Trabalhadores da Cervejaria Galiza voltam ao sufoco: salário de Abril ficou incompleto
Meio ano depois de os trabalhadores terem evitado fim da cervejaria do Porto e após conseguirem, por conta própria, estabilizar a “casa”, a incerteza voltou.
O processo de insolvência controlada e de recuperação da empresa continuam por cumprir, apesar da promessa assumida numa reunião no Ministério do Trabalho, e a gerência da cervejaria Galiza “continua a deixar ao abandono” os trabalhadores. A denúncia é feita pelo Sindicato de Hotelaria do Norte, que acompanha o processo desde Novembro, quando os trabalhadores impediram o encerramento da “casa” e assumiram a sua gestão.
O possível final feliz para o restaurante, aberto desde 1972 e “herdeiro” da cervejaria C.U.F., começou a desenhar-se em Fevereiro. A insolvência, ficou lavrado na acta de uma reunião com mais de duas horas entre o sindicato, os trabalhadores e os proprietários da cervejaria, garantiria a manutenção dos postos de trabalho. E não sendo o ideal, era uma meia-vitória. Mas outra reviravolta aconteceu: “Entretanto, um credor requereu a insolvência da empresa no passado dia 21 de Abril, mas até à data a empresa não foi notificada, o que é muito estranho”, escreve Nuno Coelho num comunicado enviado ao PÚBLICO.
Com a epidemia de covid-19, os trabalhadores da cervejaria continuaram a laborar, funcionando com serviço de take-away. Essas vendas, diz o sindicato, valeram aos trabalhadores “450 euros por conta do salário de Abril”, ficando o resto por liquidar. Por saldar estão também “facturas de água, luz, gás e renda, pois não há fundo de caixa suficiente e a gerência recusa pagar”.
A cervejaria deverá reabrir portas, conforme as regras definidas pela Direcção-Geral de Saúde, no dia 19 de Maio. Os trabalhadores, sublinha Nuno Coelho, “não desistem da defesa dos seus postos de trabalho e da viabilização da empresa.”
Essa resistência dos trabalhadores, aliás, gerou uma vaga de solidariedade na cidade, com visitas de várias personalidades e políticos, incluindo o Presidente da República e o presidente da Câmara do Porto. Depois de os trabalhadores terem impedido o encerramento do espaço, a administração concordou com uma gestão temporária feita pelos trabalhadores. Em alguns meses, essa comissão conseguiu pôr salários em dia e voltar a encher a casa.
As dívidas ao Fisco e à Segurança Social ascenderam aos dois milhões de euros e mesmo depois de um Processo Especial de Revitalização o valor não terá diminuído muito. A conta exacta foi sempre uma incógnita, relatou, há meses, Nuno Coelho. “Nunca soubemos a verdadeira extensão de tudo.”