Câmara do Porto critica cerco sanitário ao Porto. E questiona “autoridade” da directora-geral da Saúde

Autarquia diz que medida é “absurda” e ineficaz já que “a situação epidemiológica nos concelhos limítrofes é em tudo igual”. E atribui declarações de Graça Freitas a “cansaço”. Gaia também rejeita solução

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Tiago Lopes

A Câmara do Porto diz ter sido esta segunda-feira “surpreendida por uma inopinada e extemporânea referência” da directora-geral da Saúde de que estaria a ser equacionado um cerco sanitário ao Porto, o concelho com mais casos de infecção no país. A medida é “absurda”, ineficaz e baseia-se em estatísticas sem “fiabilidade”, critica. E vai mais longe: “A Câmara do Porto deixa de reconhecer autoridade à senhora directora-geral da Saúde, entendendo as suas declarações de hoje como um lapso seguramente provocado por cansaço”.​

Um cordão sanitário em torno do Porto seria uma medida “absurda num momento em que a epidemia de covid-19 se encontra generalizada na comunidade em toda a região e país”, critica a autarquia em comunicado. A medida “não foi pedida pela Câmara do Porto, não foi pedida pela Protecção Civil do Porto e não foi pedida pela Protecção Civil distrital. Nenhuma destas instituições e nenhum dos seus responsáveis, incluindo o presidente da Câmara do Porto foi contactado, avisado ou consultado pela Direcção-Geral da Saúde”.

A directora-geral da Saúde admitiu, em conferência de imprensa, esta segunda-feira, que está a ser equacionado um cordão sanitário no concelho. “O Porto tem estado a receber todo o apoio nacional. Quanto ao cordão sanitário, provavelmente será hoje tomada uma decisão nesse sentido”, disse Graça Freitas. Esta decisão compete às autoridades regionais, às autoridades de saúde nacionais e ao Ministério da Saúde, acrescentou.

O Norte do país continua a ser a região com mais casos: são 3801 e 74 mortes; segue-se a região de Lisboa e Vale do Tejo com 1577 casos e 30 mortes. No concelho do Porto, há 941 casos de infecção registados no boletim desta segunda-feira, quando no domingo eram 417 – são mais 524 casos, ainda que nos dados de domingo fosse feita a ressalva de que os casos indicados tinham sido reportados pelas administrações regionais.

O Porto é, assim, o concelho com mais casos de infecção, seguido de Lisboa (633), Vila Nova de Gaia (344), Maia (313) e Matosinhos (295). 

A Câmara do Porto considera a implementação de um cordão sanitário uma medida “inútil e extemporânea”. Caso fosse tomada, alerta, “tornaria impossível o funcionamento de serviços básicos da cidade, como a limpeza urbana (cuja maior parte dos trabalhadores não reside na cidade), como a recolha de resíduos (cuja Lipor [Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto] fica fora da cidade), como o abastecimento e acessos a dois hospitais centrais, como os de Santo António e São João estariam postos em causa”.

A autarquia “não pode concordar com uma medida dessa natureza, baseada em estatísticas sem consistência científica ou fiabilidade, emitidas diariamente pela DGS e cujas variações demonstram a sua falta de fiabilidade. Muito menos faz sentido isolar uma cidade quando à sua volta a situação epidemiológica nos concelhos limítrofes é em tudo igual”.

Eduardo Vítor Rodrigues junta-se também a Rui Moreira na rejeição a esta medida. "A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia rejeita em absoluto esta solução e entende não ser a resposta adequada para a situação”, disse o gabinete de comunicação ao PÚBLICO. 

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