Prémios no Novo Banco: uma economia assim mata mesmo
Por respeito para com os milhares de portugueses que perderam a totalidade ou parte dos seus rendimentos, apelo a que estes “prémios” sejam dispensados em nome da justiça social e da solidariedade – a mesma que o povo português foi obrigado a ter para viabilizar o dito banco.
O país está a confrontar-se com uma inesperada e muito difícil crise económica e financeira. Tudo indica que se irá agravar nos próximos meses e poderá ter uma duração imprevista, dada a sua extensão geográfica ser de ordem mundial. Esta situação acarretou, inevitavelmente, uma nova crise social cujas proporções se revelam muito preocupantes por, rapidamente, terem manifestações agressivas, quer em quantidade, quer nas necessidades primárias que um cada vez maior número de nossos concidadãos não consegue satisfazer.
Há uma parte significativa da população portuguesa, para além das já mais de 17% que vivem na condição de pobres, afetada por carências extremas tão elementares como o acesso à alimentação, não tendo possibilidades financeiras de assegurar, sequer, as três refeições fundamentais a toda a família. Além disso, tornou-se escassa a possibilidade de dispor de rendimentos pecuniários que consigam manter o pagamento das rendas de casa que, para muitos, têm preços desproporcionais aos salários auferidos, assim como o acesso a outros bens que são indispensáveis a uma subsistência dignamente básica como água, gás e eletricidade.
Tudo isto, porque um número impensável de trabalhadores e trabalhadoras viram, inesperadamente, diminuídos os seus salários.
Muitos outros ficaram sem trabalho e outros mais estão na iminência de que lhes aconteça o mesmo. A maioria destes e de outros, diante da predominância de salários baixos, não conseguiram fazer poupanças para poderem enfrentar, com gradualismo, a súbita situação de carência socioeconómica.
Quem vive nesta situação, assim como quem acompanha pessoas na procura dolorosa de meios para suprir parte das dificuldades que está a viver, não pode ficar indiferente e até mesmo deixar de manifestar a sua indignação, ao saber que o Novo Banco tem destinados dois milhões de euros para premiar a gestão dos membros executivos do seu conselho de administração. Um banco que, mesmo herdando só os “bons ativos”, nunca deixou de acumular milhões e milhões de prejuízos suportados, por enquanto e em larga medida, pelo dinheiro dos contribuintes.
Mesmo que fosse qualquer outro banco, uma opção deste tipo, particularmente num tempo de tão grandes constrangimentos financeiros, seria sempre expressão de uma falta de sentido ético na construção do bem comum. Mais indecoroso se torna quando se trata, de facto, de uma instituição bancária que tem sobrevivido, para absorver os seus reiterados prejuízos acumulados de milhares de milhões de euros, à custa dos impostos de milhares e milhares de trabalhadores que, mesmo com salários de miséria, também produzem muito e em condições, por vezes, muito mais adversas para a saúde e a conciliação com a vida familiar.
Por respeito para com os milhares de portugueses que perderam a totalidade ou parte dos seus rendimentos, apelo, na minha condição de simples cidadão, a que estes “prémios” sejam dispensados em nome da justiça social e da solidariedade; a mesma que o povo português foi obrigado a ter para viabilizar o dito banco e os postos de trabalho que, assim, se conseguiram salvar.
Parafraseando o Papa Francisco, a concretizarem-se estas situações, estamos perante uma economia que mata mesmo.
Nota: esta reflexão vincula apenas o seu autor e não a instituição
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico