Ventura vai propor prisão perpétua para homicidas e pedófilos

Líder do Chega acredita que vai à segunda volta para Belém e diz que é o candidato presidencial para “vetar o que tiver que ser vetado” e “para dissolver a AR muito em breve”.

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André Ventura Rui Gaudêncio
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Ainda agora aqui chegou e já se vê como um dos primeiros vencedores: André Ventura apresentou a sua candidatura presidencial neste sábado à noite em Portalegre num jantar com 500 pessoas e diz que já tem “certeza na segunda volta”. Mas, para já, é como deputado que continua a criar polémica e vai propor no Parlamento, em breve, a prisão perpétua para pedófilos e homicidas, anunciou sob a ovação da plateia. Tal medida viola a Constituição, que estipula que não pode haver penas nem medidas restritivas da liberdade com carácter perpétuo.

Foi um discurso muito crítico para o Parlamento – “o grande circo” onde Joacine “só fala de amor”, o PS “só faz o que o Governo quer”, o PSD “que ainda ninguém sabe o que quer” e o PAN "com votos sobre ovelhas" , para o Governo, e sobretudo para o Presidente da República. Com piadas e ironias, Ventura voltou dizer que se “está nas tintas” para a Constituição e até para o Presidente porque este “serve apenas para tirar fotos, chamar youtubers e ser condecorado doutor”: “Enquanto não vir o Presidente ao lado dos portugueses direi que me estou nas tintas para Marcelo Rebelo de Sousa.”

Fala nos “números” que o apontam como o candidato que, com Marcelo, “pode ganhar estas eleições”, mas espera que Ana Gomes decida entrar na corrida – “Avança, avança… vais ser tão dizimada!”, ironizou, dizendo que quase que até José Sócrates conseguia mais votos do que a ex-eurodeputada socialista.

Ventura voltou a insistir na mudança de regime porque este “sistema já não serve. Queremos passar para a Quarta República portuguesa”; atacou Ferro Rodrigues e o seu tom “autoritário” de “comigo isto não passará” para recusar debater a castração química quando uma sondagem recente “diz que 90% dos portugueses” concorda. “Que casa da democracia é esta? É vergonha, é uma vergonha”, repetia o deputado e agora candidato. “E vamos dizer as vezes que quisermos: vergonha…” e repetia a palavra “proibida” por Ferro, com os apoiantes a rirem e alguns a repeti-la.

“Estamos nós a pagar para um Parlamento trabalhar que, afinal, está de costas voltadas para as pessoas.” Lamentou que os temas realmente importantes sejam considerados inconstitucionais, incluindo, além da castração, a regionalização, regras contra a corrupção como a condenação por enriquecimento ilícito. “Sim, é altura de mudar esta Constituição!”.

"Comigo, Governo que não lute contra a corrupção estará fora ao fim de um mês"

Foi com sucessivas críticas a Marcelo que André Ventura passou a mensagem do Presidente que não quer ser. Nem o “avozinho dos portugueses que lhes passa a mão pelo pêlo” e só tira selfies mas não ajuda a resolver os seus problemas nem a defender os seus direitos. Nem um Chefe de Estado que passe os dias a mergulhar ou a viajar. “Isto não serve; não é o homem, é a função.”

Por oposição, Ventura promete ser um Presidente da República “a sério, que faça valer os direitos dos portugueses”, e não aceitará “governos do tamanho do mundo, como este”, que “nem cabe” na tribuna do Parlamento. “Comigo, um Governo que não lute contra a corrupção estará fora de portas ao fim de um mês. (...) Comigo, este regime é para acabar.”

“Hoje estou aqui por um lugar e uma missão que é muito maior que nós e a nossa existência. Sou uma pessoa religiosa: mais importante do que fazermos o que queremos, é fazermos aquilo para que estamos destinados. Esta já não é apenas uma luta minha; foi uma missão colocada neste lugar”, vincou.

Confettis, brilhos, oração na igreja e a arara Aurora

André Ventura escolheu Portalegre para o lançamento da sua campanha presidencial por ser o distrito onde teve a maior votação em Outubro e ser uma “cidade do interior esquecido” mas acaba por ser a mesma em que Marcelo fez a comemoração do Dia de Portugal no ano passado. O programa começara com quase uma hora de atraso, na Praça da República, sem o grupo musical que estava prometido, mas com pequenos canhões de confettis brilhantes disparados por apoiantes.

O deputado chegou minutos antes das 18h, acenou, distribuiu cumprimentos e começou um desfile pelas ruas estreitas e desertas de calçada da zona antiga da cidade acompanhado por mais de 200 pessoas. A maior parte delas de Portalegre, os restantes da região alentejana à volta – mas o traço em comum é serem, nitidamente, da classe média e média-alta. Chegaram de Mercedes, Audi e até Porsche. Diversos advogados, empresários e comerciantes, professores e gente ligada à função pública, segundo nos identificaram alguns locais. Muitos fatos completos com gravata, um laço borboleta, senhoras de casaco de pele, vestido de veludo, salto alto e cabelo com toque profissional.

Não, não foi uma arruada tradicional. Ouviram-se uns gritos solitários “André a Presidente” que não tiveram eco. Não havia bandeiras do partido e apenas um apoiante erguia uma bandeira de Portugal, pouco atrás do candidato. “Ganhou Portugal ou o Benfica?”, perguntava-se à porta de um dos raros cafés abertos – o comércio local estava quase todo fechado.

Ventura seguiu todo o passeio de mão dada com a mulher. Dina, que já vinha preparada para o jantar de gala, com um vestido rosa de duas aberturas laterais e sapatos stiletto a condizer, também entrou com ele na Igreja de São Lourenço. Ventura fez o sinal da cruz, ajoelhou-se, mas a mulher afastou-se para a outra ponta do banco da frente, deixando-o com dois seguranças. Dois minutos de reflexão e o casal saiu, aplaudido pela mole de gente que os esperava ao fundo da rampa empedrada.

No caminho até ao Rossio parou apenas para cumprimentar os polícias que assomaram à porta da esquadra. No jardim, passou sob os longos e despidos ramos do gigante plátano de 182 anos, e só parou junto à estátua de homenagem aos mortos da Grande Guerra, com ar compungido, durante um minuto em reflexão. Foi só aí que falou brevemente aos jornalistas.

A seguir rumou ao pavilhão do núcleo empresarial para o jantar, onde entrou novamente de mão dada com a mulher que, a fazer jus ao convite para o jantar de gala, colocou na cabeça uma bandolete brilhante. Dina acenou, cumprimentou um a um os músicos do Verde Minho que os receberam com cantares tradicionais. E assustou-se com a arara Aurora que colocaram no ombro do marido, lhe coçou a cabeça e bateu com as asas.

O cenário era o de um casamento – o casal sempre junto, a enorme sala com mesas de saia rodada e postas festivamente, a dupla de jazz de Badajoz a acompanhar a refeição, a sevilhana depois do discurso e antes da sobremesa. A destoar, só os dois seguranças a ladear a mesa de Ventura - e outros dois a guardar a dançarina. O jantar, a 20 euros por pessoa, com prato de peixe e carne foi servido com tempo… tanto tempo que Ventura discursou quando ainda não tinha chegado o segundo prato.

Apesar de estar a começar, a máquina de Ventura já se mostra oleada. A começar pelo cartaz do programa para o evento, a credenciação, os muitos militantes disponíveis para ajudar, os apoiantes que passaram a tarde e a noite a filmar tudo com o telemóvel em directo para o Facebook. Já no português… as credenciais para a imprensa identificavam o evento como “apresentação da candidatura á Previdencia da Republica” (sic).

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