Por “dignidade e confiança”: presidente do Coliseu do Porto demite-se

Eduardo Paz Barroso diz ter tido conhecimento da sua substituição, enquanto representante da Área Metropolitana do Porto na Associação Amigos do Coliseu, pela comunicação social. Até ao fim do mês, deixa o cargo.

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Coliseu do Porto é propriedade da Associação de Amigos do Coliseu desde 1995 Nelson Garrido

Eduardo Paz Barroso, presidente do Coliseu do Porto, não gostou de ter sabido pela comunicação social que iria deixar de representar a Área Metropolitana do Porto na Associação Amigos do Coliseu. E isso mesmo fez saber a esse órgão - e ao presidente da mesa da Assembleia Geral e ao presidente do Conselho Fiscal da associação - esta segunda-feira à tarde. Paz Barroso sairá de funções no final de Março. “Não tenho condições, por razões de dignidade e confiança, de continuar a assegurar essa representação e o cargo de Presidente da Direcção, à qual renuncio e do qual me demito”, lê-se num documento ao qual o PÚBLICO teve acesso.

Na semana passada, a AMP nomeou, por unanimidade, Maria João Castro para ser sua representante na associação que desde 1995 é detentora do Coliseu. A vereadora do PS na Câmara do Porto vai suceder a Eduardo Paz Barroso, no triénio 2020-2023, cabendo agora ao Ministério da Cultura indicar um nome para a direcção e presidência. A Câmara do Porto irá propor a recondução de Nuno Lemos, membro dos corpos directivos da empresa Águas do Porto, como vogal da direcção.

À agência Lusa, a AMP recusa ter substituído Eduardo Paz Barroso e que o dirigente “completaria integralmente, em condições normais, o mandato para o qual foi eleito”. A nomeação de Maria João Castro, sublinha, aconteceu apenas porque o mandato da actual direcção está a terminar. 

Eduardo Paz Barroso, que cumpriu já dois mandatos, lamenta os contornos do processo: “Não é maneira de tratar as pessoas”, comentou em conversa com o PÚBLICO. A nomeação de Maria João Castro sem o seu conhecimento não foi o primeiro sinal de dissonância entre as partes. Desde final de Janeiro, quando a hipótese de concessão do Coliseu do Porto se tornou pública, que Eduardo Paz Barroso sentiu trabalhar num cenário de “impasse” que lhe desagradava. 

A 14 de Fevereiro dirigiu à AMP uma carta onde elencava os compromissos assumidos com promotores, fazendo um apanhado das perdas que estavam a ter por não conseguir garantir a quem pretendia fazer espectáculos no Coliseu se a sala estaria disponível ou a empreitada de reabilitação seria, entretanto, iniciada. “Esse anúncio das obras devia ter sido acompanhado por um plano de acção, fixando datas”, critica, dizendo que nunca teve resposta a essa missiva. 

A situação prolonga-se na icónica sala da Rua de Passos Manuel e é “insustentável”, avisa o presidente demissionário. Num contexto normal, exemplifica, um espectáculo como o Circo de Natal do Coliseu já estaria a ser estruturado por esta altura. Mas não está - e isso, diz, pode significar um Natal de 2020 sem circo. 

Concessão e futuro

Na assembleia-geral da Associação Amigos do Coliseu marcada para final da próxima semana, dia 13 de Março, haverá vários pontos em debate. De um deles sairá a decisão sobre a concessão do Coliseu, mandatando-se a associação a proceder à “instrução de um procedimento de concurso público que tenha como objecto a concessão”, com o objectivo de avançar com a “reabilitação, requalificação e exploração” do mesmo, por um “período ainda a definir”. Num segundo ponto, será debatida a possibilidade de rever o estudo realizado por Vasco Freitas para avaliar a intervenção a fazer no edifício, que nunca teve obras de fundo. Na análise original do docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto tinha sido diagnosticada a necessidade de um investimento de 8,5 milhões de euros. 

À direcção do Coliseu do Porto, agora com um presidente demissionário, será recomendada a adequação da programação da sala, “no sentido de não comprometer o futuro da concessão, exercendo uma gestão criteriosa dos compromissos que a programação determine, tendo em conta os prazos expectáveis para o términos do concurso público”. A direcção, propõem ainda, deverá abster-se de fazer “contratação de recursos humanos ou outra que exceda as necessidades de gestão corrente e que determine novas obrigações para o concessionário”. 

Eduardo Paz Barroso recusa tecer considerações sobre a concessão do Coliseu a privados. “É uma das soluções. O importante é que se faça a obra e preserve a associação”, limita-se a dizer. O futuro? “Espero que seja bom”, afirma, fazendo um pequeno balanço dos seus dois mandatos. “Saio com a consciência tranquila de que fiz tudo. O Coliseu reinventou-se.”

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