Lisboa é a segunda pior capital europeia na exposição ao ruído do tráfego aéreo
Cerca de 10% da população de Lisboa está exposta a níveis superiores a 50 dB, no que diz respeito ao ruído nocturno entre as 23h e as 7h.
A associação ambientalista Zero disse este domingo que Lisboa é a segunda pior capital europeia, a seguir ao Luxemburgo, em termos de exposição ao ruído do tráfego aéreo, depois de analisar um recente relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA).
De acordo com a análise da Zero, divulgada este domingo, o relatório Ruído Ambiental na Europa. 2020, publicado pela AEA na quinta-feira, concluiu que Lisboa é a segunda pior capital europeia, a seguir ao Luxemburgo, em termos de exposição ao ruído do tráfego aéreo, no que respeita ao indicador Lden (média de 24 horas ponderada por períodos diurno, entardecer e nocturno), com 15% da população do município exposta a níveis superiores a 55 decibéis (dB), e ao indicador Ln (ruído nocturno entre as 23h e as 7h), com 10% da população exposta a níveis superiores a 50 dB.
“As conclusões são verdadeiramente impressionantes e dramáticas. Portugal, comparativamente com os outros países da União Europeia e Reino Unido, apresenta uma situação muito desfavorável em termos de níveis de ruído identificados no quadro da legislação europeia no que respeita ao tráfego aéreo”, defende aquela associação ambientalista, em comunicado. Esta situação, diz, “sobressai em relação ao ruído dos tráfegos rodoviário e ferroviário”.
Os dados indicam também que Portugal tem cerca de 7% da população das aglomerações (onde, de acordo com a legislação europeia, se incluem os municípios de Lisboa e Porto e alguns dos arredores destas duas cidades) exposta a valores superiores a 50 dB, associados exclusivamente ao tráfego aéreo.
Portugal aparece também como o país da União Europeia com maior percentagem de crianças entre os sete e os 17 anos afectadas por problemas de leitura nas áreas afectadas por tráfego aéreo (6,8%) e, em termos absolutos, é o quinto pior país, com cerca de 7500 crianças afectadas, destaca a Zero.
“Os dados apresentados tornam inequívoca a necessidade de urgentemente garantir a exclusão absoluta de voos nocturnos, tal como previsto na Lei do Ruído, e sem quaisquer excepções após o final das obras em curso”, defende a associação, que considera “necessário discutir de forma estratégica” o futuro do aeroporto Humberto Delgado a médio prazo e inviabilizar o “contrato de permanência desta infra-estrutura até ao ano de 2062”.
Em Janeiro, num debate sobre o aeroporto da capital, o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, já tinha alertado para o facto de a Lei do Ruído estar a ser ignorada em Lisboa e de a poluição sonora ultrapassar “em muito” os níveis permitidos devido aos aviões.
Numa audição parlamentar na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, no dia 19 de Fevereiro, o ministro das Infra-estruturas rejeitou que a expansão do aeroporto de Lisboa seja para aumentar os movimentos por hora, assegurando que a ideia é pôr a infra-estrutura a funcionar com fluidez, permitindo a eliminação de voos no período nocturno. “Caminharmos para zero voos no período nocturno” é o objectivo, afirmou o ministro Pedro Nuno Santos, referindo que esta é “uma exigência justa” do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina.