O coronavírus paira no ar? E nas superfícies? As novas indicações da OMS sobre a transmissão da covid-19
A Organização Mundial de Saúde actualizou esta quarta-feira o guia sobre as formas de transmissão da covid-19, na qual reconhece que é possível haver contágio por aerossóis (gotículas tão pequenas que pairam no ar). É urgente desenvolver mais investigação sobre o tema, diz a OMS.
A Organização Mundial de Saúde publicou esta quarta-feira um novo guia sobre o que já é conhecido sobre as vias de transmissão do novo coronavírus. O documento tem por base várias investigações que têm sido realizadas em relação às diferentes formas de transmissão possíveis da covid-19 e reforça que é urgente desenvolver mais investigação para melhor entender o vírus SARS-CoV-2 e como conter a sua transmissão, delineando algumas áreas-chave em que focar a pesquisa e como os resultados ajudarão a informar e aconselhar as populações.
Qual é a forma mais comum de transmissão?
As evidências científicas sugerem que várias vias podem levar ao contágio, mas que a principal via de transmissão é o contacto directo entre pessoas. A infecção transmite-se normalmente através de secreções da boca e do nariz, saliva ou gotículas projectadas quando uma pessoa fala, espirra ou tosse.
Por isso, é importante manter o distanciamento de pelo menos um metro entre as pessoas e a manutenção de uma higiene frequente das mãos, bem como da etiqueta respiratória. Para garantir uma maior segurança, a OMS volta a recomendar a utilização de máscara.
O vírus pode ser transmitido pelo ar?
Os estudos realizados até agora ainda não permitem saber se o vírus se transmite pelo ar através dos chamados aerossóis (gotículas tão pequenas que pairam no ar), mas a comunidade científica avisa que esta é uma forte possibilidade. As evidências científicas levaram a que mais de 230 cientistas tenham assinado esta semana uma carta dirigida à OMS, na qual pedem a revisão das recomendações quanto à transmissão pelo ar, defendendo que há provas de que este tipo de pequenas partículas pode infectar pessoas em espaços fechados e mal ventilados. Perante a incerteza, a OMS avisa que estes aerossóis podem manter-se suspensos no ar por longos períodos de tempo e que, caso a pessoa que os liberta esteja infectada, estas pequenas gotículas podem conter vestígios do vírus.
O documento dá o exemplo de alguns procedimentos médicos que produzem estes aerossóis, podendo estes ser inalados por outras pessoas caso não estejam a ser utilizados equipamentos de protecção (máscaras com capacidade para impedir a sua inalação). Além disso, acções como tossir e falar também podem gerar alguns aerossóis que continuam no ar durante períodos prolongados de tempo. Estas pequenas gotículas suspensas no ar já foram encontradas em amostras recolhidas em locais, nomeadamente em clínicas ou consultórios em que são realizados procedimentos médicos anteriormente referidos, mas a OMS admite que não se sabe ainda se as quantidades detectadas são suficientes para infectarem uma pessoa.
Tendo em conta que foram identificados surtos de covid-19 em alguns espaços fechados como restaurantes e discotecas (os chamados “eventos de supercontágio"), locais nem sempre bem ventilados em que as pessoas libertam gotículas, a transmissão por aerossóis “não pode ser excluída”. “São necessários, urgentemente, mais estudos para investigar esses casos e avaliar o seu significado para a transmissão da covid-19”, avisa a OMS no documento.
Posso contrair o vírus através de gotículas presentes em superfícies?
Pessoas que estejam infectadas podem deixar gotículas em objectos ou superfícies (os fómites) ao espirrarem, tossirem ou contactarem fisicamente com estas. Os estudos têm mostrado que é possível encontrar em superfícies amostras completas do vírus e do seu RNA, aí se mantendo durante horas ou dias.
Assim, a OMS considera que “pode ocorrer transmissão indirecta” através do contacto com superfícies contaminadas por uma pessoa infectada, seguido de contacto com a boca, o nariz ou os olhos. Apesar de “não existirem relatos específicos que tenham demonstrado directamente transmissão por fómites”, a OMS entende que esta via de contágio é “provável”, tendo também em conta que outros coronavírus e vírus respiratórios podem transmitir-se desta forma.
Os doentes sem sintomas podem transmitir o vírus?
Com base no que é conhecido do vírus, a transmissão do coronavírus ocorre principalmente de pessoas que apresentam sintomas, mas a covid-19 também pode ser contraída a partir de doentes assintomáticos quando existe contacto próximo e prolongado sem que sejam tomadas medidas de protecção individual.
A possibilidade de contágio através de doentes sem sintomas é mais uma razão para a necessidade de haver uma grande quantidade de testes e de isolamento dos casos confirmados de doença, independentemente da gravidade dos sintomas.
A OMS avisa, no entanto, que “ainda não é claro até que ponto isto ocorre e é necessária mais investigação nesta área”.
Quais são os próximos passos na investigação do novo coronavírus?
Todos os dias são publicados mais estudos e conclusões sobre o SARS-CoV-2 e a covid-19, mas ainda há muitas incógnitas quanto à transmissão da doença. A OMS apela a um “grande esforço das equipas e redes de investigação de todo o mundo” para abordar estas questões ainda sem resposta, de forma a perceber:
- As diferentes vias de transmissão, através de gotículas de diferentes tamanhos, contacto físico, contacto com superfícies e objectos, assim como o papel da transmissão pelo ar na ausência de procedimentos que gerem aerossóis;
- A quantidade de vírus necessária para que se dê o contágio;
- As características das pessoas e situações que facilitam os eventos de supercontágio, já observados em alguns locais fechados;
- A percentagem de pessoas infectadas que permanecem assintomáticas durante todo o período da infecção;
- A quantidade de pessoas verdadeiramente assintomáticas que transmitem o vírus a outras pessoas;
- Os factores específicos que levam à transmissão assintomática e pré-sintomática;
- Qual a percentagem de infecções transmitidas por indivíduos assintomáticos e pré-sintomáticos.
Saber a resposta a estas questões é importante para “entender a melhor maneira de prevenir a infecção” e mitigar “a propagação do vírus nas populações”, reforça a OMS.