Covid-19: porque é que Espanha tem uma das taxas de letalidade mais altas do mundo?

Uma população envelhecida, a detecção tardia das primeiras cadeias de transmissão e o facto de grande parte da população espanhola residir em cidades densamente povoadas pode ajudar a explicar o porquê de Espanha está a ser tão afectada pelo novo coronavírus.

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Mais de 13 mil pessoas morreram em Espanha por causa da covid-19 LUSA/JUANJO MARTIN

Esta terça-feira, o número diário de mortos em Espanha relacionadas com o novo coronavírus voltou a aumentar, depois de quatro dias em queda. Em apenas 24 horas, morreram 743 pessoas. Desde o início do surto, que começou no fim de Janeiro, já se registaram 140.510 casos positivos e morreram 13.798 pessoas. E Espanha já ultrapassou a Itália em número de casos confirmados e é agora o segundo país do mundo com mais mortes registadas por covid-19.

Mas há outro factor em comum nestes dois países europeus: a taxa de letalidade, ou seja, o número de mortes na população infectada, é muito superior à de outros países. De acordo os dados actualizados esta terça-feira pelo Ministério da Saúde espanhol, a taxa de letalidade do vírus em Espanha chega já aos 9,8% e em Itália aos 12,5%. O Reino Unido, por exemplo, tem uma taxa de letalidade de cerca de 10%, e na Alemanha este indicador fica-se pelos 1,5%.

Uma população envelhecida e com outros problemas de saúde associados, bem como o impacto que o vírus está a ter em lares de idosos e centros de dia, são alguns dos motivos apontados pelos especialistas consultados pelo El País. José María Martín Moreno, professor de medicina e saúde pública na Universidade de Valência, em Espanha, acredita que o país não realizou testes suficientes para detectar as cadeiras de transmissão desde o começo.

“É possível que os nossos esforços de detecção precoce tenham ficado atrás dos de outros países como a Alemanha ou a Coreia do Sul, que realizaram testes em massa que lhes permitiram isolar as pessoas infectadas e interromper as cadeias de transmissão”, refere o professor ao diário espanhol, acrescentando que essa detecção poderia ter impedido o vírus de atingir grupos particularmente vulneráveis, como os idosos.

Já Jesús Rodríguez Baño, director do departamento de doenças infecciosas do Hospital Virgen Macarena, em Sevilha, destaca outra razão. “Ainda são necessários mais estudos, mas [a propagação do vírus] pode ter algo a ver com a forma como interagimos socialmente e com grande proximidade física. O facto de as áreas mais atingidas serem Madrid e Catalunha tem algo em comum com o Norte de Itália: são áreas densamente povoadas”, adianta o especialista.

A 18 de Março, quando Espanha tinha ainda menos de mil mortes e pouco mais de 13 mil casos de infecção, e numa semana em que estes dois indicadores começaram a subir de forma exponencial, as autoridades de saúde espanholas admitiram que não estavam a ter capacidade para fazer todos os testes necessários. O director do Centro de Coordenação de Emergências Sanitárias do Ministério da Saúde afirmou, na altura, que se tratava de uma questão de logística e garantiu que problema seria resolvido dentro de alguns dias. Também o próprio ministério avançou, em comunicado, que estava a trabalhar num projecto para realizar testes rápidos de diagnóstico da covid-19.

Esta semana, o ministro da Saúde espanhol, Salvador Illa, avançou que o Governo investiu 845 milhões de euros no espaço de três semanas em kits de teste à covid-19, ventiladores e máscaras. De acordo com o ministro, cerca de um milhão de testes rápidos estão agora a ser distribuídos por várias regiões espanholas e vão servir para realizar “exames rápidos” que poderão ser posteriormente complementados pelos testes feitos em laboratórios.

Espanha encontra-se numa quarentena apertada há quatro semanas e grande parte a população vai assim continuar confinada em casa até 26 de Abril, podendo apenas deslocar-se para ir trabalhar — aqueles que não o podem fazer através de teletrabalho — ou para abastecer-se de bens essenciais.

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