Só um sétimo dos doentes continua no hospital. Os outros estão internados em casa

Pacientes com sintomas ligeiros podem convalescer em casa, desde que tenham cuidadores saudáveis e uma habitação com condições para isso.

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Rui Gaudencio

No início do surto do novo coronavírus, todas as pessoas com confirmação de infecção eram hospitalizadas com medidas de protecção radicais. Ficavam completamente isoladas em quartos de pressão negativa (que impedem a saída de ar) para evitar ao máximo eventuais contágios e eram tratadas por médicos e enfermeiros com fatos de protecção à prova de vírus. Mas, de dia para dia, à medida que os casos positivos da doença (covid-19) se multiplicam a um ritmo acelerado, o número dos que são mandados para casa não tem parado de aumentar. São pacientes com sintomas ligeiros que ficam numa espécie de internamento domiciliário, em convalescença, cuidados por familiares e acompanhados por profissionais de saúde.

O primeiro hospital a transferir para casa doentes sem gravidade foi o S. João, no Porto. Depois, seguiram-se outros. E o último boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde (DGS) indica já que dos 642 infectados com o novo coronavírus notificados até esta quarta-feira, apenas continuavam hospitalizados 89 – ou seja, cerca de um sétimo do total de casos positivos. Duas dezenas, os doentes muito graves, estavam internados em unidades de cuidados intensivos.

O que está a ser seguido é “um modelo de “80-15-5”, explicou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, na conferência de imprensa em que foi feito o balanço da situação. Há duas vítimas mortais – ontem morreu o presidente não executivo do Santander em Portugal, António Vieira Monteiro , três doentes já recuperaram, 4074 dos mais de cinco mil suspeitos testados não estavam infectados e continuavam em vigilância 6656.

“Isto quer dizer que cerca de 80% das pessoas infectadas ficam em autocuidados domiciliários”, sendo acompanhadas pela sua equipa de saúde, como o médico de família e na sua própria casa, especificou Graça Freitas. Dos restantes, 15% serão internados em enfermaria geral e “5% poderão precisar de cuidados intensivos”, especificou.

“Numa fase inicial internámos todas as pessoas em contenção máxima, em quartos de isolamento com pressão negativa”, mas, à medida que o seu quadro clínico melhorou, foram sendo enviadas para casa, sempre que tal se revelou possível e “adequado à convalescença”. São indicações que “seguem as boas práticas internacionais”.

Mas há regras básicas para se compartilhar uma casa com um doente com covid-19. A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) tem um núcleo de estudos de hospitalização domiciliária que divulgou há dias um conjunto de recomendações, para o caso de estas equipas serem solicitadas para libertarem camas hospitalares necessárias para internar os infectados pelo novo coronavírus.

Nem todos os pacientes podem, porém, ser enviados para casa. É preciso que tenham uma habitação adequada e um cuidador em permanência. Há um conjunto de normas estritas a observar na fase em que as unidades de hospitalização domiciliária venham a ser chamadas a dar apoio a doentes com covid-19 – e isso ainda não aconteceu, segundo o presidente da SPMI, João Araújo Correia. Devem ser garantidas todas as condições de isolamento em casa, reforçadas as medidas de higiene, os cuidados respiratórios e a limpeza e desinfecção do espaço físico.

Assegurado transporte para hospital

Os doentes e os cuidadores (preferencialmente apenas um e saudável) devem também estar habilitados para reconhecer sinais de um eventual agravamento do estado de saúde, nomeadamente problemas respiratórios. A pensar nesta possibilidade, é importante que esteja assegurado o rápido transporte do doente para o hospital.

Idealmente, o paciente deve ter uma divisão ventilada que possa ser usada em exclusivo por ele, não é recomendável o uso de espaços partilhados – se tal não for possível, aconselha-se um afastamento mínimo de um metro.

Mais: não devem ser partilhados utensílios de higiene, louça, roupa de cama e outros produtos de uso pessoal. As superfícies e zonas de estadia do paciente devem ser limpas todos os dias e este deve usar máscara (os cuidadores só o têm de fazer quando estão na mesma divisão). Também a roupa deve ser lavada com detergente num programa entre os 60 e os 90º.

O ideal é não receber visitas durante o internamento em casa. Se isso for inevitável, tem de ser feito o registo diário das visitas, com nome e contacto e os cuidadores deverão ser rastreados 14 dias após a alta do familiar.

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