Mercedes e Hamilton enfrentam ano de recordes com Schumacher, Senna e Ferrari na mira
A época 2020, com todas as alterações — previstas e imprevistas — poderá ainda oferecer uma perspectiva de união nas pistas.
Apesar da “bolha” gerada para mitigar qualquer interferência do novo coronavírus, estratégia idealizada para isolar equipas e pilotos numa espécie de circuito fechado, o regresso da Fórmula 1 pretende ser muito mais do que uma fria e obsessiva corrida contra o vírus. Mesmo perante a possibilidade histórica de superar um punhado dos mais relevantes recordes, o hexacampeão Lewis Hamilton e a Mercedes — vencedora dos últimos seis mundiais de construtores — surgem activamente dedicados à luta contra outra pandemia... a do racismo.
De Hamilton, voz sonante nesta batalha, ninguém esperava menos dedicação do que a demonstrada pelo britânico, que já “contagiou” os outros 19 pilotos, esperando-se um gesto mais abrangente antes do Grande Prémio de domingo. Mas a Mercedes, apoiando incondicionalmente Hamilton, não ficou para trás, abdicando dos tons de prata para apoiar o movimento anti-racista com um bólide totalmente preto, impulsionado por um motor que promete alimentar as ambições da equipa.
Tudo num ano decisivo, tanto para Lewis como para os “flechas de prata”, já que as restrições orçamentais e regulamentares para 2022 prometem nivelar a concorrência, algo que tem faltado nos últimos anos.
Assim, caso se confirme a superioridade já patenteada pela Mercedes nos testes de pré-época, em Barcelona, poucos duvidarão da capacidade para derrubar não só os rivais como os principais recordes... de Michael Schumacher, que Lewis Hamilton espera poder igualar em número de Mundiais conquistados, enquanto candidato ao hepta.
Para tanto, numa época que começa em território da Red Bull, onde Max Verstappen tem sido feliz, Hamilton precisa, essencialmente, de manter a média de nove vitórias por época que mantém desde 2013. A confirmar-se o mesmo nível de desempenho, o britânico superará as 91 vitórias (faltam sete) em Grandes Prémios do alemão.
Tal significaria que a Mercedes teria, depois da Ford-Cosworth (entre 1968 e 1974), sete campeões do mundo em anos consecutivos… para além de, nessa perspectiva e em condições normais, poder deixar, com sete campeonatos seguidos, a Ferrari para trás no duelo de títulos de construtores, que repartem neste momento.
A suspensão do Mundial, cujo calendário cumpriria este fim-de-semana o 11.º Grande Prémio da temporada 2020, obriga a esperar pelas cenas dos próximos capítulos. Em matéria de recordes, Hamilton esperava, nesta altura, já ter superado a marca que reparte com Ayrton Senna, de 19 Grandes Prémios liderados de início a fim, depois de em 2019 ter cometido a proeza na China, Espanha, Mónaco, França e Emirados Árabes Unidos.
Da mesma forma, teria igualmente somado, muito provavelmente, mais do que os 155 pódios de Schumacher, já que o inglês conta 151, conseguidos com menos 42 corridas do que o alemão.
Praticamente garantida, pois depende apenas da presença à partida para cada Grande Prémio, seria a liderança de Kimi Räikköinen (Alfa Romeo) no que diz respeito ao número de GP disputados. Detentor da volta mais rápida em Spielberg, o finlandês somaria na Áustria 323 presenças, mais uma do que o brasileiro, já retirado, Rubens Barrichello.
As estatísticas oferecem, em 2020, outros atractivos que tornariam fastidiosa uma análise mais completa. Entre as quais a última possibilidade de o mundo poder, realisticamente, ter um campeão mais jovem do que o alemão Sebastian Vettel, que em 2010 venceu o primeiro de quatro títulos com 23 anos e 134 dias de idade. Tarefa apenas ao alcance de Max Verstappen (o mais jovem vencedor de um GP) e de Charles Leclerc (mais jovem a ganhar um GP na Ferrari), ambos com 22 anos, já que dificilmente o campeão de 2020 não sairá da Mercedes, Red Bull ou Ferrari.
De resto, a avaliar pelas declarações do chefe técnico da Mercedes, James Allison, o confinamento acabou por produzir um carro mais rápido, essencialmente pelo tempo que a equipa pôde dedicar ao desenvolvimento, ainda que os pilotos sintam a falta das pistas e da sensação real que eleva a adrenalina e apura o instinto. Especialmente numa época atípica, com uma dança de pilotos anunciada para 2021, que promoverão lutas internas ainda mais intensas.
Vettel terá a última oportunidade de vencer na Ferrari, com Leclerc a querer garantir o papel principal antes da chegada de Sainz. Mas no final, certa parece ser a liderança de Hamilton.