Ministério Público quer Jesus a testemunhar contra Rui Pinto

Publicação dos detalhes contratuais do ex-treinador do Sporting foi uma das primeiras revelações importantes feitas no site do Football Leaks.

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Rui Pinto terá entrado no email de Jorge Jesus em Julho de 2015 LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O Ministério Público quer o ex-treinador do Sporting e actual treinador do Benfica Jorge Jesus testemunhe em tribunal contra o pirata informático Rui Pinto. No passado dia 6 de Agosto, a procuradora Marta Viegas requereu ainda a audição de outras duas testemunhas ligadas ao mundo do futebol, Paulo Nunes e Filipe Çelikkaya.

Segundo a acusação do Ministério Público, os três homens foram vítimas das alegadas intrusões informáticas do hacker nos servidores do Sporting Clube de Portugal (SCP). De acordo com as perícias efectuadas, Rui Pinto terá acedido ao email do então técnico “leonino” a 21 de Julho de 2015, o mesmo dia em que o terá ainda entrado na conta do ex-presidente do clube, Bruno de Carvalho. Paulo Nunes e Filipe Çelikkaya, técnicos da formação, também terão sido espiados por Rui Pinto.

A publicação dos detalhes contratuais de Jorge Jesus no Sporting – após o treinador ter deixado o Benfica, rival dos “leões” – foi uma das primeiras revelações importantes feitas no site do Football Leaks. Dias antes tinham sido divulgados contratos alegadamente firmados entre o Sporting e o clube angolano Recreativo de Caála, para a transferência de, entre outros, Franco Cervi (que acabaria por assinar pelo Benfica), Danilo Pereira (actual capitão do FC Porto) e Mitroglu (que também passou pelas “águias”).

Porém, várias das personalidades que o MP indicou na acusação não chegaram sequer a apresentar queixa contra Rui Pinto. Entre essas está Jorge Jesus. Aliás, o reduzido número de queixas face às alegações da acusação foi um dos principais argumentos usados pela defesa do hacker no pedido pela redução de crimes. Inicialmente acusado por 147 crimes, o jovem de Vila Nova de Gaia vai responder por 90 delitos, com a juíza de instrução a dar razão ao argumento de que não poderia ser julgado por crimes que não motivaram acusação por parte dos visados.

A libertação de Rui Pinto – que se encontrava em prisão domiciliária, em instalações da Polícia Judiciária – aconteceu este fim-de-semana, apesar da oposição manifestada pela procuradora que vai estar no julgamento, Marta Viegas. A magistrada receia que o hacker fuja do país e continue activo como pirata informático.

Porém, os directores da Judiciária (PJ) e do Departamento Central de Investigação e Acção Penal estão convencidos de que Rui Pinto se regenerou, uma vez que está a prestar auxílio às autoridades em várias investigações. E os seus depoimentos revelaram-se cruciais para o tribunal o colocar em liberdade antes de se esgotar o prazo máximo de prisão preventiva, a 24 de Setembro próximo, 20 dias depois de ter começado o seu julgamento.

A convicção dos responsáveis pela investigação assenta no facto de o pirata informático ter desencriptado material informático que se já encontrava na posse das autoridades, mas a grande parte do qual era impossível aceder sem os respectivos códigos, que estavam na posse de Rui Pinto mas também de uma pessoa da sua confiança, segundo revelou o próprio.

Foi a 30 de Março, às 15h00, em pleno estado de emergência, que o hacker se deslocou às instalações da PJ para proceder à primeira desencriptação. Antes de o fazer leu uma declaração escrita, em que se dizia disponível para ajudar a descobrir crimes graves, desde que os conteúdos a que estava a facultar acesso não fossem usados contra si neste ou noutros processos. Se o Ministério Público quisesse fazê-lo teria de o avisar antecipadamente. Saiu da Rua Gomes Freire meia hora depois, com este acordo cumprido.

Menos de um mês depois, a 24 de Abril, seguiu-se uma segunda sessão de desencriptação. Nesta altura já tinha conseguido passar da prisão preventiva para domiciliária, graças à sua colaboração com a justiça. As últimas desencriptações sucederam a 13 e a 26 de Maio. Segundo o relatório oficial, procedeu à introdução da palavra-chave de desencriptação no computador levado pelo seu advogado , “sem indicar a mesma”. Confirmada a abertura dos ficheiros, estes foram copiados pelos inspectores da Judiciária, que por sua vez os protegeram com uma nova password, guardada depois num envelope selado.

Mas a sua colaboração não se limitou a isto. Um ofício confidencial do director da Judiciária datado de 12 de Junho admite que continua a ser necessária a “participação presencial” do pirata informático “na realização de diligências processuais em investigações em curso”. Ao que o PÚBLICO apurou, essa participação dizia respeito a outros cinco inquéritos, em que era suspeito do mesmo tipo de crimes de intrusão informática. Depois de também aqui ter colaborado com as autoridades viu o Ministério Público suspender provisoriamente estes processos no mês passado.

Entretanto, aquela polícia desmentiu esta segunda-feira notícias que davam conta de ter contratado o hacker para a ajudar: “A PJ não paga a Rui Pinto qualquer vencimento”. No mesmo comunicado, a Judiciária recorda que o facto de Rui Pinto ser arguido não o impede, por lei, de beneficiar do programa de protecção de testemunhas. “Está enquadrado nesta disposição legal, sendo que todas as despesas com a sua protecção estão ao abrigo do programa de protecção de testemunhas”, refere a PJ.

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