Presidente em isolamento, vítima colateral do epicentro do coronavírus em Portugal
Marcelo Rebelo de Sousa cancelou a agenda depois de ter recebido alunos de escola de Felgueiras mandada encerrar pelas autoridades de saúde. Cadeia de transmissão naquela região é responsável por metade dos 30 casos já confirmados no país.
Em França, o novo coronavírus chegou ao Parlamento e contagiou deputados e funcionários. No Irão, o ministro-adjunto da Saúde, vários deputados e a vice-presidente foram diagnosticados com a covid-19. Em Inglaterra, dois parlamentares do Partido Trabalhista ficaram de quarentena por terem estado num congresso em que um dos participantes foi infectado. O vírus não deixou descansada a classe política mundial, mas foi Marcelo Rebelo de Sousa o primeiro Presidente da República a entrar em período de isolamento.
A meio da tarde de domingo, a informação de que o chefe de Estado suspenderá a sua actividade durante duas semanas – a começar no dia em que cumpre quatro anos de mandato – foi divulgada através do site da Presidência.
“O Presidente da República, apesar de não apresentar qualquer sintoma virótico, decidiu cancelar toda a sua actividade pública, que compreendia várias presenças com número elevado de portugueses, assim como a própria ida a Belém, durante as próximas duas semanas. O mesmo fará com deslocações previstas ao estrangeiro”, lê-se em comunicado oficial, emitido um dia depois de Marcelo ter reduzido a agenda.
A decisão foi tomada depois de ouvidas as autoridades de saúde e após ter-se sabido que na noite de sábado foi “internado um aluno de uma escola de Felgueiras” que esteve na edição da última terça-feira do programa “Artistas no Palácio de Belém”, com Marcelo. Registe-se, no entanto, que nem o aluno ora internado nem a sua turma estiveram em Belém.
Marcelo Rebelo de Sousa vai fazer um teste nesta segunda-feira para despistar uma possível infecção com coronavírus. Os resultados serão publicados no site da Presidência da República.
O primeiro-ministro, António Costa, informou, entretanto, que vai manter a agenda prevista “salvo indicação em contrário” da Direcção-Geral da Saúde.
A escola frequentada pelos alunos que visitaram o Presidente da República é a Básica e Secundária de Idães, uma das instituições de ensino cujo encerramento tinha sido anunciado, na noite de sábado, pela ministra da Saúde – e que está no epicentro do contágio pela covid-19 em Portugal.
O vírus, trazido de Itália por um trabalhador de uma fábrica de calçado, que tinha estado em Milão para participar na Micam, a principal feira mundial do sector, espalhou-se pela região do Vale do Sousa.
Só no concelho de Felgueiras há 11 pessoas infectadas com coronavírus e mais de uma centena de casos suspeitos. Quase todos se localizam na freguesia de Idães, no extremo sudoeste do concelho, junto a Lousada – onde trabalha o paciente que “importou” a doença. A autarquia de Felgueiras anunciou o encerramento de todos os serviços municipais, como a biblioteca e a piscina, naquela localidade.
A cadeia de transmissão iniciada pelo doente vindo de Milão é responsável por metade dos 30 casos confirmados em Portugal. Estão todos internados no Hospital de S. João, no Porto. No sábado, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) já tinha sublinhado que esse era o “cluster” mais importante de propagação do coronavírus no país. Este domingo foram confirmados mais quatro casos relacionados com este.
O mesmo doente está também na origem das decisões de encerramento da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, na Universidade do Porto, e da suspensão das aulas no campus de Gualtar, em Braga, da Universidade do Minho. Uma estudante da Universidade do Porto e o namorado, aluno da Universidade do Minho, estiveram na mesma festa familiar em que esteve esse paciente. Terá sido nesse momento que contraíram a doença.
Ao contrário do que tinha feito nos boletins epidemiológicos que tem divulgado desde a confirmação das primeiras infecções com covid-19 em Portugal, a DGS já não publicou neste domingo o diagrama com as origens dos diferentes casos. Na versão mais recente limita-se a informar que há “quatro cadeias de transmissão activas”. Já o número de casos “importados” subiu para seis – um com origem em Espanha e os restantes em Itália – depois da confirmação do primeiro caso no Algarve.
Até ao momento, as medidas mais restritivas anunciadas pela ministra da Saúde – e que incluem a suspensão das visitas em hospitais, lares de idosos e prisões – concentram-se na área de influência da Administração Regional de Saúde (ARS) Norte. Grosso modo, as regiões abrangidas correspondem aos limites dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Bragança. De fora destas limitações ficam a maior parte dos distritos de Viseu e Aveiro, que integram a ARS Centro, com sede em Coimbra.
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