Pela Galeria Municipal do Porto vão passar máscaras, fungos e pés de barro
Programação foi anunciada esta sexta-feira à noite, numa sessão que incluiu uma performance de Nástio Mosquito.
Máscaras, uma exposição com curadoria de João Laia e do lituano Valentinas Klimašauskas, abre no próximo dia 14 de Março a programação da Galeria Municipal do Porto para 2020 e 2021, divulgada esta sexta-feira à noite numa sessão que incluiu uma performance de Nástio Mosquito, um DJ set da produtora e performer Odete, e ainda o lançamento de Politics of Survival, uma publicação resultante do curso homónimo promovido pelos Colectivos PLáka, que coordenam grupos de reflexão dedicados à arte contemporânea e à prática artística.
Apresentada por Rui Moreira e pelo director artístico da Galeria Municipal, Guilherme Blanc, também responsável pelo departamento de arte contemporânea e cinema da nova empresa municipal Ágora, a programação prevê a inauguração de 14 exposições até Agosto de 2021.
O espaço da Mezzanine será reservado para uma série de exposições individuais, ao passo que o Piso 0 acolherá mostras colectivas que abordam um tema da contemporaneidade”, como acontece com Máscaras, que parte das declinações contemporâneas de um dos mais remotos e persistentes artefactos culturais da espécie – dos avatares usados on line às trocas de rostos permitidas pelas aplicações digitais – para interrogar “a radical reformulação em curso das nossas identidades sociopolíticas, sexuais ou transcendentais”. Um projecto desenvolvido pelo curador português João Laia, actual curador-chefe do museu de arte contemporânea Kiasma, na capital finlandesa, e pelo escritor e curador Valentinas Klimašauskas, que comissariou com Inga Läce a exposição de Daiga Grantina que ocupou o pavilhão da Lituânia na Bienal de Veneza em 2019.
O primeiro dos vários artistas que passarão pela Mezzanine até ao Verão do próximo ano é Diogo Jesus, criador de desenhos, textos, banda desenhada e música, e que publica fanzines desde os 16 anos sob o pseudónimo Rodolfo. A exposição Apesar de não estar, estou muito, com curadoria de João Ribas, ex-director do Museu de Serralves e curador do pavilhão de Portugal na última Bienal de Veneza, sublinha as “obsessões autobiográficas” do artista e a sua “distinta perspectiva da cultura popular”, reunindo um diversificado conjunto de trabalhos, desde as primeiras bandas desenhadas que Diogo Jesus começou a produzir em 2007 até recentes projectos gráficos e musicais assinados pelos seus alter-egos Gegika Warlord e DJ Nobita.
Máscaras e a retrospectiva de Diogo Jesus encerram ambas a 17 de Maio, e a Galeria Municipal reabre a 9 de Junho com a exposição dos seis finalistas da 2.ª edição do Prémio Paulo Cunha e Silva – o vencedor será anunciado no decorrer da exposição – e com Waves and Whirlpools, de Luís Lázaro Matos, cujo “remoinho de imagens caleidoscopicamente suspensas no espaço” ameaça transformar a Mezzanine num metafórico Triângulo das Bermudas. A exposição é comissariada por Martha Kirszenbaum, mais uma curadora que passou pela última Bienal de Veneza, onde programou o pavilhão de França.
Em Setembro, outro momento importante desta programação com a exposição Que horas são que horas, com curadoria de José Maia, Paula Parente Pinto e Paulo Mendes, aos quais a Galeria Municipal propôs que partissem da actividade das galerias de arte do Porto ao longo de seis décadas, entre 1950 e 2010, para identificarem “momentos, expressões e fluxos” definidores do contexto artístico nacional.
A exposição Boy Meets Girl (Behind the Border), com curadoria de Guilherme Blanc, está prevista para Novembro e abordará a obra da cineasta e artista de vídeo Inés Moldavsky, vencedora do Urso de Ouro no Festival de Berlim com a curta-metragem The Men Behind the Wall, onde a artista radicada em Telavive usa o Tinder, uma aplicação de telemóvel concebida para propiciar encontros românticos, para dialogar com homens que vivem do outro lado da fronteira, na Cisjordânia e em Gaza.
A programação deste ano termina com a inauguração de duas exposições no início de Dezembro. No Piso 0, Expo’98 no Porto é a segunda exposição relativa ao concurso homónimo, dirigido a curadores e artistas residentes na cidade para o desenvolvimento de projectos expositivos na Galeria Municipal. Paralelamente, ficará na Mezzanine Nets of Hyphae, uma exposição de Diana Policarpo centrada na investigação desta artista em torno de um fungo parasita que se encontra em regiões de grande altitude na Índia e no Nepal, e cuja extracção afecta as comunidades e ecologias locais. A curadoria é de Stefanie Hassler, directora da Kunsthall de Torndheim, na Noruega.
Das várias exposições já anunciadas para o primeiro semestre de 2021, destaca-se, em Março, Pés de Barro, com curadoria de Chus Martinez e Filipa Ramos, que mostra que artes que tendemos a relacionar com o passado, como a olaria e a cerâmica, também podem ser usadas para projectar e moldar o futuro.