Consciência comunitária em tempo de coronavírus: façamos a diferença
A democracia deste vírus chama-se empatia: sermos empáticos uns com os outros, garantirmos que cumprimos o nosso dever cívico e social. Não vale a pena pedir para lavar as mãos e manter a distância social se não somos capazes de influenciar pela positiva e garantir que pelo menos a nossa rede está informada e capacitada.
Vivemos numa avalanche de informação e de contra-informação sobre a covid-19. Num dia assistimos à primeira enchente do ano de pessoas na praia e no seguinte já estamos a ouvir o “grito de consciência” do Nuno Markl, na Caderneta de Cromos da Rádio Comercial. Entretanto, todos aqueles que foram para a praia e todas as suas famílias fazem publicações de revolta nas redes sociais. Dizem que o Governo não tem coragem e que é inadmissível que as escolas estejam abertas.
“Vamos passar pelo mesmo que a Itália está a passar”, atira o típico português. Horas depois, o Governo comunica o encerramento das escolas, creches, ATL, bem como algumas restrições para espaços públicos, etc. Como reagem todas estas pessoas? Num loop de: “E agora? Tenho de ficar 14 dias em casa e, ainda por cima, posso só receber 66% do meu ordenado”. “E agora, quem é que não tem coragem?”, pergunto eu.
Ser consciente não significa ter medo ou menos coragem do que o vizinho do lado; significa que estamos informados e tomamos as decisões o mais acertadas possível. É por aqui o caminho.
Movimentos como o do #StayTheFuckHome tentam unir a população para uma só acção: ficar em casa. Parece fácil mas ainda há quem se ache mais esperto do que os outros. Estes são também movimentos que criticam a pouca acção do nosso Governo. Mas vamos aprender a agir apenas em relação àquilo sobre o qual temos controlo e, por agora, é o momento de sermos os heróis da nossa casa. Vamos deixar de ser os “velhos do Restelo”, sempre a achar que o sistema está contra nós. Temos de confiar e aceitar.
Esta é uma crise real, uma crise de saúde pública, mas, acima de tudo, uma crise de consciência social. Esta é “a” crise que nos pode ensinar a ser um “exemplo comunitário”. Na verdade, com a emergência climática e a crise dos refugiados, por exemplo, esta é mais uma de muitas crises pelas quais estamos a passar. Este não é um momento político nem de estratégias de marketing — e muito menos um momento de acharmos que só acontece aos outros.
A democracia deste vírus chama-se empatia: sermos empáticos uns com os outros, garantirmos que cumprimos o nosso dever cívico e social. Não vale a pena pedir para lavar as mãos e manter a distância social se não somos capazes de influenciar pela positiva e garantir que pelo menos a nossa rede está informada e capacitada.
Enquanto líder de uma organização que tem como missão aumentar os índices de envolvimento cívico e social, tive de pensar como é que íamos manter o contacto com todos os nossos aprendizes — jovens e idosos — e garantir que todos aqueles que pertencem ao grupo de risco se mantenham o máximo possível em segurança. E é aqui que entra a verdadeira consciência social e a empatia: garantir que quem faz parte da organização está disponível para servir todos aqueles que estão mais vulneráveis.
Devemos e podemos fazer coisas simples como ir às compras para as nossas aprendizes com mais de 60 anos, partilhar talentos online, “alimentar” a comunidade com informação fidedigna e, acima de tudo, ter a certeza de que os nossos mais de 600 aprendizes jovens vão ser o exemplo das suas escolas, bairros, instituições e de todos os contextos onde nos inserimos. Os nossos não vão à praia. Vão aproveitar esta fase para pensar como é que podem continuar a transformar a sociedade a partir de casa. O movimento da actualidade deveria passar por #FicaAlertaPelosOutros.
Façam a vossa parte e aproveitem a democracia deste vírus para serem um exemplo para todos. Esta é mais uma mensagem de consciência.