O Brasil pandémico de Bolsonaro
É triste enxergar, aqui do outro lado do Atlântico, as indecências de um homem que ocupa o cargo de chefe de Estado do nosso Brasil.
Saí do Brasil em novembro de 2016. Por opção, decidi que me iria tornar produtora de vinhos no Douro. Deixei minha carreira, família e toda uma vida para recomeçar do zero no Douro. Minha paixão por Portugal é antiga. Escolhi que no Douro eu iria viver. Fiz as malas, fechei o container com o recheio de casa e vim. São três anos trabalhando e construindo uma empresa de vinhos.
No momento que iniciamos as vendas, as entregas dos vinhos para a restauração, distribuição nacional e exportação o mundo é assolado pela covid-19. Paramos tudo. Estamos em quarentena. Enquanto assistimos às tragédias em Itália, Espanha e China, a minha pátria, Brasil, é desgovernada, diariamente, por um ser que pode ser tudo menos um chefe de Estado. O Brasil sofre de pandemia de Bolsonaro há dois anos.
Desde que decidi sair do Brasil, sinto-me uma exilada política. Recuso-me a aceitar um chefe de Estado que defenda o período da Ditadura Militar no Brasil; que saúda torturadores; que incentive discursos de ódio e muitas outras coisas. Não compactuo com os “achismos” de um irresponsável chefe de Estado que desrespeita, minuto a minuto, o Estado de direito.
É triste enxergar, aqui do outro lado do Atlântico, as indecências de um homem que ocupa o cargo de chefe de Estado do nosso Brasil. São descabidas suas falas. Suas opiniões são “achismos” de um senso comum deprimente. Tudo o que é vomitado de sua boca são palavras ao vento de uma cabeça vazia. Como pode o povo brasileiro ter eleito este senhor? Pode, pois, ele é, em parte, representação do que uma parcela da população brasileira é.
Não vamos nos iludir. O recall que ele carrega, desde a eleição até os dias de hoje, são a base que o sustenta. Frágil ou não, há uma parcela considerável de brasileiros que compactuam com os pensamentos do Presidente.
É assim: os representantes que tomam decisões por nós nos representam. No Brasil o voto é obrigatório. Mesmo assim, na última eleição presidencial, em 2018, houve uma abstenção de 21,30%, que é alta. Jair Bolsonaro foi eleito com 55,13% dos votos válidos.
De acordo com a última pesquisa DataFolha de 3 de abril, o Governo Bolsonaro mantém uma aprovação de 33%, consideram o Governo regular 25%; 39% desaprovam seu Governo, 2% não sabem e 1% não respondeu.
O que temos que analisar são os 25% de brasileiros que não sabem o que dizer sobre a administração do capitão. Alguns respondem “não saber” por se sentirem envergonhados de concordar, lá no fundo, com o que Bolsonaro pensa e faz; outros nem sabem quem ele é, falta-lhes comida no prato, água encanada e o esgoto jorra na porta do barraco; e uma parcela está no que chamamos limbo: estado de migração do gostar para o não gostar, isso porque esta é a tendência da curva do gráfico.
Parece-lhe mal os números, para o Presidente do Brasil, não é? Pois não são, de todo. Com toda a pandemia que é o Governo Bolsonaro desde o dia 1 de janeiro de 2019, ele mantém cativo e seguro 30% da população brasileira sob seu carisma lunático.
Para os indignados, como eu, só resta resistir, de dentro de casa, aqui do Douro, com um copo de vinho!