Marcelo ouve a banca, que receia prolongamento da crise após o Verão
Os presidentes da CGD, BCP, BPI, Santander e Novo Banco deverão dizer ao Presidente da República que duração da crise determinará a resiliência do sistema, que está no fim da linha da economia.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai reunir-se esta segunda-feira, por videoconferência, com os presidentes da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, do BCP, Miguel Maya, do Santander, Pedro Castro Almeida, do Novo Banco, António Ramalho e do BPI, Pablo Forero, para, entre outros pontos, ouvir o que têm a dizer sobre o momento actual e saber o que cada banco está a fazer para apoiar as empresas e as famílias. Ou seja: para fazer chegar “dinheiro” à economia.
No centro da agenda do encontro estão os temas relacionados com o impacto no país do estado de emergência, que levou à paralisação da economia e da vida social e política, com os economistas do Banco de Portugal a estimarem para este ano, na melhor das hipóteses, uma queda do PIB acima de 3,7% (que sobe para 5,7% no cenário adverso), enquanto os da Universidade Católica apontam para uma contracção entre 4% a 20%.
Mas estas matérias, relacionadas com a entrada num período de recessão profunda, tem sido abordadas em conversas anteriores entre o Presidente da República e os principais responsáveis dos bancos, com quem Marcelo Rebelo de Sousa tem falado nas últimas semanas, no contexto das suas funções, e sempre que necessita.
E daí que a iniciativa de Rebelo de Sousa de chamar Paulo Macedo, Miguel Maya, António Ramalho, Castro Almeida e Pablo Forero, que representam mais de 80% do sistema, esteja também a ser interpretada como uma tentativa do Chefe de Estado de marcar a agenda politica e de se demarcar da actuação do Governo.
No contexto de incerteza, o Presidente da República tem duas preocupações evidentes: o risco das medidas que estão a ser tomadas para minorar o impacto da crise poderem ser insuficientes face aos desafios que a situação está a colocar. Desde logo porque a falta de investimento não permite manter a economia oleada e sem a economia a funcionar o desemprego vai disparar.
De uma maneira ou de outra, o Estado será chamado a acudir: ou coloca dinheiro nos bolsos das empresas e dos particulares ou irá ter de assumir no curto prazo os custos associados ao desemprego. O BdP estima que a taxa de desemprego dispare para mais de 10%. E havendo uma crise económica mais acentuada pode levar a uma crise financeira de dimensões imprevisíveis.
Antes e depois do Verão
O futuro da banca dependerá da duração do tempo de paralisação do país, da capacidade de resiliência da economia e dos mecanismos de mitigação que reduzam a possibilidade de colapso das empresas e dos particulares.
Para já, e por tudo o que se sabe, nenhuma entidade é capaz de traçar grandes cenários futuros com grau de previsibilidade elevado. Mas sendo nova a experiência (congelamento das economias dos países) que hoje se vive à escala global, a única certeza é que as consequências serão e já estão a ser graves.
Num curto período de tempo, por exemplo, até ao Verão, os vários agentes, incluindo os bancos, alegam que os efeitos desta crise serão comportáveis, mas com feridos: o turismo, a aviação. E havendo um fim à vista é expectável que nenhuma instituição financeira vá abaixo.
Mas se a pandemia continuar agressiva e o estado de emergência se mantiver para além do tempo esperado, com o processo económico e social a manter-se interrompido, como só acontece nas guerras, em que a oferta e a procura paralisam ao mesmo tempo, o que dali em diante se passar é imprevisível.
Assim, a partir do Verão, por cada mês que passar, e com a economia a entrar num circuito descontrolado, a situação tenderá a piorar, com repercussões nas instituições no fim da linha: os bancos. E daí o apelo que o Presidente da República irá amanhã fazer aos presidentes dos principais bancos para que assumam compromissos mais fortes, pelo menos enquanto durar este primeiro capítulo da crise.
Ainda recentemente Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “esta (o combate à pandemia por covid-19) é também uma luta da banca e a banca deve ao país (...)”, pois os portugueses ajudaram, no respaldo da crise financeira que antecedeu a crise da divida soberana, a salvar o sector. Ontem, voltou a sublinhar a ideia de a banca “retribuir” aos portugueses o que fizeram. Entre 2008 e 2016 foram injectados mais de 23 mil milhões de euros, parte por empréstimos (CGD, BCP, BPI), entretanto devolvidos ao Estado com pagamento de juros.