Coronavírus põe mundo ao contrário: países pobres erguem barreiras a países ricos

Países que normalmente estão no papel de serem impedidos de viajar estão agora a recusar viajantes. O México considera restringir entradas dos EUA, e vários países africanos barram a entrada a europeus.

Foto
EPA/DANIEL IRUNGU

Os países africanos que impuseram medidas mais restritivas aos viajantes foram o Gana e o Quénia, mas o novo coronavírus está trocar as voltas ao que costumam ser as barreiras às viagens: desta vez, os países que normalmente estão no papel de verem os seus habitantes serem impedidos de viajar estão agora a recusar viajantes.

No domingo, o Gana anunciou que não permitirá mais a entrada de pessoas que tenham estado em países com mais de 200 casos de covid-19, o que é o caso de 17 países europeus, aprovando ainda uma quarentena obrigatória de 15 dias para quem for autorizado a entrar no país. Já o Quénia não aceita a entrada de ninguém que tenha estado em qualquer país com qualquer caso registado, excepto os seus próprios cidadãos, que terão, no entanto, de se sujeitar a 14 dias de quarentena.

Também o México está a considerar fechar a fronteira com os Estados Unidos para conter o novo coronavírus. A Albânia anunciou que encerrou a fronteira com a Grécia. Uma série de países africanos restringiu a entrada de uma série de países europeus. Madrid e Rabat acordaram restrições, mas para que espanhóis não viajassem para Marrocos

Depois de o Presidente americano insistir que queria um muro com o México, o facto de a restrição poder beneficiar o vizinho do Sul é irónica, assim como a ideia de que Albânia é que decidiu fechar a fronteira com a Grécia (os imigrantes albaneses na Grécia são muitas vezes discriminados) — curiosamente, Atenas anunciou no dia seguinte que iria encerrar fronteiras com os vizinhos (não só Albânia mas também Macedónia do Norte e Bulgária), como se a ideia de encerrar tivesse partido dos gregos e não dos albaneses.

Mas onde esta restrição é mais notória é em vários países africanos, já que alguns dos que estão agora a restringir ou impedir entrada de pessoas vindas de países europeus e dos EUA são os mesmos que viram as suas movimentações muito afectadas por causa da epidemia do ébola, há seis anos — com suspensão de voos, de vistos, e quarentenas. Agora, as medidas são ao contrário e o medo e as suspeitas em países da África Subsariana são dirigidos aos europeus, já que a maioria de casos de infecção na maioria dos países com casos registados veio de países europeus, nota o jornal Globe and Mail (Canadá).

O Uganda restringiu entradas de países incluindo China, Irão e Coreia do Sul mas também Alemanha, França, Itália e Espanha, “para evitar “a importação de casos”, disse a ministra da Saúde Jane Ruth Aceng. 

A República Democrática do Congo impôs quarentenas a quem viesse de Itália, Alemanha, França e China. Já o Ruanda impôs um regime de exames à entrada para quem viesse de qualquer país com casos confirmados, com isolamento obrigatório para casos suspeitos. Uma pessoa que não apresente sintomas mas venha de países com casos confirmados será incluída numa base de dados e sujeita a vigilância electrónica “e monitorização diária” durante 14 dias.

O jornal online 237, dos Camarões, notava que, “com a epidemia que ganha terreno na Europa, a África é o principal destino de pessoas assustadas”, por ser “o continente menos afectado pela epidemia, muitos italianos fogem do vírus no seu país a coberto do turismo”. Alguns turistas italianos que desrespeitaram as regras da quarentena foram mesmo expulsos, por exemplo, da Mauritânia.

Sugerir correcção
Ler 19 comentários