Sindicato reclama fecho dos maiores call centers

Apesar dos planos de contingência, haverá empresas onde não estarão a ser respeitadas as distâncias a separar os postos de trabalho nos call centers.

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Nalguns call centers, diz o sindicato, há trabalhadores que usam os mesmos "headsets" Daniel Rocha

O Sindicato dos Trabalhadores de Call Center (STCC) reclama encerramento dos centros de atendimento com mais de 200 trabalhadores, com excepção das actividades consideradas essenciais, e alerta para o facto de haver alguns locais de trabalho onde os funcionários usam o mesmo material para atender as chamadas (auscultadores e microfone).

Embora várias empresas estejam a cumprir os planos de contingência de prevenção da propagação do novo coronavírus, chegaram ao STCC relatos de trabalhadores preocupados com o facto de haver empresas onde não estará a ser respeitada a distância de segurança entre os trabalhadores que estão nas secretárias de atendimento, continuando a aplicar-se as regras como se o país não enfrentasse uma situação de propagação do covid-19.

Manuel Afonso, dirigente do sindicato, dá o exemplo de que, hoje, numa linha de atendimento num call center em Lisboa, as “pessoas pararam de atender chamadas porque não se sentem protegidas”. Não podemos continuar a trabalhar normalmente até estar implementado o teletrabalho, afirma o dirigente sindical, lembrando que a maioria “simplesmente não tem espaço para garantir o distanciamento entre trabalhadores”. Em geral, alertou já na quinta-feira à noite o STCC num comunicado, há menos de um metro a separar os postos de trabalho” e, nalguns casos, há “troca diária de postos de trabalho e até de headsets [usados para fazer as chamadas telefónicas]”.

Para o sindicato, é preciso encerrar imediatamente “todos os call centers com mais de 200 trabalhadores” e avançar também com o fecho “daqueles, ainda que menores, em que haja casos comprovados de covid-19, exceptuando actividades essenciais”. Nos casos em que os trabalhadores sejam colocados em regime de teletrabalho, é preciso que os funcionários não sejam responsabilizados “pelos meios técnicos ou pelos custos (electricidade, internet em casa etc.) que tal implica”, defende o sindicato.

Nos call centers, calcula o STCC, haverá entre 80 a 100 mil trabalhadores, havendo em “quase todos” os locais uma concentração de “centenas ou milhares” de funcionários, sobretudo na Grande Lisboa e no Grande Porto. Há, para o sindicato, ainda outros factores de risco acrescidos que tornam estes locais de trabalho “um potencial foco de transmissão do covid-19”, quer seja o facto de haver trabalhadores que, sendo de outros países, “viajaram recentemente”, quer pelo facto de haver empregados mais velhos que trabalham nos centros de atendimento.

“Ao contrário do que se pensa, cada vez mais trabalham em call centers pessoas de idades mais avançadas. Além disso, a natureza desta actividade potencia as doenças respiratórias. Estamos por isso, perante muitos casos de risco grave”, vinca a estrutural sindical no mesmo comunicado.

“Apesar de várias empresas de call center – não sabemos se todas – estarem a cumprir com o Plano de Contingência da DGS, as medidas estão aquém do necessário. Assistimos, por parte das empresas, a uma preocupação em acautelar esquemas de teletrabalho ou até em mover trabalhadores de forma a não interromper determinadas linhas, quando as faltas aumentarem, nomeadamente perante o previsível encerramento das escolas. Contudo, não faz sentido o encerramento de escolas ou de eventos desportivos e ao mesmo tempo manter abertos call centers com centenas ou milhares de trabalhadores concentrados diariamente nas condições citadas”, refere a mesma estrutura sindical.

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