Patrões dos têxteis pedem apoio para 1,3 milhões de salários e avisam: não é altura de “ter dilemas”
Empresários dizem que pacote de ajudas está mais centrado na gestão orçamental do que no apoio real às fábricas. E pedem medidas que não criem mais dívida.
Nem layoffs nem linhas de crédito vão ajudar a resolver os problemas da indústria têxtil e de vestuário. “A principal medida que salvará empregos é o apoio imediato ao pagamento de salários”, afirma o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado.
Numa carta que vai ser publicada dentro de dias no jornal da ATP, o patrão dos patrões do têxtil avisa o Governo de António Costa de que as medidas apresentadas até ao momento para apoiar as empresas são insuficientes e não ajudam a tratar dos problemas reais. Além disso, lança um alerta: não é altura para o Governo “ter dilemas”.
Mário Jorge Machado dá assim voz ao que muitos empresários deste sector têm dito nos últimos dias: o de que o pacote de ajudas proposto aos diferentes sectores económicos é insuficiente e tem demasiadas preocupações de gestão orçamental numa altura em que a própria União Europeia já disse que as regras do défice são secundárias neste momento.
“Um cenário de 1,3 milhões de trabalhadores e o custo médio de 750 euros por mês durante três meses, totalizaria 3000 milhões de euros”, escreve o empresário e administrador do grupo Estamparia Adalberto, num texto que está a ser citado pela newsletter da ATP.
“Num quadro de insolvências, poderão ser mais de 500 mil os desempregados, que a receber subsídio de desemprego durante um ano facilmente ultrapassará os 4500 milhões de euros. Ao que se somaria a quebra de receitas fiscais geradas pelas empresas e os custos de todos os problemas sociais conexos”, prossegue, tentando demonstrar que sairá mais barato intervir agora com medidas mais alinhadas com a situação de muitas empresas, que já se debatem com problemas para pagar os salários.
O Governo colocou o sector têxtil e vestuário na linha de crédito de apoio à liquidez de empresas industriais, cuja dotação total é de 1300 milhões de euros. A ideia é ajudar a tesouraria das empresas que se debatem com perda de receitas, diferindo e adiando ainda responsabilidades fiscais e aliviando igualmente alguns deveres contributivos, como a redução temporária da Taxa Social Única.
Porém, diz Machado, tudo isto tem um problema: são medidas que “estão muito centradas na concessão de empréstimos ou dilação de pagamentos de alguns impostos e responsabilidades com terceiros”, o que significa que “é uma ajuda na resolução do problema de liquidez, mas criando dívida nas empresas”.
Por isso, conclui, "é muito pouco para a dimensão do problema” e têm sobretudo um benefício: “terão um peso reduzido no défice orçamental”. Aliás, o título da carta do presidente da ATP assume que o Governo “enfrenta um dilema": "economia versus finanças”.
Os empresários da Indústria Têxtil e do Vestuário, que pesa 3% no PIB e representa 10% das exportações nacionais (quase tanto quanto a indústria automóvel), pedem mais para que “nenhuma empresa fique impossibilitada de pagar salários ou tenha de despedir trabalhadores”.
E referindo-se ao layoff simplificado, ao qual recorreu uma grande empresa têxtil (a Coindu vai colocar 2300 trabalhadores em casa até ao final de Abril), diz Machado que “nem a exigência da quebra de 40% no volume de negócios das empresas nos dois meses homólogos do ano anterior, nem o fecho da laboração deveriam ser condições/opções para aceder”.
Isto porque no critério da quebra de facturação, “uma grande parte das empresas não será capaz de suportar tal encargo – a que o Governo esse eximiria –”, e no segundo, “não será a solução para muitas empresas que precisam da continuidade de alguma laboração para poder executar colecções e amostras, que é crítica para ter encomendas no segundo semestre do ano”.
Por isso, conclui Machado, “o Governo não deve ter dilemas, as empresas que não têm trabalho para os colaboradores precisam de auxílio para pagar os salários desde já, porque o custo económico, financeiro e social é muito inferior do que aquele que teremos de suportar ser for mantida a actual versão da lei simplificada do layoff”.