O que pode a fotografia perante o medo sobre a cidade?
O que pode dizer a fotografia perante uma situação que nos deixou aturdidos, suspensos, incrédulos, assustados, que mudou o sentido das imagens e da realidade, que interrompeu o fluxo da vida, que congelou a sua cadência, que tornou os abraços e os beijos gestos mortais? Terá limites ou perdurará com novos retratos, outras paisagens? O Ípsilon falou com uma comunidade que não cessou de olhar sobre o que existe e aparece à sua volta.
Augusto Brázio interrompe-se, por breves instantes. É a filha que volta da rua. Ouve-se, longínquo, um zumbido metálico. “Já está, vai subir”, revela, antes de retomar a conversa que começáramos. Como tantos entrevistados, fala-nos de casa, mas ao contrário da maioria das pessoas não tem permanecido confinado. É um artista que utiliza a fotografia. Desde que o primeiro estado de emergência foi declarado, fez várias incursões à rua e à cidade. Para ver e fotografar. Foi ele quem retratou os rostos escondidos em máscaras, as carapaças coloridas que vêem na capa da edição impressa deste Ípsilon e nas páginas deste artigo. Figuras saídas de um carnaval triste, pessoas que na rua (logo na rua!) tapam a boca, com medo da morte. “Após algumas semanas em casa, comecei a sentir inquietação em relação ao meu trabalho, à maneira como me estava a posicionar em relação à realidade. E senti enorme necessidade de ir para a rua. Queria tentar perceber o que não conseguia ver”.
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