A mensagem por trás da prisão dos príncipes sauditas: não se metam no caminho de MBS para o trono
Fontes ligadas à realeza saudita disseram que a jogada de Mohammed bin Salman visa manter a unidade da família Al Saud, onde tem havido dissidências, antes de uma eventual sucessão, pela abdicação ou a morte do rei Salman.
O herdeiro saudita quis passar uma mensagem inequívoca aos seus críticos dentro da família real ao mandar prender três importantes príncipes no fim-de-semana: não se atrevam a atravessar-se no meu caminho para o trono.
O principal alvo da jogada de Mohammed bin Salman (conhecido por MBS), dizem as fontes, foi o irmão do rei Salman, o príncipe Ahmed bin Abdulaziz, um dos três membros do Conselho da Lealdade, que se opuseram à sua escolha como herdeiro em 2017.
Quatro fontes ligadas à realeza saudita disseram que a jogada visou manter a unidade da família Al Saud, onde tem havido dissidências, antes de uma eventual sucessão, pela abdicação ou a morte do rei.
Uma das fontes descreveu as detenções como um esforço preventivo para garantir que a “ascensão” ao trono do príncipe Mohammed “seja carimbada pelo Conselho de Lealdade quando chegar o momento”.
Ahmed, de 78 anos, foi detido na sexta-feira juntamente com Mohammed bin Nayef, que foi príncipe herdeiro até ser afastado, em 2017, e substituído por MBS. Nayef, filho de Ahmed, e Nawaf, irmão de Mohammed, foram igualmente presos, garantiram outras duas fontes com ligações à família real.
Os príncipes encontram-se fechados em vivendas da realeza na capital, Riad, e alguns puderam contactar as suas famílias, referiram as fontes.
O príncipe herdeiro Mohammed, que tem sido implacável para endurecer o seu controlo do poder, temia que os príncipes descontentes pudessem unir-se em apoio a Ahmed e a Mohammed bin Nayef como potenciais alternativas para o trono, disseram duas fontes e um alto diplomata estrangeiro.
“São preparativos para a transferência de poder”, considera uma das fontes. “É uma mensagem clara para família, ninguém pode dizer ‘não’ ou atrever-se a desafiá-lo”.
As autoridades sauditas não confirmaram ou comentaram as detenções, que não forma noticiadas pelos media do país.
Se MBS, de 34 anos, suceder ao pai, será a primeira transferência de poder com este modelo desde a morte do fundador da dinastia, Abdulaziz Ibn Saud em 1953, a quem sucederam seis filhos, à vez.
O Conselho da Lealdade, formado por um membro de cada casa dos 34 filhos de Abdulaziz, visa garantir que centenas de príncipes que formam a nova geração da família real se mantêm unidos à volta do novo monarca.
Um alto funcionário da diplomacia disse que as detenções são mais um golpe na imagem do país no estrangeiro, quando parecia estar a recuperar do impacte do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi e das críticas pelo envolvimento na guerra no Iémen.
O príncipe herdeiro Mohammed já tinha detido vários importantes membros da família real e influentes homens de negócios em 2017, no hotel Ritz-Carlton, deixando os investidores sauditas e estrangeiros nervosos. Mais recentemente, parecia que esses dias de imprevisibilidade tinham acabado, com Riad a assumir este ano a presidência do grupo das maiores economias do mundo.
Descontentamento real
Quando as fontes descreveram, inicialmente, as detenções dos últimos dias, várias delas disseram que os príncipes tinham sido acusados de planear um golpe contra a ascensão de MBS. Porém, algumas das mesmas fontes, e outras que falaram depois, ofereceram uma justificação mais abrangente, descrevendo as prisões como resposta à acumulação de uma série de atitudes que desagradaram e não a uma conspiração contra o príncipe herdeiro.
Duas fontes usaram a mesma frase, dizendo que os príncipes tinham recebido “um puxão de orelhas” para pararem de criticar Mohammed bin Salman.
Ao ser o anfitrião de reuniões tradicionais conhecidas como majlis, o príncipe Ahmed questionou a posição do herdeiro em várias matérias, incluindo o plano dos Estados Unidos para o conflito israelo-palestiniano, disse uma das fontes.
A Reuters não pôde contactar Ahmed ou os outros príncipes. Fontes disseram que regressou de uma viagem ao estrangeiro e foi preso. No sábado, pediu à família para lhe levar o seu bisht, o casaco tradicional usado em momentos solenes, sugerindo que pode aparecer em público em breve, dissera duas fontes, uma delas com relações com a família real.
Fontes conhecedoras das questões sauditas e diplomatas ocidentais dizem que a família não deve opor-se ao príncipe herdeiro enquanto o rei estiver vivo, e que o monarca não se vai voltar contra o filho favorito, a quem delegou a maior parte das responsabilidades.
As recentes detenções motivaram, contudo, especulações sobre a saúde do rei Salman, de 84 anos, mas fontes disseram que se mantém são, do ponto de vista mental e físico. A televisão estatal emitiu no domingo uma peça que o mostra a receber dois embaixadores.
O filho de Mohammed bin Nayef, Saud, e o filho deste, o ministro do Interior, príncipe Abdulaziz, que estavam entre os detidos, apareceram em fotografias de actos oficiais no domingo.
Os membros da realeza que procuram alterar a linha da sucessão viam o príncipe Ahmed como uma escolha possível que teria o apoio dos membros da família, disseram fontes do aparelho de segurança e fontes ocidentais.
Debilidades
Os outros dois membros do Conselho de Lealdade que se opuseram a que MBS fosse o herdeiro em 2017 são mais jovens e menos proeminentes. Um deles vive no estrangeiro. Os críticos questionaram a capacidade de governar do príncipe herdeiro depois do assassínio de Khashoggi em 2018, crime cometido por agentes sauditas, e depois de uma instalação petrolífera saudita ter sido atacadas no ano passado, dizem as fontes.
Os passos de Mohammed bin Nayef passaram a ser controlados a partir de 2017. Ahmed manteve-se discreto desde que regressou a Riad em Outubro de 2018, depois de passar dois meses e meio fora, quando apareceu em público para criticar a liderança saudita ao responder aos manifestantes que estavam fora da sua residência em Londres a pedir a queda da Casa de Saud. Os observadores dizem que não há provas de que aspire ao trono.
A segunda fonte com ligações à família real disse que o príncipe herdeiro pode ter querido limpar o caminho antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos, receando que a sua posição fosse afectada caso Donald Trump perca.
O diplomata estrangeiro afirmou que pode ter agido contra o tio e o primo por excesso de zelo, receando que “os americanos, um dia, se voltem para eles”. Reuters