Plataforma lança campanha de angariação de fundos para ajudar refugiados na Grécia
Grupo de ONG no terreno tem plano que contempla materiais, medicação e recursos humanos e logísticos para ajudar campos de refugiados na Grécia a enfrentar a pandemia. O objectivo é recolher 30 mil euros: #Istandwithrefugees #EuNaoAbandonoRefugiados.
Muitas das medidas de prevenção usadas contra a covid-19 não são possíveis de aplicar nos campos de refugiados. “Não há lavatórios para todos lavarem as mãos, não é possível aplicar medidas de distanciamento social, não é possível realizar quarentena numa tenda dividida por muitas pessoas, não existem cuidados médicos suficientes…”, lê-se no comunicado da Humans Before Borders (HuBB) que lançou uma campanha de angariação de fundos para um plano médico de apoio de emergência aos refugiados no âmbito do combate à doença. “A Solidariedade não faz quarentena” é o nome da campanha direccionada aos campos gregos de Moria e Samos e pretende angariar 30 mil euros (até ao momento já conseguiu dez mil) .
Em Moria há “500 pessoas com mais de 60 anos ou com doenças crónicas”, lê-se no comunicado da HuBB, plataforma portuguesa criada em 2018 reunindo pessoas de várias nacionalidades para promover a “acção e sensibilização relativamente ao tratamento desumano e ilegal de migrantes e refugiados”.
Em Moria, Raul Manarte, psicólogo e voluntário em várias organizações não-governamentais, um dos membro da plataforma, conta que viu “um lavatório para 1200 pessoas, 20 mil pessoas num campo para três mil”. Viu ainda “um campo sem luz e água quente”. E não esquece “os seis menores esfaqueados em cinco dias, as pessoas que se queriam matar, a gente que viu os irmãos serem degolados pelo Estado Islâmico [Daesh], as mães que pedem para lhes tirarem os filhos porque já não se sentem capazes de cuidar deles”. Esteve lá duas vezes, a primeira em Dezembro de 2016, a segunda em Fevereiro deste ano, sempre com a Boat Refugee Foundation (BRF), a única organização não-governamental médica a operar dentro do campo à noite.
Neste momento, adianta, algumas das ONG no terreno (BRF, Kitrinos, MVI, Health Point Foundation, Med'EqualiTeam) já “têm um plano detalhado e orçamentado para retirar 200 idosos e 300 doentes crónicos” para instalações fora do campo - a 200 metros, pertencentes à ONG Team Humanity. Aí, terão “todas as condições de água e saneamento, atenção médica e equipamento de protecção de forma a impedir o contágio. No caso de não ser possível a retirada dessas pessoas “mais vulneráveis”, o foco será, segundo o comunicado, “na prevenção dentro do campo”, através de “material, medicação e recursos humanos de assistência”.
As ONG esperam salvar mais de mil vidas. “Sem estas medidas”, nota Raul Manarte, “estas pessoas têm elevadíssima probabilidade de morrer”.