no forno e salada fresca da horta (28 euros/2 pax).
A carta do Terreiro é variada, dos petiscos para partilhar — como o Bao de leitão, abacate e cebola roxa (7 euros), Bodião em polme de cerveja (8,50 euros) ou o Carpaccio de polvo, gaspacho com tomate assado, pimentos padrone tostas finas com zeite e alho (9,50 euros) —; aos pratos principais de peixe — o chef apela a que se conheçam os peixes locais como o Peixe-espada em manteiga noisette, rabanetes, milho em caldo de lingueirão à Bulhão Pato (14 euros) ou a Ventrecha de atum grelhada, molho virgem, batata-doce e espargos (13 euros) —; carne e vegetarianos — destaque para o Risotto de lima e vaginha em polme de cerveja (8,50 euros). E como, diz a carta, “a dieta começa amanhã”, as sobremesas não foram deixadas ao acaso. Há Morangos, abacate em calda de manjericão e pessegueiro inglês com sorvete de coco (5 euros); e um Bolo quente de chocolate, amendoim salgado e gelado de banana (7 euros) que chega para dois, mesmo que muito gulosos.
Cinema ao ar livre
Com um relvado e um ecrã que se vê nitidamente do último andar do Savoy Palace, o Terreiro fez umas noites especiais durante a Liga dos Campeões. E nas próximas semanas, o ecrã vai continuar a ser usado mas desta vez para promover três ciclos de cinema, numa parceria com a Nos. Ao todo serão três ciclos entre 25 e 27 de Agosto, 1 e 3 de Setembro, e 8 e 10 de Setembro. Sempre às 21h30. A entrada é livre mas convém reservar até porque o restaurante tem tido filas de espera, uma das razões será pela sua espaçosa esplanada, um espaço que devido à pandemia tem sido mais procurado.
Cada ciclo será composto por três filmes numa escolha do actor Francisco Arraiol, nascido no Funchal em 1990. No Ciclo de Realizadores Norte-Americanos, serão exibidos Silêncio, de Martin Scorsese; Um Dia de Chuva em Nova Iorque, de Woody Allen; e Uma Vida Escondida, de Terrence Malick. O Ciclo de Cinema Internacional dá a conhecer Made In China, de Julien Abraham, Especiais, de Olivier Nakache e Éric Toledano, e Estradas da Vida, de Sebastien Schipper. Por fim, o Ciclo Nuno Lopes permitirá assistir a São Jorge, de Marco Martins, Menina, de Cristina Pinheiro, e Uma Rapariga Fácil, de Rebecca Zlotowki, filmes protagonizados pelo actor português.
Ao domingo é possível experimentar o brunch (a partir de 13,50 euros). Mas, se atravessarmos a rua e entrarmos no Savoy Palace, mesmo junto à piscina de 80 metros, a proposta é para experimentar a cozinha mediterrânica do Alameda, onde a cozinha está bem à vista dos clientes e tem um forno de onde saem pizzas a qualquer hora. Este é um espaço mais descontraído, ao ar livre, e óptimo para comer com crianças, por exemplo. Mais requintado e a pensar em noites especiais, o Savoy tem o Galáxia, no último piso do edifício, e que herdou o nome da mais antiga discoteca do Funchal, que funcionava no antigo hotel de que o Palace herdou o nome e o espaço.
Com entrada autónoma e directa até ao 16.º piso do hotel, ou seja, não é preciso entrar pelo lobby, atravessá-lo e subir no elevador, os clientes podem chegar antes do pôr-do-sol e beber um cocktail no bar. A oferta do Galáxia passa pelo fine dining (com dois menus, um de cinco pratos, 55 euros; outro de sete, 75 euros, sem vinhos; além de servir à carta) como “não existe na Madeira”, assegura o director José Pereira. Às sextas e sábados, a oferta é de comida asiática (a partir de 35 euros), não só japonesa mas também tailandesa e indiana. Mais uma vez, a cozinha está bem à vista dos clientes, a sua maioria mais concentrada na vista sobre o mar e o Funchal do que no vai-e-vem dos jovens cozinheiros.
Mais uma vez, a aposta é nos produtos locais que são submetidos a técnicas mais avançadas de cozinha — Carlos Gonçalves conta que fez formação na área de gastronomia molecular. Por exemplo, como snack o chef Francisco Silva traz à mesa um Chicharro desconstruído e maionese de lima (5 euros); para entrada escolhe um Ussuzukuri de pargo fermentado, manga, abacate e molho ponzu com pimenta da terra e erva caninha (13,50 euros). Para prato principal chega um Carabineiro, arroz carolino com jus da cabeça, algo nori grelhada, gelatina de água de tomate e gengibre (27 euros). Por fim, a sobremesa chama-se Fazenda e é uma mousse de abacate e lima, com gelado de banana e streusel de amendoim (11 euros), mas uma vez, serve perfeitamente para dividir por dois.
“Aqui não há limites”, refere Carlos Gonçalves sobre a cozinha que a sua equipa está a fazer naquele espaço. “Não estou a trabalhar para a estrela Michelin, mas a preparar uma cozinha sustentável e bem-feita”, salvaguarda.
Chá das cinco
Por fim e para quem tiver curiosidade em conhecer o hotel por dentro, com a decoração inspirada no bordado da Madeira e assinada por Nini Andrade e Silva, pode desculpar-se com o Chá da Tarde, essa tradição que os portugueses gostam de reivindicar, lembrando Catarina de Bragança e o seu casamento com Carlos II de Inglaterra. No lobby, todos os dias, entre as 15h e as 18h, a sala compõe-se para receber os convivas.
Com passagem pelo Ritz Four Seasons, em Lisboa, o chef pasteleiro Pedro Campas é o responsável por toda a pastelaria e doçaria mas dedicou os últimos meses a pensar num chá das cinco (a partir de 34 euros, sem champanhe) que fosse um misto de tradição e inovação. À entrada, estão as garrafas de champanhe — a escolha pode recair sobre um Perrier-Jouët rosé ou um Tsarine bruto —, pode optar por ficar junto à janela, num sofá confortável, enquanto a porcelana é disposta sobre a mesa e o menu é-lhe apresentado. Há que escolher o chá e alguns são exclusivos do Savoy Palace.
“Um dos pontos fortes da nossa oferta é a harmonização visual, proporcionada pela panóplia de cores que todo o menu nos garante, assim como a mistura de sabores, brilhos, texturas e técnicas, conseguida no processo de criação do produto final”, descreve Pedro Campas. Além dos tradicionais scones, com ou sem sultanas, que podem ser barrados com manteiga sem sal, com mel ou compotas de fruta; chegam à mesa mini-sanduíches — cinco as variedades: pão de azeitona com queijo e pepino; pão rústico com salada de ovo trufado e agrião; pão de tomate com frango tandoori e um toque fresco de maçã verde; pão de cacau com rosbife e rábano; e muffin de limão com salmão fumado e abacate —; e as sobremesas.
Para começar, o chef sugere a Tartelete de Fruta Fresca, que tem como base uma tarte de creme de pasteleiro; de seguida o Cheesecake de Manga servido com biscuit de pistáchio, creme Filadélfia com manga e uma esfera de manga salteada. Depois é a vez de provar o Éclair de Banana e Doce de Leite com mousse de nata e baunilha e raspa de chocolate. Há um Macaron de Frutos do Bosque com sablé de framboesa e creme de frutos vermelhos entre duas bolachas crocantes, encimado por gel de framboesa, coco ralado e uma pequena folha de ouro. E, por último, Pedro Campas não resiste a deixar uma lembrança dos seus tempos de infância, uma espécie de Ferrero Rocher desconstruído, ou seja, a base é biscuit de cacau e o interior de avelã caramelizada, cremoso de avelã e mousse de chocolate, banhados por uma fina camada de chocolate negro e avelã torrada.
Este chá pode e deve ser partilhado entre amigos, mães e filhas ou avós e netos. Em suma, por quem goste de algum requinte e de provar novas texturas e sabores.
O Fugas esteve hospedado no Savoy Palace a convite do grupo Savoy Signature.