Elisa vence Festival da Canção com Medo de Sentir
De fora ficaram Tomás Luzia, Elisa Rodrigues, Kady, Bárbara Tinoco, Filipe Sambado, Jimmy P e Throes + the Shine.
Medo de Sentir, escrita por Marta Carvalho para a voz de Elisa (Silva), é a canção vencedora da edição de 2020 do Festival da Canção. As vozes da compositora e da intérprete juntaram-se este sábado à noite na final no Coliseu Comendador Rondão de Almeida, em Elvas, e conseguiram 20 pontos na competição que foi transmitida em directo na RTP1, numa emissão conduzida por Filomena Cautela e Vasco Palmeirim, com Inês Lopes Gonçalves a tratar das entrevistas com os músicos no green room.
A canção favorita do júri, Gerbera Amarela do Sul, de Filipe Sambado, que foi interpretada, como na primeira semifinal, com um décor fúnebre, ficou em terceiro lugar com 16 pontos, enquanto Passe-Partout, de Tiago Nacarato para Bárbara Tinoco e a sua coreografia muito à musical de Hollywood, ficou em segundo lugar, com 18 pontos. As outras canções em concurso eram Abensonhado, do rapper Jimmy P com o Gospel Collective, Mais Real que o Amor, com música de Pedro Jóia e letra de Tiago Torres da Silva para a voz de Tomás Luzia, Não Voltes Mais, de Elisa Rodrigues (a outra Elisa a concurso), Movimento, de Throes + the Shine, Diz Só, pela voz de Kady, com letra de Kalaf Epalanga e música de Dino D'Santiago.
Marta Carvalho, que escreveu a canção vencedora, foi finalista do concurso da RTP The Voice em 2016. Já trabalhou com vários nomes da música portuguesa, de Carolina Deslandes a Bárbara Bandeira, passando por Diogo Piçarra ou Karetus, e em Setembro do ano passado lançou-se como artista em nome próprio ao editar o single Deslizes. Na primeira semifinal, etapa em que Medo de Sentir foi apurada, a canção foi defendida apenas pela voz da madeirense Elisa Silva. Desta feita, em Elvas, a compositora juntou-se à intérprete.
As duas falaram pelo telefone com o PÚBLICO na tarde deste domingo. A votação, em que só mesmo no final, apurados os votos do público, se pôde vislumbrar melhor quem poderia ganhar, foi, disseram, um “momento de muita tensão, que de alguma forma tornou tudo ainda mais bonito”. “Não estávamos à espera, ninguém estava à espera, foi sofrer até ao final. A vitória já era só participar, estarmos a conviver com aqueles artistas maravilhosos, isto só acrescentou à experiência”, declarou Elisa.
As duas ainda não decidiram se irão ou não apresentar-se juntas em palco em Roterdão como fizeram na final. “Ainda temos de pensar. Não tivemos tempo para reunir com a nossa equipa e decidir. Temos de ver, ouvir e perceber se é de facto o melhor”, explicou Marta Carvalho, que descreve a decisão de ter subido ao palco na final por ser uma canção que trata da própria amizade entre as duas.
"Fala de nós as duas, estamos a dizer isto tão juntas, temos aqui esta amizade, achámos que o público ia apaixonar-se por esta cumplicidade”, mencionou a autora, que conheceu a cantora no estúdio Great Dane Studios, onde ambas trabalham, depois de se ter “apaixonado” pelo trabalho dela através de vídeos do YouTube, pouco antes de ter sido convidada para compor uma canção para o festival. Sobre ter convidado outra pessoa que não a própria para cantar, Marta Carvalho explicou que “nos primeiros cinco minutos, quando ainda estava a pensar se aceitava”, pensou “em todas as possibilidades”, mas “muito rapidamente” chegou “à conclusão de que o melhor era mostrar uma coisa que pouca gente conhece”, a sua faceta de compositora. “O público viu-me mais a cantar do que a compor e quis revelar um bocadinho da nossa amizade”, continuou, e a canção fazia mais sentido na voz de Elisa.
A cerimónia, que durou mais de três horas, contou com um número musical de abertura em homenagem aos 63 anos da RTP, comemorados na mesma noite em que a final decorreu. Com cante alentejano ao início, o número estava recheado de referências a produções nacionais e internacionais que fizeram parte da História da televisão pública em Portugal, de Verão Azul a Duarte e Companhia.
Depois das apresentações das canções houve ainda espaço para um tributo ao boom do rock português dos anos 1980, a cargo de Samuel Úria e da sua banda, com várias vozes convidadas. Começou, na primeira parte, com uma versão ainda mais Ramones de Cavalos de Corrida, dos UHF, com direito a “Hey ho, let's go” no início e tudo, e as vozes de Alex D'Alva Teixeira, de D'Alva, banda que compôs um tema para Ana Cláudia no ano passado, a fazerem-se ouvir numa versão muito My Sharona, dos The Knack, de Portugal na CEE, dos GNR, e Joana Espadinha, que em 2018 foi à final do Festival, e cantou uma versão folk de Amor, dos Heróis do Mar.
Na segunda parte juntaram-se as vozes de dois concorrentes do ano passado, Surma, que cantou Olha o Robot, de Salada de Frutas, numa versão muito synth-pop a dar lugar a Remar Remar, de Xutos & Pontapés, e NBC, que trouxe com ele Playback, de Carlos Paião. Com Úria a tocar harmónio, veio ao palco a convidada surpresa Lena D'Água, a intérprete original de Olha o Robot, para cantar Estou Além, de António Variações.
Ainda antes de se conhecerem os resultados da votação do júri e do público, Conan Osiris, o vencedor do ano passado, interpretou uma versão muito mais comedida de Telemóveis, a canção que o levou a Israel, com a ajuda de cordas e flauta, sem deixar de fora o dançarino João Reis Moreira.
Medo de Sentir representará Portugal no Festival Eurovisão da Canção, que este ano decorrerá entre 12 e 16 de Maio em Roterdão, na Holanda, após a vitória de Duncan Laurence no ano passado em Telavive.