Estratégia terapêutica para usar hidroxicloroquina (com o juízo clínico) em Portugal

A cloroquina ou a hidroxicloroquina, usadas contra a malária, podem ser administradas em doentes graves com covid-19, mas não se sabe quantas pessoas já foram tratadas com estes antivirais.

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Ao que tudo indica, a cloroquina reduz a febre e atrasa a progressão da doença Mario Cruz/Lusa

A cloroquina ou hidroxicloroquina, tradicionalmente usada para tratar a malária e doenças auto-imunes como a artrite reumatóide, entre outras, é uma das estratégias terapêuticas aprovadas para uso hospitalar (em enfermaria ou unidade de cuidados intensivos) em Portugal no tratamento de covid-19. A norma da Direcção-Geral da Saúde (DGS) que autoriza o recurso a esta opção foi publicada no final de mês de Março e prevê a sua utilização apenas em alguns casos graves e após uma avaliação da insuficiência respiratória do doente ou evidência radiológica (raios x ao pulmão) de uma pneumonia.

“Não existem actualmente medicamentos autorizados para o tratamento de covid-19 nem estão também autorizadas quaisquer vacinas”, constata-se no texto publicado na norma da DGS e no comunicado da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed).

O texto prossegue referindo que “existem, contudo, várias moléculas apontadas como possíveis candidatos terapêuticos” e que “considerando o conhecimento científico actual e as recomendações da OMS, encontram-se em investigação, entre outras, as seguintes estratégias terapêuticas: remdesivir, lopinavir/ritonavir e cloroquina ou hidroxicloroquina”. Em experiência in vitro, a cloroquina e a hidroxicloroquina mostraram que são capazes de inibir a acção do novo coronavírus SARS-CoV-2 e, por isso, a utilização destes antivirais está em diversas linhas de orientação clínica internacionais. lembram as autoridades de saúde.

“Os dados clínicos publicados sobre estes medicamentos são muito limitados, reconhece o Infarmed, que ainda assim defende que “face ao perfil de actividade antiviral in vitro e à segurança da utilização destes medicamentos no curto prazo, é preconizada a sua utilização em doentes graves com coronavírus, devendo, no entanto, ser considerado o perfil de toxicidade (cardíaca e oftalmológica) em doentes susceptíveis”. É assim um tratamento que deve ser ponderado e prescrito pelo clínico responsável pelo doente, num juízo que é feito caso a caso. As doses e duração do tratamento que estão previstas no protocolo divulgado pela DGS são as doses mínimas necessárias para garantir o equilíbrio na complexa relação risco/benefício deste fármaco que, como qualquer outro, tem efeitos secundários. 

Os protocolos de tratamento podem ser baseados numa monoterapia ou em combinação com outros fármacos. Há, por exemplo, “descrição de co-tratamento com azitromicina [um antibiótico] que parece potenciar o efeito da hidroxicloroquina”, adianta uma nota do Infarmed que esclarece ainda que, “apesar dos dados existentes limitados, a hidroxicloroquina surge como tratamento de primeira linha na maior parte dos protocolos do tratamento da covid-19”. Na mesma nota sublinha-se: “Estão em curso vários ensaios clínicos para avaliar o efeito da cloroquina ou hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, mas a verdade que ainda não há resultados suficientes para chegar a conclusões definitivas.”

Em resposta ao PÚBLICO, fonte do gabinete de comunicação do Infarmed esclareceu que não é necessária uma autorização especial para o uso deste fármaco, uma vez que ele já se encontra aprovado, ainda que seja para outras indicações. Assim, por enquanto, não é possível saber quantos doentes com covid-19 já terão sido tratados, até à data, com cloroquina ou hidroxicloroquina em Portugal.

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