Património da UNESCO há um ano, Bom Jesus tem novo espaço museológico
Mesmo com o turismo em baixa, a Confraria do Bom Jesus do Monte inaugurou uma exposição de objectos litúrgicos no coro alto e na torre sineira da basílica, para assinalar o primeiro aniversário da elevação do santuário a património cultural mundial.
O sino voltou a repicar numa das torres da Basílica do Bom Jesus para comemorar o primeiro aniversário da elevação a património cultural mundial de todo o complexo arquitectónico e paisagístico na encosta do Monte do Espinho, em Braga, constituído ainda por três escadórios, com 573 degraus no total, capelas, funicular e 26 hectares de mata. Para assinalar a distinção atribuída em 07 de Julho de 2019, no encontro da UNESCO decorrido em Baku, no Azerbaijão, a Confraria do Bom Jesus do Monte abriu ao público o coro alto e a torre sineira da basílica na manhã quente desta terça-feira. “Quisemos qualificar ainda mais a visita de quem vem ao Bom Jesus, seja qual fora a sua condição, peregrino ou turista”, realçou Varico Pereira, o secretário da entidade responsável por gerir aquele espaço.
Aqueles espaços, transformados em espaço museológico graças a uma requalificação avaliada em 30.000 euros, que durou “três a quatro meses”, expõem agora vários objectos litúrgicos associados àquele templo católico, projectado pelo arquitecto bracarense Carlos Amarante e erigido entre 1784 e 1811, acrescentou o responsável pela candidatura bem sucedida a património mundial.
As “peças mais valiosas”, indicou, são um pedaço da cruz de Cristo – também designado “santo lenho” -, uma custódia (peça utilizada para expor a hóstia durante uma eucaristia) e um píxel (o recipiente onde se guardam as hóstias). Os objectos estavam guardados num cofre com três fechaduras. “Cada chave estava com uma pessoa diferente: o reitor, o presidente da Confraria e o secretário. A ideia era que se pudesse abrir o cofre só quando as três pessoas estivessem presentes”, contou ainda Varico Pereira.
Já a reabertura da torre sineira dá a quem a visita uma nova perspectiva sobre a cidade de Braga e visa conservar o “património imaterial do toque dos sinos”, esclareceu Varico Pereira. Qualquer visitante pode entrar na basílica e subir à torre, mediante o pagamento de um euro, e pode até tocar o instrumento na companhia de um sineiro, caso esteja disposta a gastar mais algum dinheiro.
A fruição do núcleo museológico está, porém, condicionada pela covid-19. As visitas guiadas ao Bom Jesus do Monte são agora “marcadas antecipadamente” e o turismo caiu a pique, depois da intensificação sentida entre Julho e Setembro de 2019, com cerca de 5.000 pessoas a circularem por ali diariamente. “Estamos a falar de uma quebra muito significativa de procura de visitantes, na ordem dos 70%. Isso causou uma redução da receita, que nos obriga a priorizar alguns investimentos e a colocar outros em stand by”, assumiu Varico Pereira.
Reorganizar espaço para ter menos carros
A recuperação do turismo não é o único desafio que a Confraria do Bom Jesus do Monte enfrenta; é também primeiro apresentar à UNESCO o primeiro relatório de avaliação do bem classificado, até Janeiro de 2021. Esse documento deve conter, por exemplo, o “inventário exaustivo de todas as espécies vegetais da mata”, que são mais de 100; umas autóctones, como o carvalho e a tília, outras exóticas, com a sequoia e o plátano, adiantou o responsável. A instituição pensa também apresentar o projecto de requalificação da zona adjacente ao apeadeiro do funicular; o objectivo é reduzir o fluxo de carros no local através da criação de percursos pedestres por toda a extensão do santuário. “O projecto está pensado para desmobilizar as pessoas desta área e dar-lhes a conhecer outras”, esclareceu Varico Pereira.
A requalificação dos acessos ao Bom Jesus, em parte sob a tutela da Infra-Estruturas de Portugal (IP), é um desígnio que o presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, quer ver concretizado o quanto antes. “Há uma zona em que os autocarros têm dificuldades de atravessamento e já ficaram literalmente encravados, sem conseguirem passar. Esperamos que a dificuldade possa ser corrigida”, disse o autarca, frisando ainda que a IP nem sempre limpa a vegetação que obstrui os acessos.
Também presente na comemoração do primeiro aniversário do Bom Jesus como património mundial, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, realçou que o santuário de ser um espaço de “manifestações culturais”, como concertos e exposições, mas também um lugar de reflexão sobre a sociedade, acolhendo, por exemplo, congressos sobre temas vários. “Esta riqueza cultural que a UNESCO nos solicita também pode passar por espaços para reflectir, para motivar a sociedade a ser mais justa, mais alicerçada em valores e mais respeitadora da natureza”, sugeriu.