Depois de dois meses no espaço, cápsula da SpaceX e dois astronautas da NASA preparam-se para regressar à Terra
A Crew Dragon Endeavour começará a preparar-se para partir às 22h15 (de Lisboa) deste sábado, 1 de Agosto. A amaragem no Atlântico está prevista para 19h42 de domingo. A viagem poderá demorar entre seis e 30 horas. Se tudo correr como planeado, a cápsula da SpaceX vai ser certificada para passar a levar astronautas para o espaço, juntamente com a nave russa Soiuz.
Depois de dois meses no espaço — mais precisamente 62 dias — a cápsula da empresa privada SpaceX, que trará dois astronautas da NASA a bordo, vai partir da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) neste sábado. Segundo os planos da agência espacial norte-americana e da empresa de Elon Musk, a Crew Dragon Endeavour começará a preparar-se para partir às 17h15 (22h15 em Portugal continental) deste sábado, 1 de Agosto, com uma “breve cerimónia de despedida na estação”. A largada da ISS só começará duas horas depois, quando forem 00h34 em Portugal.
Já a amaragem no Atlântico, que será o primeiro regresso à Terra de uma nave espacial de construção e gestão privada com tripulantes, está prevista para as 14h42 de domingo — em Lisboa serão 19h42. Depois da amaragem, a cápsula será recuperada de uma das sete zonas de chegada ao oceano Atlântico ou ao golfo do México, na costa do estado norte-americano da Florida.
Este é o voo de teste final da SpaceX e diz a NASA que vai fornecer dados sobre o desempenho do foguetão Falcon 9, da cápsula Crew Dragon, bem como das operações em órbita, acoplagem, amaragem e dos processo de recuperação. O voo também está a ajudar a agência a certificar o sistema de transporte de tripulação da SpaceX para levar astronautas de e para a estação espacial.
“O objectivo do Programa de Tripulação Comercial da NASA é o transporte seguro, confiável e económico de e para a Estação Espacial Internacional. Isto pode permitir mais tempo de investigação e aumentar as oportunidades de descoberta a bordo da plataforma de testes da humanidade, incluindo ajudar a preparar para a exploração humana da Lua e de Marte”, refere a agência espacial em comunicado.
A jornada da Crew Dragon e dos astronautas Doug Hurley e Bob Behnken começou a 30 de Maio quando, à segunda tentativa, foi lançado o foguetão da SpaceX. Este lançamento marcou o início de uma nova era no espaço já que, pela primeira vez, os EUA recorreram a uma empresa privada para colocar astronautas em órbita. “Foi feita história”, como descreve a NASA. Depois de um lançamento adiado pelo mau tempo (e de um acidente num outro projecto da SpaceX), o foguetão Falcon 9 partiu da plataforma 39 do Centro Espacial Kennedy, na Florida, nos EUA, às 20h22 (hora de Portugal continental). Depois de uma viagem de 19 horas, a cápsula acoplou à Estação Espacial Internacional e, mais de três horas depois, os astronautas entraram na ISS.
Durante a sua estadia, o par de astronautas fez algumas caminhadas espaciais de manutenção da ISS e ficou de olho na “saúde” da Dragon, mas concentrou-se sobretudo na sua viagem de regresso. Doug e Bob estão agora prontos para deixar os colegas Chris Cassidy (NASA), Anatoly Ivanishin e Ivan Vagner (cosmonautas russos que vão continuar a bordo da estação) e regressar à Terra.
Seis a 30 horas de viagem
As sete zonas de aterragem na costa de Pensacola, Tampa, Tallahassee, Cidade do Panamá, Cabo Canaveral, Daytona e Jacksonville estão prontas para receber a cápsula. E como é escolhida a zona de aterragem, se existem sete possíveis hipóteses? “Os locais de aterragem são seleccionados usando prioridades definidas, a começar com a selecção de uma data e hora de partida da estação com o número máximo de oportunidades de regresso em locais geograficamente diversos para proteger contra possíveis mudanças do tempo. As equipas também dão prioridade a locais que requerem menor tempo entre desacoplagem e amaragem com base na mecânica orbital”, lê-se no site da NASA.
O tempo que a viagem de regresso demorará vai depender precisamente no local de aterragem escolhido, mas a NASA estima que todo o processo poderá levar entre seis e 30 horas.
Existirão duas pequenas ignições no motor imediatamente depois de os ganchos que mantêm a Dragon anexada à ISS se retraírem para separar a cápsula da estação. Quando estiver em voo livre, a cápsula executará de forma autónoma quatro ignições de partida para se afastar da estação e iniciar o voo para casa. Várias horas depois, outra ignição, com a duração de cerca de seis minutos, colocará a cápsula no caminho orbital certo para alinhá-la com a zona de amaragem.
Pouco antes desta última ignição, a Dragon separa-se do seu “tronco”, que se incendiará na atmosfera da Terra. Antes da reentrada na atmosfera, a nave viajará a cerca de 27.500 quilómetros por hora e estará a uma temperatura de 1926 graus Celsius. Já na Terra (ou antes, no mar), Doug e Bob serão recebidos em vários navios por engenheiros, especialistas treinados em recuperações em água, profissionais de saúde, especialistas em carga da NASA e outros funcionários que ajudarão no “resgate”.
O processo é muito parecido ao da recepção de astronautas que estiveram durante longos meses na estação e que regressam a casa na Soiuz, a nave russa que até aqui transportava “passageiros” até à ISS e que costuma aterrar no Cazaquistão. “Espera-se que todo este processo demora aproximadamente 45 a 60 minutos, dependendo das condições do mar e da nave espacial”, diz a agência espacial. Já na costa, os dois membros da tripulação embarcarão imediatamente num avião para Houston, no Texas, onde fica o Centro Espacial Johnson da NASA.
E o que acontecerá à Dragon? Será devolvida à base da na Florida (a SpaceX Dragon Lair) para inspecção e processamento. As equipas vão examinar os dados e o desempenho da nave durante o voo de teste para concluir a sua certificação. O processo de certificação, que deverá demorar cerca de seis semanas, será importante para cumprir a missão de “comercializar o espaço”.
Se tudo correr como planeado, depois dessas seis semanas a cápsula realizará a sua primeira missão operacional: levará o comandante Michael Hopkins, o piloto Victor Glover, a especialista em missões Shannon Walker (todos da NASA) e Soichi Noguchi (também especialista em missões) da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA) para uma missão de seis meses na Estação Espacial Internacional.