Rui Moreira preferia que texto de Regina Guimarães “não tivesse sido censurado” mas diz que Teatro Municipal “não é um albergue”

Presidente da Câmara Municipal do Porto, na Assembleia Municipal do Porto de segunda-feira, defendeu aposta em espaços intermédios para dar lugar aos grupos artísticos “mais pequenos”.

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Rui Moreira, ao centro Nelson Garrido

O presidente da Câmara Municipal do Porto defendeu, a propósito dos alegados casos de censura no Teatro Municipal, que a cidade precisa de apostar em “espaços intermédios” que permitam novas companhias de teatro e grupos “mais pequenos” actuar.

“Nós precisamos de ter espaços intermédios não programados pelo Teatro Municipal, que permitam que as novas companhias, grupos mais pequenos e mais jovens possam fazer a sua vida e isso terá de ser a próxima aposta da cidade. Acredito que por aí conseguiremos resolver a pressão”, afirmou na Assembleia Municipal do Porto de segunda-feira, Rui Moreira.

A afirmação do autarca surgiu no seguimento da intervenção do deputado socialista Rui Lage, que, durante a sessão admitiu ter sido “com grande surpresa” que voltou a “ouvir falar de censura no Porto a propósito de política cultural”.

“Há um debate intelectual a ter, mas esse não é um debate a ter aqui. Aqui é um debate político. A questão é, houve censura?”, reiterou o deputado, referindo-se, entre outros casos, à folha de sala do espectáculo Turismo, da autoria da dramaturga Regina Guimarães. “A verdade é que houve uma folha de sala que devia ter saído e não saiu e um livro que devia ter estado à venda e não esteve, isso foi um erro grave”, defendeu o deputado.

Em resposta ao deputado, Rui Moreira afirmou que o termo censura “tem sido usado levianamente” e que o teatro “não é um albergue para aquilo que as pessoas legitimamente querem”.

“Não pode ser, porque desde logo tem de ter uma programação, obedecer a escolhas e é um bem escasso. E em cultura, como em tudo resto, fazem-se escolhas que, por razões objectivas, dependem do programador”, frisou. Nesse sentido, o autarca defendeu a necessidade de serem encontrados na cidade “espaços adequados”, por forma a “deixar que o Teatro Municipal seja aquilo que é”.

“Temos de encontrar para estas estruturas [novas companhias e intérpretes] espaços adequados. Precisamos de deixar que o Teatro Municipal seja aquilo que é, mas também me faz espécie que a exigência que é feita ao Teatro Municipal não seja feita a outras estruturas da cidade”, referiu.

À semelhança do socialista, também a deputada do Bloco de Esquerda Susana Constante Pereira questionou o autarca se estaria disponível para fazer “deste triste momento”, o ponto de partida para “uma discussão mais alargada sobre a política cultural da cidade”.

“Efectivamente, algo se está a passar no Teatro Municipal e é grave que quem é responsável pelo pelouro da cultura não saiba que isto se passe. Então perguntamos que posição pretende tomar? O que chama à proibição da venda de um livro no Teatro Municipal, à indicação de retirada de uma folha de sala inerente à apresentação de uma peça de teatro? O que acha a isto se não censura?”, reiterou.

Em resposta à deputada, Rui Moreira admitiu que preferia que o texto de Regina Guimarães “não tivesse sido censurado, para que pudesse ser livremente criticado” e que a proibição da venda do livro de Tiago Correia não estava prevista por tratar-se de uma edição paga.

“Não está prevista a venda dentro do teatro de uma edição paga, que tinha um preço (...) não se pode confundir a co-produção com a venda de livros por parte de uma editora. Cumpriu-se a lei escrupulosamente”, disse o autarca.

No dia 3 de Fevereiro, a dramaturga Regina Guimarães acusou a direcção do Teatro Municipal do Porto de censurar um texto da sua autoria, escrita para a folha de sala do espectáculo Turismo, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, que esteve em cena nos dias 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto. A folha não chegou a ser distribuída.

No dia 20, a escritora Regina Guimarães demitiu-se do Conselho Municipal de Cultura da Câmara do Porto, decisão que comunicou por carta ao presidente da autarquia, e que tem a ver “com os acontecimentos recentes, com a questão da censura, com o facto de que o próprio conselho (...) não ter julgado prioritário reunir-se por uma coisa destas”, como então disse à Lusa.

No dia 24, Carla Miranda e Vânia Rodrigues juntaram-se a Regina Guimarães na demissão deste Conselho, e o Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE) exigiu um “esclarecimento público” do Teatro Municipal do Porto sobre os factos, relatados durante o último mês.