Coronavírus: Bombeiros transportaram caso positivo sem conhecimento e temem contágio
Comandante dos bombeiros da Benedita, em Alcobaça, diz que paciente infectado foi transportado duas vezes pela corporação. “Quando foi accionada não era para uma situação confirmada, nem sequer suspeita”, afirma António Paulo.
O comandante dos bombeiros da Benedita, em Alcobaça, mostrou-se esta segunda-feira preocupado com o eventual contágio pelo novo coronavírus na corporação, depois de quatro bombeiros terem transportado ao hospital um doente que só se soube estar infectado seis dias depois.
A corporação fez na semana passada dois transportes do primeiro doente confirmado como infectado com Covid-19 no concelho vizinho das Caldas da Rainha (distrito de Leiria), “mas quando foi accionada não era para uma situação confirmada, nem sequer suspeita”, disse à agência Lusa o comandante dos Bombeiros da Benedita, António Paulo.
O doente é residente na freguesia de Santa Catarina, no concelho das Caldas da Rainha, mas face à proximidade à freguesia da Benedita os bombeiros foram accionados na passada segunda-feira (dia 9) para o transportar às urgências do Hospital das Caldas da Rainha, “onde foi consultado e teve alta”, explicou o comandante.
Na quarta-feira a corporação voltou a ser accionada para transportar o mesmo doente, que dessa vez “ficou internado no hospital das Caldas”, de onde foi transferido para Lisboa no final da semana, vindo a confirmar-se o diagnóstico positivo para Covid-19.
A corporação da Benedita só no domingo foi informada, depois de “quatro os bombeiros que o transportaram terem estado toda a semana em contacto com a restante corporação”, com cerca de 70 bombeiros. Por indicação das autoridades de saúde os quatro bombeiros estão agora “em vigilância activa”, sem ter sido sujeitos a qualquer teste, o que está a “preocupar toda a corporação”, disse António Paulo.
“Eles estão ansiosos, os colegas também estão ansiosos porque conviveram com eles durante uma semana”, referiu. Os quatro operacionais não manifestaram até agora quaisquer sintomas.
António Paulo teme pelo “impacto na restante corporação, agora com quatro homens a menos”, esperando que "não venha a sofrer uma redução significativa se mais homens tiverem de entrar em quarentena”.
Contactada pela Lusa, a presidente do concelho de administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO, no qual se integra o Hospital das Caldas da Rainha), Elsa Baião, disse à Lusa ter tido a confirmação do diagnóstico positivo no sábado à noite e, já no domingo, ter “enviado para o delegado de saúde um levantamento dos profissionais que estiveram em contacto com o doente, quer nas urgências, quer no internamento”.
As duas instituições estiveram já esta segunda-feira reunidas para discutir as medidas a tomar, estando a administração do CHO a “aguardar a comunicação de decisões” por parte do delegado de saúde, Jorge Nunes.
A Lusa tentou sem sucesso obter mais esclarecimentos junto do delegado de saúde.
Esta segunda-feira foi confirmada a primeira morte resultante do surto em Portugal.