A época mais longa do futebol termina com um Benfica-FC Porto

Final histórica da Taça de Portugal, em Coimbra, à porta fechada, interrompe 36 anos ininterruptos da festa no Jamor. Principais rivais das últimas quatro décadas encontram-se 16 anos depois.

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LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

FC Porto e Benfica não poderiam ter imaginado tempestade tão perfeita para a despedida de uma época indelevelmente tocada pela pandemia do século. Depois de 16 anos a “evitarem” cruzar-se na final da Taça de Portugal, os dois maiores rivais das últimas quatro décadas do futebol português decidem, esta noite, na Coimbra de Sérgio Conceição, num estádio sem o encanto natural da prova rainha, quem fica com a coroa na décima final entre ambos — que poderá servir para acentuar a vantagem de 8-1 dos benfiquistas ou levar os portistas ao 17.º troféu, que há um ano deixou escapar para Alvalade. 

Com o troféu de campeão nacional numa mão, o FC Porto vai querer segurar a Taça de Portugal na outra e alcançar a dobradinha que já não consegue há oito anos. Já para o Benfica, a Taça de Portugal apenas servirá para expiar todos os pecados de uma campanha na I Liga altamente promissora, mas que a Luz viu esfumar-se com a mesma carga dramática com que o “dragão” deixara escapar a anterior.

Por muito que treinadores e jogadores insistam em desvalorizar as influências do passado e das estatísticas, pelo menos quando chega a hora de, verdadeiramente, medir forças e reforçar currículos, o termo de comparação estará sempre presente e será o que as equipas forem capazes de construir ano após ano.

Para Sérgio Conceição, o título de campeão ou a folha imaculada nos duelos com os principais rivais nesta campanha que agora se encerra podem já pertencer ao passado. Mas na memória ainda existirão algumas lembranças das duas finais perdidas ao serviço do Sp. Braga e do FC Porto.

Já na qualidade de adjunto com a incumbência de salvar a honra do convento e de uma equipa duramente atingida no orgulho, Nélson Veríssimo apresenta-se sem nada a perder, mas com muito a ganhar numa final que poderá moldar-lhe o futuro e a carreira como treinador principal, antes da passagem de testemunho para Jorge Jesus.

Em comum nos treinadores, a ambição, crença e motivação para vencer o troféu destacadas por ambos nas respectivas conferências de imprensa, que contaram ainda com Rúben Dias pelo Benfica e Danilo Pereira pelo FC Porto.

Mas para além da possibilidade de o Benfica ampliar para 27 o recorde de Taças conquistadas ou de o FC Porto igualar a marca do Sporting, com 17 vitórias em finais, os dois técnicos jogam o próprio futuro. 

Sérgio Conceição, cuja continuidade no FC Porto pode ser objecto de discussão, estando aparentemente dependente da capacidade de Pinto da Costa evitar uma sangria dos principais valores do plantel, sabe que não pode arriscar mais infortúnios em finais, muito menos decididas nos penáltis.

Daí que a vantagem moral de ter conquistado o campeonato — o segundo em três — não seja suficiente para tranquilizar Conceição. Até porque a pressão aumenta exponencialmente quando o FC Porto passa de um registo de sete Taças de Portugal conquistadas numa janela de 12 anos — entre 2000 e 2011 — para um autêntico deserto nos últimos oito anos, em que não conseguiu melhor do que duas presenças na final e outras duas em meias-finais, não erguendo o troféu desde a passagem de André Villas-Boas pelo Dragão, em 2010/11. Isto, num ano em que os portistas arrasaram em todos os capítulos, excepto na Taça da Liga. Mesmo nesse ano, em que cilindrou (6-2) o V. Guimarães no Jamor, o FC Porto esteve perto de ser eliminado pelo Benfica de Jesus nas meias-finais, depois de uma derrota (0-2) em casa, corrigida com um 1-3 na Luz.

Daí a divisão de favoritismo proposta pelos dois treinadores, sem esquecer que Veríssimo levantou a Taça com a camisola do V. Setúbal frente ao Benfica (2004/05), contrariando qualquer tipo de lógica que o futebol tanto gosta de desafiar.

Um aspecto, contudo, merece ser salientado, pelo seu carácter inédito. É que nunca na história de uma final da grande festa do futebol se jogou num estádio vazio. 

E mesmo tendo as equipas concluído o campeonato sem público nas bancadas, “vacinando” os jogadores para este género de jogo-treino mais a sério, o impacto de um estádio sem alma, a antítese da festa que a Taça encerra, poderá ser determinante na hora de testar a concentração dos jogadores.

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