Covid-19: primeira morte nos Estados Unidos ocorreu três semanas antes do que se pensava
Resultados de autópsias mostram que uma pessoa que morreu a 6 de Fevereiro no estado da Califórnia estava infectada com o novo coronavírus. “É a ponta de um icebergue de dimensão desconhecida”, dizem as autoridades locais.
A primeira morte por covid-19 nos Estados Unidos ocorreu no dia 6 de Fevereiro, no estado da Califórnia, pelo menos três semanas antes do que se pensava até agora. Num comunicado divulgado na noite de terça-feira, as autoridades de saúde do condado de Santa Clara anunciaram que as autópsias feitas a duas pessoas que morreram em casa, a 6 e 17 de Fevereiro, provam que já estavam infectadas com o novo coronavírus.
Até agora, pensava-se que a primeira morte por covid-19 nos Estados Unidos tinha ocorrido a 26 de Fevereiro no estado de Washington, perto da fronteira com o Canadá e a quase 1500 quilómetros de distância do condado californiano de Santa Clara, num estado que faz fronteira com o México.
Durante semanas, as autoridades de saúde de Washington registaram o dia 29 de Fevereiro como a data da primeira morte, mas mais tarde foram descobertos dois casos de pessoas que morreram de covid-19 a 26 de Fevereiro na zona de Seattle.
O comunicado do condado de Santa Clara aponta agora o dia 6 de Fevereiro como a data da primeira morte provocada pelo novo coronavírus nos Estados Unidos.
“O gabinete de medicina legal realizou autópsias a dois indivíduos que morreram nas suas casas, a 6 de Fevereiro de 2020 e a 17 de Fevereiro de 2020. As amostras dos dois indivíduos foram enviadas para o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças. Hoje [terça-feira], recebemos a confirmação de que são casos positivos de SARS-Cov-2, o vírus que provoca a covid-19”, lê-se no comunicado.
Para além destes dois casos, há também registo de uma terceira morte no condado de Santa Clara no dia 6 de Março. Até ao início desta semana, pensava-se que a primeira morte no condado tinha acontecido a 9 de Março.
De acordo com as autoridades de saúde locais, as mortes registadas nos dias 6 e 17 de Fevereiro aconteceram numa altura em que os testes só podiam ser feitos com a autorização do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla original). E as regras da altura só permitiam a realização de testes a pessoas que tinham passado por países onde já havia vários casos do novo coronavírus e que se queixassem de sintomas.
A responsável pelo gabinete de medicinal legal do condado de Santa Clara, Sara Cody, disse ao jornal New York Times que nenhuma das pessoas em causa tinha viajado para fora do país e que as autoridades partem do princípio de que a infecção aconteceu na comunidade.
“À medida que continuamos a investigar as mortes em todo o condado, é possível que venham a ser identificadas mais mortes por covid-19”, diz o comunicado.
Para Sara Cody, a revelação de que as primeiras mortes nos Estados Unidos ocorreram três semanas antes do que se pensava até agora, e mais de um mês antes do primeiro registo no condado de Santa Clara, “é muito significativa”.
“Cada uma destas mortes é, provavelmente, a ponta de um icebergue de uma dimensão desconhecida”, disse a responsável, sugerindo que o novo coronavírus já circulava na comunidade muito antes do que se pensava até agora.
Os primeiros testes concebidos pelo CDC só começaram a chegar aos laboratórios espalhados pelo país no dia 7 de Fevereiro, e muitos deles tinham falhas que tornavam impossível a sua utilização. Para além disso, as autoridades locais não tinham autorização para fazer testes por sua iniciativa.
“A cada caso, tínhamos de perguntar sempre ao CDC: esta pessoa cumpre os requisitos? Podemos enviar-vos uma amostra?”, disse Sara Cody. “Tínhamos a sensação muito desconfortável de ouvirmos queixas de pacientes e de não podermos fazer testes.”
O condado de Santa Clara foi um dos primeiros em todo o país a decretar a quarentena, no dia 16 de Março, uma decisão que pode ter sido fundamental para que a região, e todo o estado da Califórnia, tenha hoje menos casos do que muitas outras zonas do país.
“Em retrospectiva, vemos que foi uma boa decisão. Agora percebemos que a transmissão era muito maior do que pensávamos na altura”, disse a mesma responsável.