Costa não é a Alice no país das maravilhas mas insistiu no cenário cor-de-rosa

De volta aos debates quinzenais, o plenário apanhou com um “caco” do Orçamento trazido pelo PSD - o Metro de Lisboa. PCP lembra que só votou Lei de Bases da Saúde devido ao fim das PPP e Bloco tem empurrão de Costa para questionar governador do Banco de Portugal sobre Luanda Leaks.

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António Costa foi interpelado no primeiro debate quinzenal do ano LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

A suspensão da linha circular do Metro de Lisboa, o aumento da função pública, a renovação da PPP de Cascais e a discussão em torno do reforço dos cuidados paliativos foram as principais questões levadas ao debate quinzenal desta terça-feira. Mas o assunto que acabou por ser o denominador comum das bancadas do Parlamento foi o caso dos ataques racistas contra o jogador do Futebol Clube do Porto, Moussa Marega. Pelo menos à esquerda (e do lado do PAN). Das bancadas da direita não se registaram comentários sobre o tema.

Para o PSD, o assunto foi apenas um: a suspensão da linha circular do metro de Lisboa. Depois de receber um recado em papel do ministro do Ambiente – pormenor que não escapou a Rui Rio – o primeiro-ministro esclareceu que os 83 milhões de euros destinados à obra não poderiam ser alocados a outro projecto, devido ao calendário de execuções. Ainda que não tenha esclarecido todas as perguntas apresentadas pela bancada do PSD, Costa não deixou Rio sem resposta. O primeiro-ministro tentou descredibilizar o PSD por ter votado pela suspensão da linha circular do Metro de Lisboa e lembrou que foi um projecto negociado pelo Governo social-democrata. Escudando-se nos números relevados pelo INE (que apontam para o crescimento económico do país), Costa apoucou Rio por se “concentrar num ramo de um arbusto no meio da floresta” e concluiu que quem manda nas linhas de metro é o Governo.

A renovação da PPP de Cascais foi trazida ao debate pelo BE, PCP e CDS. Enquanto o Bloco e o PCP cobraram a promessa feita pelo Governo em relação ao fim das PPP inscrito na Lei de Bases da Saúde - e Jerónimo até lhe lembrou que essa foi a moeda de troca pela aprovação comunista -, o CDS quis saber por que razão não foi também lançado um novo concurso para a PPP de Braga, tendo em conta os “excelentes resultados” desta unidade de saúde.

Aos primeiros, Costa respondeu que não existia nenhuma incoerência e recorreu à mesma estratégia que usou com Rui Rio, ressalvando que a renovação da PPP de Cascais está prevista desde 2017, logo, antes da Lei de Bases da Saúde. Em resposta a Cecília Meireles, que neste debate se despediu da liderança da bancada parlamentar centrista, o primeiro-ministro disse que era “um problema já ultrapassado”.

“Não vivemos em nenhum país das maravilhas, nem eu me chamo Alice”, diria ainda o primeiro-ministro, antes de jogar o seu trunfo contra as críticas da bancada do CDS. Em véspera da discussão sobre despenalização da morte assistida, o partido perguntou ao Governo quais as medidas previstas para reforçar os cuidados paliativos. Costa prometeu que irá alargar a oferta até 800 camas, reforçar dez unidades de dia e de promoção de autonomia e alargar equipas domiciliárias e equipas comunitárias nos diferentes agrupamentos de centros de saúde já este ano.

As “maravilhas” foram também criticadas por João Cotrim de Figueiredo, que acusou o “timoneiro” Costa de ter trazido os óculos cor-de-rosa para descrever uma economia robusta que mais ninguém vê.

O PCP insistiu também na valorização geral dos salários da função pública – que será alvo de uma nova ronda de negociações esta quarta-feira – e Costa reconheceu que era preciso valorizar o salário médio dos trabalhadores. Mas Jerónimo de Sousa avisou-o: “Tenha atenção ou os problemas vão aumentar.”

Do lado do Bloco, também chegaram avisos, mas virados para o Banco de Portugal. Catarina Martins irá chamar o governador Carlos Costa para averiguar se o regulador pode travar a venda do EuroBic, evitando que Isabel dos Santos fique com as verbas resultantes da alienação.

O PAN pediu mais leis para combater o racismo, mas o primeiro-ministro defendeu que a prioridade deve ser garantir que as instituições aplicam a legislação já em vigor. Sobre o caso Marega, houve um silêncio à direita que se destacou e mais incomodou o primeiro-ministro. Fora do Parlamento, André Ventura desvalorizou os ataques racistas a Marega e acusou o país e o primeiro-ministro de hipocrisia. No debate, António Costa não deixou escapar “a falta de frontalidade” de Ventura, o que levou deputados das bancadas da esquerda a gritarem: “E o Marega?”

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