Covid-19: Investigador sul-africano quer mais ensaios clínicos feitos em África

A vacina da Universidade de Oxford irá ser testada em duas mil pessoas na África do Sul, estando também em ensaios clínicos no Brasil e nos Estados Unidos.

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A vacina em desenvolvimento pela Universidade de Oxford Reuters

O investigador principal para a vacina para a covid-19 na África do Sul defendeu esta quinta-feira a importância de fazer ensaios clínicos em África que permitam perceber a eficácia e os riscos de vacinas para a população do continente.

“Menos de 2,5% dos ensaios clínicos feitos globalmente envolvem África, onde está 17% da população mundial. Não há estudos clínicos suficientes feitos em África que permitam perceber como as terapêuticas, incluindo as vacinas, funcionam no contexto africano”, disse Shabir Madhi.

O médico, que é investigador principal na África do Sul do ensaio clínico para a vacina para a covid-19 da Universidade de Oxford, falava numa conferência promovida pelo escritório para África da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Confrontado com os receios das populações de que os africanos possam vir a ser usados como cobaias na investigação médica, nomeadamente de uma vacina para a covid-19, Shabir Madhi sublinhou que a preocupação deve ser a falta de estudos realizados localmente e que têm atrasado em anos e às vezes décadas a chegada de vários medicamentos e vacinas ao continente.

“Há muito pouco incentivo financeiro para a realização destes estudos em África. Por isso, a discussão tem de ser sobre a inexistência de estudos suficientes que nos informem sobre quão eficazes serão estas terapêuticas no contexto local”, sublinhou.

A directora da OMS África, Matshidiso Moeti, considerou fundamental estabelecer princípios para a participação das populações e cientistas africanos nos ensaios clínicos para “assegurar que são feitos de acordo com os mais altos padrões internacionais”.

“Temos de garantir que as populações entendem que há sistemas instalados nos países africanos, que estão a ser tomadas precauções e que as agências reguladoras estão cada vez mais desenvolvidas”, disse. “É a nossa responsabilidade informar o público para garantir às pessoas que fazer parte destes estudos é uma vantagem para nós. É extremamente importante que estas ferramentas sejam testadas nas populações africanas para percebermos como é a interacção e como podemos beneficiar delas.”

Matshidiso Moeti sublinhou, por outro lado, que as populações que participam nos ensaios têm acesso a esses medicamentos, adiantando que no caso da vacina do ébola, “a grande relutância” inicial das populações deu lugar a “um grande interesse” em participar nos estudos. “Ao fazerem-se os ensaios em África, poderiam perceber com mais precisão a eficácia e os eventuais riscos dos medicamentos para as populações africanas”, disse.

A África do Sul é o único país africano a participar no ensaio clínico para uma vacina para a covid-19 e, segundo Shabir Madhi, foi o país que manifestou à Universidade de Oxford vontade de integrar o ensaio, que será financiado pelas autoridades sul-africanas.

O estudo, que começou há duas semanas, pretende envolver dois mil participantes, com idades entre os 18 e os 65 anos, e o investigador acredita que será possível ter uma vacina pronta para comercialização no primeiro trimestre de 2021.

A mesma vacina da Universidade de Oxford está em ensaios clínicos no Reino Unido, Brasil e nos Estados Unidos.

“Vamos precisar de biliões de doses da vacina e o grande desafio é perceber como é que as empresas vão ser apoiadas para aumentar a produção da vacina e, ao mesmo tempo, torná-la acessível para todos os países, incluindo os países em desenvolvimento”, disse Shabir Madhi.

Matshidiso Moeti adiantou que há vários países africanos com capacidade para a produção de vacinas, incluindo a África do Sul e o Senegal, e sublinhou a necessidade de África se preparar para produzir a vacina quando esta estiver disponível. “Uma vacina para a covid-19 será um bem público. Assegurar que chega a todos que dela precisam vai requerer sistemas de saúde fortes e solidariedade global.”

O número de mortos em África devido à covid-19 subiu esta quinta-feira para 12.206, mais 251 nas últimas 24 horas, em cerca de 522 mil casos confirmados de infectados, segundo os dados mais recentes sobre a pandemia no continente. De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana, o número de infectados subiu em mais 14.018 nas últimas 24 horas, enquanto o número de recuperados é esta quinta-feira de 254.361, mais 9293.