Covid-19: restaurantes da Mealhada com queda abrupta nas encomendas de leitão para a Páscoa
Para além de haver menos encomendas, os pedidos de entregas são também mais pequenos, visto que muitas das famílias não vão estar reunidas.
Os restaurantes da Mealhada especializados em leitão à Bairrada estão a registar uma queda abrupta nas encomendas para a Páscoa, devido à pandemia da covid-19, naquela que seria uma das melhores alturas do ano de facturação para o sector.
De portas fechadas numa altura em que esperariam casa cheia com pessoas de norte a sul do país, bem como de Espanha, os restaurantes especializados em leitão assado à moda da Bairrada centram-se nas encomendas com entrega ao domicílio, mas mesmo essas não se equiparam às que recebiam em anos anteriores, afirmaram à agência Lusa vários proprietários de espaços de restauração do concelho da Mealhada.
O restaurante Rei dos Leitões está habituado a fazer entregas de Trás-os-Montes ao Algarve, com um sistema que já estava “montado e oleado”, sendo a altura da Páscoa uma das épocas com mais encomendas para fora, disse à agência Lusa o proprietário do espaço, Paulo Rodrigues.
Apesar disso, o restaurante está a facturar 10% do que seria esperado para esta época, sendo que em duas semanas assariam 1200 a 1500 leitões e, este ano, “cem devem chegar”, contou, salientando que “a queda é abrupta”. Para além de haver menos encomendas, os pedidos são também mais pequenos, visto que muitas das famílias não vão estar reunidas. “Antes, havia pessoas que, sozinhas, pediam um leitão; agora duas pessoas pedem um quarto de leitão...”, referiu Paulo Rodrigues.
N’O Castiço, aberto desde 1975, ninguém se lembra “de uma altura tão complicada”, contou a gerente Carla Carvalheira, referindo que nem na crise de 2008 foi tão mau. “As pessoas não querem sair para ir buscar o leitão e acabam também por não fazer encomendas”, disse, referindo que as recebidas até agora não dão sequer para “pagar as despesas correntes” da casa.
Também Maria Clara, gerente da Floresta dos Leitões, nota que os serviços de take away e de entrega ao domicílio estão a ter pouca adesão, tendo algumas encomendas, “mas nada comparado com anos anteriores”.
“Não estamos tão bem como eu esperava que poderíamos estar. Já recebemos algumas encomendas, mas muito poucas”, salientou, por seu lado, a sócia administrativa do restaurante Couceiro’s, Carla Couceiro.
Também no assador Soares dos Leitões, para além de ter perdido todos os clientes da hotelaria que lhe faziam encomendas, também se sentiu um decréscimo nas encomendas de particulares. “No domingo de Páscoa, assávamos entre 70 e 90 leitões. Agora, temos uma dúzia de encomendas”, notou o responsável, Nuno Soares, referindo que tinha muitos clientes de Coimbra, Viseu, Lisboa e Porto que iam buscar o leitão no domingo de manhã e que agora não poderão fazer essa deslocação. “Tem sido muito complicado. Passam-se dias e dias sem se assar um leitão”, notou.
Já a Churrasqueira Rocha optou por fechar e não disponibilizar serviço de take away ou de entrega ao domicílio. “Fechámos no dia 14 [de Março] e pagámos o ordenado desse mês por inteiro aos 32 funcionários, sem terem que pôr férias”, afirmou à agência Lusa o sócio-gerente Joaquim Rodrigues, referindo que, para Abril, a empresa optou pelo layoff total.
“O leitão é um produto de excelência e pegá-lo e levá-lo para o Algarve ou para outros pontos do país é fazer com que perca qualidade”, vincou. No entanto, a perda de facturação e a incerteza de quando é que o estado de emergência será levantado tem tirado “muitas horas de sono” a Joaquim Rodrigues. “Nós temos uma almofadinha financeira, mas os custos fixos mensais são elevados. Estávamos a aumentar e valorizar a nossa equipa em termos de vencimentos, a pensar num Verão em grande”, explicou.
Também Margarida Flor, gerente d’O Típico, decidiu fechar o restaurante e não abrir para encomendas. “Não vale a pena estarmos abertos para assarmos um ou dois leitões”, contou.
Nuno Lopes, com restaurante Nelson dos Leitões, no Porto, e assador na Mealhada, decidiu abrir apenas para as encomendas da Páscoa. “A facturação desde o dia 15 [de Março] é zero, mas a saúde é o mais importante, e vai havendo. Como um amigo meu dizia: ‘Mais vale estar vivo e falido, do que rico e morto’”, vincou.