Desafios imprevistos dos refugiados e coronavírus não desviaram Comissão da sua agenda, garantiu Von der Leyen

Líder do executivo europeu fez o balanço dos primeiros cem dias de mandato, e pediu aos chefes de Estado e governo para aprovarem “urgentemente” um novo orçamento comunitário.

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Ursula von der Leyen Reuters/YVES HERMAN

A apresentação de um novo Pacto Europeu para as Migrações já era uma das prioridades identificadas pela presidente da Comissão Europeia para o arranque do seu mandato: o que Ursula von der Leyen não antecipara era que a nova abordagem “abrangente e coerente” para a gestão dos fluxos migratórios em território europeu seria desenvolvida sob pressão e em contra-relógio, no meio de mais uma crise que atirou milhares de pessoas para o território de ninguém, algures entre a fronteira da Grécia e da Turquia.

“Quando comecei a trabalhar havia muitas matérias difíceis na agenda, mas o acordo entre a União Europeia e a Turquia não era uma delas”, admitiu Von der Leyen. Mas é essa a natureza dos “desconhecidos desconhecidos”, segundo a célebre formulação do antigo secretário de Estado da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld.

Ao contrário dos imprevistos para os quais convém estar de sobreaviso, há outros acontecimentos verdadeiramente inesperados — talvez por isso, ao fazer o balanço dos primeiros 100 dias do seu mandato, a presidente da Comissão Europeia tenha distinguido a situação tensa na fronteira externa da UE da nova crise representada pela expansão do novo coronavírus, que já infectou mais de 11.500 indivíduos em 30 países europeus e causou 396 mortes.

Em relação à situação na fronteira da Grécia, Von der Leyen lembrou que já “tinha avisado que precisávamos de encontrar soluções estáveis para a questão das migrações”, e que nestes primeiros cem dias a Comissão consultou todos os 27 Estados membros em preparação do novo Pacto Europeu para as Migrações que, antecipou, “vai ser lançado logo a seguir à Páscoa”. “A União Europeia está mais bem preparada do que em 2015, mas ainda não está totalmente preparada”, disse — sem se referir concretamente à aguardada reforma do sistema de Dublin para o acolhimento de refugiados, que merece a oposição de vários Estados membros.

No que diz respeito à “outra situação aguda que tem a ver com a disseminação do coronavírus”, a presidente também evitou dizer que a Comissão Europeia foi apanhada desprevenida, apesar de ter concedido que houve alguma “atribulação” na reacção inicial à crise. Mas “estamos a acompanhar os desenvolvimentos” e a “olhar para tudo o que podemos fazer para mitigar o impacto na vida das pessoas e na economia europeia”, prometeu, chamando a atenção para a forte coordenação e colaboração entre todas as instituições europeias (incluindo também o Eurogrupo e o Banco Central Europeu) e as autoridades nacionais.

De resto, a presidente da Comissão Europeia referiu-se aos “tempos difíceis” que a União Europeia atravessa para apelar e pressionar os líderes europeus a agirem com mais determinação e ambição, nomeadamente através da aprovação de um novo quadro financeiro plurianual que permita responder aos desafios com que o bloco se confronta. “Neste momento em que as pessoas e os países reclamam que a Europa faça mais, olho para a frente e não vejo nenhuma flexibilidade para lidar com as crises com que nos confrontamos”, lamentou Von der Leyen, lembrando que o actual orçamento se esgota no final deste ano.

“Peço urgentemente aos Estados membros que cheguem a acordo para o próximo quadro plurianual”, apelou a líder do executivo comunitário, que não escondeu o seu descontentamento e até frustração com a inflexibilidade e teimosia dos chefes de Estado e governo e o prolongamento do impasse nas negociações do orçamento comum — que vai financiar a “agenda positiva” e a “nova visão para a Europa” que os próprios definiram.

Afinal, vincou Von der Leyen, “os desafios imprevistos não desviaram a Comissão da sua agenda”, notou, apontando para a estratégia para a UE alcançar a neutralidade climática em 2050.

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