Um Portugal de cenários impressionantes

A leitora Maria de Lurdes Gonçalves partilha a sua experiência de viagem pelo Norte do país.

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Sou fraca viajante. Nada de destinos longínquos ou exóticos. As maiores aventuras levaram-me, banco traseiro lotado de crianças, por França fora, entre campos, canais e castelos, rumo a parques de fantasia e à cidade-luz. Num Cinquecento a cheirar a novo confirmei os encantos da Toscana. Dormitei toda a noite no comboio que amanhece na movida madrilena, só para me esquecer do tempo nos museus da cidade. Pouca coisa, como se vê…

Gosto das nossas terras e das suas gentes. O culpado deste plano de viagem foi J. Rentes de Carvalho e Mentiras e Diamantes. Seduziu-me a intensa descrição que o autor faz das andanças de Jorge e Sarah por um Portugal de cenários impressionantes. Eles vinham do Algarve, nós já estávamos mais perto. Ficou decidido seguir o roteiro.

Em Torre de Moncorvo encontrámos a tal quietude de “terra muralhada”. Era Semana Santa. Naquele final de dia, portugueses e espanhóis enchiam o largo junto à escadaria que leva à câmara para as cerimónias e festejos. Descobrir pontos de interesse é fácil, depende apenas do gosto de cada um. A igreja matriz, imponente na praça onde as vielas se encontram, de uma grandiosidade inesperada, pode ser o início da rota do património. A serra do Reboredo e o museu guardam um passado de exploração do ferro.

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Quanta história aqui se cruza! Não esquecemos a amêndoa coberta, produto artesanal a não perder! Para jantar procurámos a Taberna do Carró, tal como Jorge e Sarah. Recebidos como amigos da casa, sem pressas fomos degustando o que nos chegava à mesa. É preciso apenas escolher o prato principal e reservar para evitar contratempos.

Seguindo pelas estradas nacionais 220 e 221 chegámos a Mogadouro. O castelo, provavelmente anterior ao século XII, aparece documentado na doação de Fernão Mendes aos templários. Continuámos pelo IC5 até Miranda do Douro, onde português, mirandês e espanhol se encontram em conversas e escritos num convívio espontâneo.

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À tarde descemos até ao Douro. “O Douro no fundo de um despenhadeiro, de ambos os lados arribas quase verticais, intransitáveis, agrestes, cobertas de vegetação selvagem. Do lado espanhol, o horizonte uma linha recta, sem mostra de relevo, aqui e além uma aldeia. Uns quantos grifos a descrever círculos lentos, voando baixo, curiosos ou desconfiados de ver gente ali.” Destas palavras de J. Rentes de Carvalho nasceu a vontade de descobrir este lugar protegido, deslizando mansamente pelas águas do rio. Lindo!

No regresso procurámos Cerejais. É uma pequena localidade cuja estrada termina num santuário. Do miradouro alcançam-se montes e colinas a perder de vista, imagina-se o oceano e terras de Espanha. As encostas, plantadas de amendoeiras, descem até ao rio Sabor.

Em família, construindo memórias, voltámos no final de Fevereiro deste conturbado 2020, longe ainda de prever a dimensão da pandemia. Era Carnaval e houve caretos no Entrudo chocalheiro em Podence. Espraiámos o olhar pela albufeira do Azibo. Em São Martinho da Anta encontrámos Miguel Torga na arquitectura de Souto Moura. Muito aqui ficou por contar, mas haverá sempre outras palavras que nos levem. E voltámos a Cerejais… Lá estavam elas, as amendoeiras em flor. Deslumbrante!

Maria de Lurdes Gonçalves (texto e fotos)

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