Ministra pede a lares que acolham doentes que não precisam de estar nos hospitais

Doentes com covid-19 internados nos hospitais são menos de 10% do total. Ministério contratou 500 enfermeiros por um período de quatro meses para reforçar a capacidade de resposta.

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A ministra garantiu que a resposta aos pacientes em estado crítico está a ser ajustada às necessidades LUSA/MIGUEL A. LOPES

A pressão nos hospitais, onde há cada vez mais doentes com covid-19 internados em enfermarias e em unidades de cuidados intensivos, está a crescer e é necessário que os lares e as unidades de cuidados continuados acolham os pacientes que já não necessitam de hospitalização. O apelo foi feito neste domingo pela ministra da Saúde, Marta Temido, na conferência de imprensa diária para balanço da situação epidemiológica em Portugal. A última actualização volta a apontar para uma subida moderada de novos casos, mais 7,2% do que no dia anterior, e foram notificadas mais 29 mortes, totalizando agora 295 desde o início da epidemia no país.

Numa altura em que há 11.278 casos confirmados, a maior parte está a ser seguida em casa, estando apenas hospitalizados “9,6%” dos doentes, disse Marta Temido. Ainda assim, e como os internamentos nos hospitais estão a aumentar de dia para dia, a ministra pediu às unidades de cuidados continuados e às “estruturas residenciais para idosos” que voltem a acolher os utentes que já não precisam de permanecer internados. Lembrou também que, no caso de novas admissões na rede de cuidados continuados e nos lares de idosos, há um teste laboratorial e uma avaliação clínica à chegada e que, independentemente do resultado dos testes, é cumprido um período de quarentena de, pelo menos, 14 dias. 

O apelo surge depois de, na sexta-feira, o presidente da secção regional do centro da Ordem dos Médicos ter alertado para o facto de haver hospitais que começam a ficar saturados com doentes com covid-19 que poderiam regressar às instituições onde residem ou mesmo às suas casas mas que estão impossibilitados de o fazer devido ao risco de contágio, por não terem condições para ficar ali em isolamento.

Antecipando também a crescente necessidade de internamento de doentes em estado crítico nas unidades de cuidados intensivos (UCI) numa fase mais avançada da epidemia em Portugal, a ministra garantiu que a resposta aos pacientes em estado crítico está a ser ajustada às necessidades. O número de ventiladores “bem mais do que duplicou” relativamente ao início de Março, quando havia 1142 ventiladores no Serviço Nacional de Saúde. Desde essa altura, os serviços recuperaram equipamentos que não estavam a ser utilizados e compraram outros e, até este sábado, a Administração Central do Sistema de Saúde encomendou mais 1151, a que se somaram 247 doados e 140 emprestados, totalizando assim mais 1538 aparelhos, especificou. Este domingo chegaram já 144 de uma encomenda proveniente da China e espera-se que os restantes cheguem de forma faseada até ao final de Abril.

Crianças recuperam muito bem

São sobretudo doentes com idades avançadas os que estão internados em unidades cuidados de intensivos, apesar de haver também crianças em UCI. A directora-geral da Saúde sublinhou, porém, que a evolução no caso das crianças tem sido muito boa. “As crianças que são internadas, mesmo as que entram com um quadro grave, têm tido uma capacidade enorme de recuperação, a maior parte está no domicílio e muitas foram dadas como curadas”, assegurou.

São sobretudo pessoas mais idosas que estão internadas em UCI e a taxa de letalidade é maior em idades mais avançadas, como acontece em todo o mundo. Em termos globais, a taxa de letalidade associada à covid-19 em Portugal, e que tem vindo a subir ligeiramente nos últimos dias, situava-se nos 2,6% no domingo. Mas há países que têm taxas “bastante superiores”, disse a governante, avançando com exemplos: “Itália está com 12,3%, o Reino Unido com 10,3% e a vizinha Espanha com uma taxa de 9,5%.”

A má notícia é a de que continua a aumentar o número de profissionais de saúde infectados em Portugal e que, até sábado, eram já 1332, 231 dos quais médicos e 339 enfermeiros. O Ministério da Saúde está a trabalhar a informação em detalhe para perceber quais são os outros grupos profissionais infectados e quais as fragilidades da segurança no trabalho, mas para já não está em cima da mesa a possibilidade de um subsídio de risco.

Este domingo ficou também a saber-se que o Ministério da Saúde contratou cerca de 500 enfermeiros no período compreendido entre 13 de Março e a passada sexta-feira. São contratos de trabalho celebrados “a termo resolutivo certo por um período de quatro meses e que “podem ser eventualmente renovados”, adiantou à agência Lusa o ministério. O Sindicato de Todos os Enfermeiros questionou neste domingo o facto de haver enfermeiros a quem a tutela estaria a oferecer contratos de quatro meses a 6,42 euros por hora e disse que os concursos lançados “estão a ficar desertos”. “Quem quererá ir para o olho do furacão, sem treino e sem equipamento de protecção?”, perguntou a direcção do sindicato. “7,42 [euros] é o valor base/hora do enfermeiro em início de carreira, a que acrescem eventuais suplementos que sejam devidos”, respondeu o ministério.

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