Todos os que fazem, fizeram ou farão um cruzeiro devem-lhe a visão que “inventou” a indústria dos cruzeiros tal como a conhecemos. Muitos dos que fazem, fizeram ou farão um cruzeiro terão grande probabilidade de estar a experienciar a sua visão em primeira mão. Afinal, o norueguês Arne Wilhelmsen foi um dos fundadores da Royal Caribbean Cruises Ltd. (RCL), uma empresa de cruzeiros que na sua órbita inclui quatro marcas globais, a Royal Caribbean International, a Celebrity Cruises, a Azamara e a Silversea Cruises - um total de 61 navios (mais 17 encomendados no final de 2019), com itinerários que passam por todos os continentes. Foi também o comandante ao leme da companhia durante várias décadas e morreu no passado dia 11 de Abril, aos 90 anos, numa altura em que a indústria que ajudou a criar vive uma crise sem precedentes. Não foi referida ou confirmada a causa da morte.
Symphony of the Seas, Harmony of the Seas e Allure of the Seas: são os três maiores navios de cruzeiro do mundo, todos parte da frota da Royal Caribbean Cruises. Todos estão parados, com as operações suspensas devido à pandemia do novo coronavírus. Um cenário que não estaria, remotamente, sequer, na cabeça de Arne Wilhelmsen quando, em 1968, se juntou ao hoteleiro de Miami Edwin Stephan e a outras duas empresas mercantes norueguesas para fundar a Royal Caribbean Cruise Line, numa altura em que os cruzeiros não eram a escolha popular para férias de luxo em que haveriam de tornar-se. Na verdade, fazer férias num navio era quase uma excentricidade à boleia dos velhos transatlânticos.
“Numa época em que o resto do mundo pensava que os cruzeiros eram um nicho apenas para navios transatlânticos antigos, Arne já vislumbrava o possível crescimento”, recordou Richard Fain, presidente e director-executivo da RCL. “Ele já tinha uma visão moderna da indústria de cruzeiros, quando a ‘indústria’ era uma dúzia de navios usados no total.” A sua primeira batalha foi precisamente a construção de navios originais, projectados especificamente para cruzeiros (férias, portanto, numa altura em que as férias se democratizavam) - ele próprio o mencionou.
“O meu desafio inicial era convencer os meus parceiros e a gerência em Miami a construir navios maiores e mais eficientes para fazer crescer a empresa” - e em climas quentes. Este não foi um pormenor: desviou o incipiente sector de Nova Iorque, tradicional centro do tráfego transatlântico, para Miami e, nesse processo, contribuiu para a afirmação da região como destino de ócio.
Quando fundou a RLC, Arne Wihlelmsen já tinha experiência no transporte marítimo. Nascido em Oslo, em 1929, cresceu numa família proprietária de uma companhia de navegação e logo aos 18 anos foi para o mar, como marinheiro. Haveria de ingressar na Harvard Business School, para um MBA, e regressou à Noruega para o negócio familiar, cuja presidência assumiu entre 1961 e 1969.
Na RCL, pertenceu ao conselho de administração até 2003, altura em que se retirou, tendo sido substituído por um dos três filhos, para os quais transferiu a propriedade quase total da companhia antes de morrer. Na vida privada, gostava de golfe, caça, pesca e actividades ao ar livre, além de ter um profundo interesse pela língua, história e cultura japonesas. Dele se dizia ser descontraído e realista.
“Arne foi uma presença constante e fonte de sabedoria no nosso conselho por décadas”, afirmou Fain. “E em 2003, quando estava pronto para reformar-se, foi sucedido no conselho da RCL pelo seu filho, Alex, que levou o envolvimento da família Wilhelmsen a traçar o curso da nossa empresa na sexta década. Os nossos altos padrões como empresa, a nossa dedicação à excelência em operações e design e a nossa determinação em perseverar devem-se muito à visão de longo prazo de Arne, Alex e da família Wilhelmsen. Saudamos o nosso amigo e sentiremos muito a falta dele.”