Covid-19 já está a espalhar-se mais rapidamente no resto do mundo do que na China
O novo coronavírus já fez pelo menos 2760 mortos e 80 mil infectados em mais de 40 países. Há casos confirmados em vários países europeus e em Itália houve um aumento repentino de casos nos últimos dias. Em Portugal, todos os casos suspeitos deram negativo.
Em cinco dias, desde sábado, o número de infectados pelo novo coronavírus na Europa disparou de cinco dezenas para mais de 450; o número de mortos de um para 14. E com a chegada do coronavírus ao Brasil, com uma confirmação esta quarta-feira em São Paulo, a Antárctica torna-se no único continente sem casos. Entrou-se assim numa nova fase em que o Covid-19 já se espalha mais rapidamente pelo resto do mundo do que na China.
Ainda que o acelerar do surto esteja a gerar uma preocupação assumida no seio da União Europeia (UE), a situação não é, para já, motivo de pânico: a UE voltou a garantir nesta terça-feira estar a trabalhar “em todas as frentes” para prevenir a propagação do novo coronavírus na Europa, insistindo na necessidade de coordenação dos Estados-membros “em tempo real” para enfrentar um fenómeno que é “dinâmico”.
A Comissão Europeia reforçou que o fundamental é a UE, no seu conjunto, estar “preparada” para um eventual aumento da epidemia, quer a nível de tratamento, quer de contenção do surto. Uma das questões mais delicadas associadas ao aumento de casos, e particularmente à situação em Itália, é a do controlo de fronteiras, que a Comissão tem sublinhado não ser da sua competência, mas sim de cada Estado-membro. No entanto, um cenário deste tipo também não é descartado.
Itália preocupa autoridades europeias
O país que mais está a preocupar as autoridades de saúde europeias é a Itália. Isto porque desde sexta-feira houve um aumento repentino de casos positivos: nesse dia foram contabilizadas apenas três pessoas infectadas com o vírus, mas entretanto esse número subiu para 400 infectados. Esta quarta-feira foi também confirmada a décima segunda vítima no país.
As autoridades italianas estão a tentar apertar cada vez mais o cerco ao Covid-19: as medidas de contenção anunciadas este fim-de-semana para dez localidades onde vivem ao todo cerca de 50 mil pessoas continuam em vigor. Véneto, Piemonte e Lombardia, no Norte de Itália, são as regiões críticas que estão localizadas na “zona vermelha”.
Por enquanto, o padrão de mortes registado em Itália é semelhante ao verificado na China. São os mais idosos e com doenças associadas, como cancro, diabetes, doenças respiratórias e outras que deprimem o sistema imunitário, que estão a ser mais afectadas.
Depois de Itália, a Alemanha continua a ser o país europeu com mais casos, mas sem novas infecções. Já a França confirmou um total de 17 infectados no país e uma segunda vítima mortal: um homem francês de 60 anos morreu de madrugada em Paris depois de ter sido diagnosticado. A Noruega, Áustria, Croácia, Suíça, Espanha, Macedónia do Norte e a Grécia também confirmaram novos casos de infecção.
Até agora, o único caso conhecido de um português infectado pelo novo vírus é o de Adriano Maranhão, o tripulante de um navio de cruzeiros que foi internado num hospital da cidade japonesa de Okazaki, situada a cerca de 300 quilómetros de Tóquio. Todos os casos suspeitos detectados em Portugal (até esta quarta-feira foram 18) foram negativos.
Mais de 40 países afectados
O vírus que já fez mais de 2760 mortos (a maior parte na China) espalha-se agora pelo resto do mundo a maior velocidade e já existem pessoas infectadas em mais de 40 países. Além de mortes na China continental, há registo de vítimas no Irão, Coreia do Sul, Itália, Japão, Hong Kong, Filipinas, França e Taiwan.
A China reportou esta quarta-feira 52 mortes, o menor aumento diário em três semanas, ao mesmo tempo que reportou 406 novos casos, a maioria na província de Hubei. O número de novos pacientes registou assim uma queda de 20%, em comparação com segunda-feira, por exemplo. Segundo os dados actualizados pela Comissão Nacional de Saúde da China o país soma mais de 2700 mortos e 78 mil casos confirmados. Entre os infectados, mais de 45 mil continuavam activos e mais de 8500 pacientes encontravam-se em estado grave. Por outro lado, quase 30 mil pessoas já receberam alta.
Apesar de o Irão ser o país com mais mortes pelo novo coronavírus a seguir à China – só na última semana foram registados 139 casos de infecção e 19 pessoas morreram —, o Presidente Hassan Rouhani disse que o seu Governo não está a planear pôr cidades e distritos do país em quarentena.
Na entanto, as autoridades já encerraram escolas e algumas universidades e admitem prolongar essa decisão durante mais alguns dias. Existem também planos para restringir o acesso a locais sagrados xiitas esta sexta-feira. Por outro lado, 11 países já “encerraram” as suas fronteiras terrestres e aéreas com o Irão (os vizinhos Iraque, Turquia, Afeganistão, Paquistão e Arménia, e outros países da região como a Arábia Saudita, Kuwait, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Omã e Geórgia).
Planeta está ou não preparado?
Evitar o pânico é uma das mensagens chave da Organização Mundial de Saúde (OMS): a directora de saúde pública da organização, Maria Neira, assegurou esta quarta-feira que é “irracional e desproporcionado” que se esgotem as máscaras e os desinfectantes nas farmácias por medo do coronavírus. Em declarações à emissora espanhola RAC-1, Neira recordou que as máscaras são para uso do pessoal de saúde e sublinhou que a diminuição de vítimas e contagiados que está a registar-se na China “poderá significar que a epidemia chegou ao cume e atingiu o pico epidémico”. Mas, por outro lado, Bruce Aylward, o especialista que liderou a equipa da OMS enviada à China alertou que o planeta “não está pronto” para enfrentar uma pandemia deste novo coronavírus.
Quanto à preparação do nosso país, o ministro dos Negócios Estrangeiros, garantiu que estamos preparados para uma eventual “entrada” do coronavírus Covid-19. Augusto Santos Silva referiu esta quarta-feira que existe um plano de contingência pronto a ser activado em Portugal. No entanto, salientou que este é um problema global que exige acções concertadas, principalmente a nível europeu.
Como já havia sido anunciado, Portugal está a reforçar as medidas de prevenção e a rede de laboratórios e hospitais disponíveis para receber casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus. Em termos de medidas futuras, o Governo português não descarta o encerramento de fronteiras, mas reforçou que só o fará em conjunto com União Europeia, em linha com as intenções da Comissão Europeia.
O pneumologista e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, Filipe Froes, disse esta quarta-feira à Lusa que, comparando com a capacidade de resposta que houve para a gripe A há dez anos, agora há “menos capacidade de resposta hospitalar, menos recursos humanos e menos diferenciação”. “O desafio vai ser muito maior, mas também tem de ser ajustado à transmissão da doença, ao número de portugueses atingidos e à gravidade”, disse, sublinhando que “o desafio neste momento ainda é desconhecido”.