Coronavírus: Provedora recomenda ao Governo que não se esqueça dos animais
Circunstâncias criadas pela pandemia do coronavírus podem potenciar abandono, como já sucedeu na China, avisa Marisa Quaresma dos Reis.
Preocupada com as consequências da declaração do estado de emergência por causa da pandemia do coronavírus em Portugal, a Provedora dos Animais de Lisboa, Marisa Quaresma dos Reis, emitiu uma recomendação ao Governo destinada a evitar o surgimento de situações dramáticas.
Antecipando que os detentores de animais que contraiam a doença possam ficar impedidos de prestar cuidados aos seus bichos, e que o problema possa também atingir as colónias de gatos que dependem dos humanos que regularmente os alimentam, a provedora preconiza a criação de equipas de resgate de animais que tenham estado em contacto com pessoas infectadas, seguindo-se o devido encaminhamento para médico veterinário habilitado e entrega posterior a canis, associações zoófilas ou ainda de confiança do dono do animal. “Muitos animais domésticos (animais de companhia e domesticados em geral, incluindo os de interesse pecuário) correm o risco de ficar isolados, sem acesso a água e alimento ou cuidados médico-veterinários urgentes por força de contaminação dos seus detentores por Covid-19”, assinala. “A situação poderá ser ainda mais grave se estiverem em locais com sérias probabilidades de infecção”, como apartamentos pequenos. Pelo mesmo motivo, muitas associações com animais a cargo poderão ver-se impedidas de prestar os cuidados necessários aos seus animais.
O Provedor dos Animais de Almada já constituiu uma equipa preparada com equipamento próprio para intervir, mediante solicitação, em resgate de animais em ambiente contaminado, tendo estabelecido uma parceria informal com a Provedora Municipal dos Animais de Lisboa para poder actuar também neste município.
O alerta de Marisa Quaresma dos Reis baseia-se num precedente: o abandono dos bichos cresceu exponencialmente na China, e em especial em Wuhan, depois do aparecimento do novo coronavírus, por causa dos receios de contágio pelos animais. Sendo expectável que o mesmo suceda em Portugal, Marisa Quaresma dos Reis pede ao Governo que incremente as penas aplicáveis a este crime durante esta fase. E defende ainda que as restrições de circulação de pessoas que possam vir a ser decretadas não abranjam nem detentores de animais nem veterinários que se desloquem por razões de necessidade urgente de assistência.
A provedora quer igualmente excepcionar de eventuais restrições à circulação os cuidadores de colónias autorizadas pelos municípios e os voluntários de associações zoófilas com animais a cargo que precisem de deslocar-se aos abrigos. Por fim, diz na mensagem que enviou aos secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Presidência do Conselho de Ministros, é preciso garantir a manutenção da cadeia de aquisição e distribuição de alimentos por parte das associações que cuidam dos bichos e também nos canis municipais, os chamados centros de recolha.
Até há dois dias não existiam evidências de que animais de companhia como gatos e cães pudessem contrair e transmitir a doença. Porém, testes realizados a um cão de 16 anos em Hong Kong deram positivo. O animal acabou por morrer, não sendo certo que isso se tenha devido ao vírus.