Centeno: “Proposta franco-alemã é um grande passo para uma união orçamental”

Mário Centeno deu uma entrevista ao semanário alemão Welt am Sonntag na qual destaca o plano de 500 mil milhões apresentado por Merkel e Macron. Mandato na presidência do Eurogrupo está a chegar ao fim, com o ministro português a afirmar que irá comunicar “nas próximas semanas” se vai recandidatar-se.

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Mandato de Centeno na presidência do Eurogrupo acaba a 13 de Julho LUSA/PATRICIA DE MELO MOREIRA HANDOUT

A proposta franco-alemã para a recuperação da União Europeia, no valor de 500 mil milhões de euros, através da emissão de dívida por parte da Comissão Europeia com garantias dos 27 Estados-membros é, para Mário Centeno, “um grande passo para uma união orçamental” e para “um correcto funcionamento da união económica e financeira”. “Todos os europeus”, defende, “beneficiam de uma maior integração como essa”.

Em entrevista à edição de domingo do alemão Die Welt publicada hoje, o presidente do Eurogrupo sublinha que este mecanismo é “temporário”, mas realça a sua importância para a Europa, acrescentando que “qualquer proposta feita pela Alemanha e pela França é um dinamizador de convergência e união na Europa”.

A iniciativa anunciada na passada segunda-feira por Angela Merkel e Emmanuel Macron é, diz, “uma parte fundamental” da resposta europeia à crise provocada pelo surto de covid-19, que permite “proteger o mercado único na fase de recuperação”. Os dois líderes, afirma Centeno na entrevista que concedeu na quinta-feira, “souberam perceber o que estava em jogo e a forma tão próxima como a crise afectou as pessoas na Europa”.

Além dos recursos financeiros já colocados em campo, seja a nível nacional, europeu ou por parte do BCE, o presidente do Eurogrupo destacou ainda que a proposta franco-alemã se destaca por ir ao encontro do problema do excesso de endividamento ao propor uma emissão conjunta de dívida cujo período de reembolso por ser de “20, 25 ou até 30 anos”.

Vai sempre haver, frisou, um aumento das dívidas, mas a questão é a forma como isso será gerido. E diz que o crescimento do endividamento é um fenómeno temporário, não o resultado de vários anos de acumulação de dívida, como no passado.

Os 500 mil milhões de euros, a que se soma o dinheiro do orçamento europeu para os próximos anos e que será adiantado, são “enormes estímulos que vão acelerar fortemente a recuperação económica”. Os níveis de endividamento, acredita, deverão começar a reduzir-se já no próximo ano e, no final de 2022, “a maior parte, ou talvez todos, dos países da U.E. vão voltar aos níveis do PIB que tinham em 2019”. São dois anos perdidos em termos económicos, mas, sublinha, isso mostra que “esta crise não é o fim do mundo”, acreditando numa “recuperação relativamente rápida”.

A entrevista ao presidente do Eurogrupo surge poucos dias antes da Comissão Europeia apresentar a sua proposta para o fundo de recuperação (quarta-feira), que terá depois de ser votado no Conselho Europeu pelos 27 Estados-membros. Para já, sabe-se que a Holanda, Finlândia, Dinamarca e Áustria colocam resistência à ideia de dívida comum, mesmo por via de um mecanismo temporário, criado para responder à covid-19.

Inquirido sobre as visões distintas, Centeno responde de forma cautelosa, falando apenas de “diferentes sensibilidades” e que a proposta franco-alemã é já uma “tentativa de criar pontes de entendimento”, tendo a esperança de que haja um acordo, pelo menos sobre as linhas gerais, antes do Verão. Não deixa, no entanto, de afirmar que será “uma negociação complicada” no seio do Conselho Europeu.

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