Fortnite expulso das lojas de aplicações da Google e Apple
A dona do Fortnite acusa as empresas de práticas monopolistas e vai lutar contra a decisão em tribunal.
O videojogo Fortnite foi removido das lojas de aplicações da Apple e da Google (a App Store e Google Play, respectivamente) por desrespeitar as regras das empresas e tentar fugir às taxas de pagamento das lojas.
A decisão das gigantes tecnológicas surgiu horas depois de o Fortnite começar a disponibilizar novos modos de pagamento que permitiam aos jogadores comprar “créditos” (dinheiro virtual utilizado para comprar objectos e extras no jogo) directamente no seu site — quem o fizesse tinha 20% de desconto nas compras virtuais. O objectivo era contornar as regras da Play Store e da App Store, que exigem que a Epic Games, dona do Fortnite, pague às duas tecnológicas uma percentagem que vai até 30% das receitas feitas através da aplicação.
O Fortnite acha que a taxa é demasiado alta. Nos últimos anos, o videojogo da editora americana Epic Games (parcialmente detida pela chinesa Tencent), tornou-se um fenómeno global com mais de 250 milhões de jogadores registados e um recorde de 12,3 milhões de pessoas ligadas ao mesmo tempo em Abril de 2020.
Contactado pelo PÚBLICO, a Google sublinha que o Fortnite continua disponível para usar nos telemóveis Android mas que seria injusto para outros programadores manter o jogo na loja online. “Para os programadores de jogos que optam por usar a Play Store, temos políticas consistentes que são justas para os programadores e mantêm a loja segura para os utilizadores”, explica a empresa em comunicado.
A Apple repete a justificação, lembrando que a “Epic tem beneficiado do ecossistema Apple” ao distribuir jogos na App Store durante mais de uma década. “O facto dos interesses comerciais [da Epic] a levarem a insistir num acordo especial não altera o facto de as nossas directrizes criarem condições equitativas para todos os criadores e garantirem que a loja é segura para todos os utilizadores”, lê-se no email enviado ao PÚBLICO.
Epic vai a tribunal. Spotify e Tinder aplaudem
A Epic Games não está de acordo e anunciou que vai opor-se em tribunal numa paródia em que uma maçã trincada surge como um ditador num mundo autoritário e cinzento até que uma das jogadoras de Fortnite parte o ecrã. É uma alusão ao anúncio de 1984 da Apple, inspirado no livro de George Orwell, em que o vilão parecia representar a gigante tecnológica IBM. Para a Epic Games, a Apple transformou-se no grande monopólio que outrora desafiava.
“A remoção do Fortnite é apenas mais um exemplo da Apple a demonstrar o enorme poder que tem para impor restrições que não são razoáveis”, lê-se no comunicado da empresa sobre a Apple, publicado antes de a Google seguir os passos da rival.
Desde então, a Epic Games já preencheu duas acções judiciais em tribunal contra as empresas. “A Epic procura acabar com as acções injustas, monopolistas e anticoncorrenciais”, lê-se no documento referente à Google que diz que as políticas das tecnológicas “prejudicam os fabricantes de dispositivos, programadores e distribuidores de aplicações, empresas que processam pagamentos e consumidores”.
As plataformas Spotify e Tinder elogiam a decisão da Epic Games. Em declarações ao Washington Post, Adam Grossberg, porta-voz da plataforma de música Spotify, diz que a empresa “aplaude a decisão da Epic tomar uma posição” e acredita que a situação vai alertar para o abuso de poder de empresas como a Apple.
Já Vidhya Murugesan, porta-voz do Match Group (dono da app de namoro Tinder) diz que o grupo “apoia por completo os esforços da Epic Games”.
Em Julho, a Google e a Apple foram duas das empresas norte-americanas que tiveram de prestar esclarecimentos no Congresso dos EUA sobre o poder que têm. Uma das questões era a capacidade de monopolizarem o mercado e impedir novas empresas de florescerem nas áreas do comércio, navegação e comunicação online. O Facebook e a Amazon eram as outras duas gigantes visadas.
Além do Fortnite, a Epic Games (avaliada em 17,3 mil milhões de dólares — 14,66 mil milhões de euros) é responsável pelo Unreal Engine, um programa que facilita a criação de videojogos em 3D. Em Julho, a japonesa Sony investiu 250 milhões de dólares na empresa, passando a deter 1,4% das acções da empresa. A chinesa Tencent é dona de 40%.