O que vai acontecer depois do horror?
O mundo que se conta a partir do que se diz.
“Mas, enfim, que mundo nos espera quando passar o horror? Acho que será melhor do que este. Disse ele, ingenuamente”, Luís Fernando Veríssimo, escritor e humorista brasileiro
Caça ao indígena
A violência contra os indígenas no estado brasileiro do Maranhão cresceu nos últimos meses. Esta terça-feira, outro líder foi assassinado. O corpo de Zezico Rodrigues Guajajara, um dos líderes da Terra Indígena Araribóia, director do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru e professor há 23 anos, foi encontrado junto à sua aldeia com marcas de tiros. Esta é o quinto assassinado deste povo desde Novembro, quando Paulino Guajajara, do grupo Guardiões da Floresta, que defende o território contra os madeireiros ilegais, foi morto a tiro. Laércio Guajajara, ferido nos braços e costas no mesmo ataque, passou à clandestinidade, depois de ter sido ameaçado novamente, vivendo agora ao abrigo do Programa de Protecção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo brasileiro. O que está a acontecer é “um verdadeiro massacre de indígenas”, afirmou a Ordem dos Advogados do Brasil, “os povos indígenas, em especial os Guajajara, estão sendo vítimas de assassinatos sucessivos”. Sentindo que o clima político no país mudou com a chegada a Brasília de Jair Bolsonaro, madeireiros, garimpeiros, criadores de gado, grandes latifundiários sentiram-se legitimados para abrir a caça aos indígenas, que ficam desprotegidos, sem o apoio das instituições públicas.
Arrancar a história e a economia
O Governo israelita avisou os palestinianos de Nablus, na Cisjordânia, que o exército vai começar a arrancar dezenas de árvores na zona turística de Almasoudiya. Ghassan Daghlas, director palestiniano para os colonatos israelitas no território, confirmou aos jornalistas que vários residentes na área receberam as notificações. Zona histórica, com monumentos antigos, algumas das suas oliveiras remontam ao tempo do Império Otomano, têm mais de 500 anos. Para as autoridades palestinianas trata-se de mais um avanço dos colonatos israelitas nas terras palestinianas, cancro silencioso que acelerou na última década, matando aos poucos a possibilidade de um Estado palestiniano viável. Em Janeiro, o mesmo Daghlas já denunciara que colonos israelitas do colonato ilegal de Rahalim, haviam cortado 50 oliveiras de quintas palestinianas na localidade de Al-Sawiya, a sul de Nablus. De acordo com o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas, só entre 3 e 16 de Março os colonos vandalizaram cerca de 1600 árvores em território palestiniano. As oliveiras são uma das principais fontes de rendimento dos palestinianos, que as usam maioritariamente para produzir azeite, a sua destruição representa também um golpe contra a frágil economia da Cisjordânia.
The land of the free
Ser cientista iraniano gera desconfiança nos Estados Unidos e essa desconfiança pode manter alguém na prisão meses depois de ter sido absolvido em tribunal. De acordo com o Guardian, Sirous Asgari, professor de Engenharia e Ciência dos Materiais, foi considerado inocente da acusação de roubar segredos comerciais relacionados com o seu trabalho na Universidade de Ohio, mas a Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE) ainda não se decidiu a cumprir a ordem do tribunal e libertar o académico. Asgari não é o único que a agência mantém detido sem qualquer razão. O jornalista cubano Yariel Valdés González cumpriu todas as regras para solicitar o asilo político nos Estados Unidos e esse estatuto foi-lhe concedido, apesar disso, continua detido. Valdés “era perseguido em Cuba por escrever para o Blade", jornal norte-americano dedicado a assuntos da comunidade LGBT, escreve Fabíola Santiago no Miami Herald. “Pergunto-me se o Governo dos EUA está a puni-lo agora por escrever sobre a sua detenção e questões fronteiriças na sua passagem pelo México”. Asgari está tão desesperado que pediu a deportação voluntária, mas com os voos para o Irão suspensos por causa da covid-19, está condenado a permanecer preso em “the land of the free”.
Prenda-se o mensageiro
As autoridades da Birmânia prenderam o director do jornal Voice of Myanmar por publicar uma entrevista com o porta-voz do Exército de Arakan, grupo armado predominantemente budista que luta pela protecção do povo Arakan. Nay Myo Lin foi acusado de violar a polémica lei do contra-terrorismo que proíbe indivíduos e organizações de manter contactos com grupos ilegais e arrisca uma pena de prisão que pode ir de três anos a perpétua. “Ele só fez o que fazem os jornalistas, o seu trabalho. Não vejo nada errado que na sua cobertura da luta no estado de Rakhine tenha contactado com o grupo rebelde Exército de Arakan”, afirmou a mulher, Zarni Mann, jornalista na revista online Irrawaddy, à agência Anadolu. A polícia quer prender ainda outro jornalista, Khine Myat Kyaw, director do jornal Narinjara, por também ter entrevistado um porta-voz dos rebeldes em Março. Em Janeiro, os militares apresentaram uma queixa por crime de difamação contra a Reuters e um deputado por causa de uma notícia sobre a morte de duas muçulmanas num bombardeamento do exército no estado de Rakhine. O processo acabaria por ser arquivado, depois da intervenção do conselho de imprensa birmanês, mas o recado estava dado: as notícias sobre democratização na Birmânia estão muito sobrevalorizadas.