Jamaica, Azambuja, Banco Alimentar: os pobres da covid-19 e a nossa hipocrisia
Isto de aguentar o confinamento depende muito da qualidade do sofá, da velocidade da internet e da variedade do que há no frigorífico. Para os jovens do Bairro da Jamaica e do vizinho Santa Marta é menos suportável do que para a burguesia do teletrabalho onde me incluo.
Um dos meus livros de economia preferidos chama-se “The Economics of Poverty” e foi escrito por Martin Ravallion, um estudioso da pobreza e antigo diretor do departamento de investigação do Banco Mundial. Ravallion começa logo nas primeiras páginas com a pergunta “Porque existe pobreza?” e explica que existe uma longa tradição intelectual de culpar as mulheres e homens pobres pela sua condição, atribuindo-lhes estereótipos como o de serem preguiçosos, irracionais, incapazes de gerir a sua vida. Esta velha tradição intelectual de separar o mundo entre “nós” e “eles” reflete-se na organização da sociedade e da economia e, infelizmente, uma parte destes estereótipos sobreviveram até ao dia de hoje no nosso subconsciente coletivo. Vem isto a propósito da crise causada pela pandemia. Raramente na história recente a separação entre os privilegiados e os destituídos foi tão crua.
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