Caracas recomenda usar diplomacia nas sanções à TAP e sublinha que Maduro é o Presidente
TAP fala em “medida gravosa” para a empresa. Decisão de Caracas apanhou de surpresa os portugueses a viver na Venezuela. A TAP voa para Caracas duas vezes por semana e o voo desta terça-feira continua a aceitar reservas.
Caracas recomendou a Lisboa que contacte o ministro de Relações Exteriores venezuelano, Jorge Arreaza, para tratar das sanções impostas à companhia aérea portuguesa TAP e sublinhou que a Venezuela só tem um Presidente, Nicolás Maduro: “Eles sabem quais são os mecanismos. O respeito é o primeiro. Esse é o primeiro mecanismo, de respeito. E, aqui há um presidente que se chama Nicolas Maduro. Não há outro presidente. Não há”, declarou, na segunda-feira, o presidente da Assembleia Constituinte.
Diosdado Cabello falava aos jornalistas, em Caracas, durante a conferência de imprensa semanal do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, no poder), durante a qual se referiu ao líder opositor e presidente interino autoproclamado do país Juan Guaidó como “verme e animal perigoso”. Guaidó foi reconhecido como Presidente por meia centena de países, incluindo Portugal.
“Que a TAP peça [a Juan Guaidó] uma reconsideração da sanção, para ver quem é o Presidente da Venezuela, porque, entre outras coisas, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal disse que transportavam um Presidente. Presidente de quê? De quê?”, sublinhou. Segundo Diosdado Cabello, a suspensão dos voos “é o mínimo” que a Venezuela podia fazer.
"Grande parte do dinheiro da Venezuela está nos bancos de Portugal"
Diosdado Cabello frisou ainda que “os mecanismos são claros” e pede que se entre em contacto com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza. “Ele é o único ministro de Relações Exteriores da Venezuela que os pode ajudar”. “A menos que os que governam Portugal ainda sintam que são um império. Eles não tinham um aqui no Brasil? (...) Talvez eles ainda acreditem que somos súbditos, que somos uma colónia e que podem, como império, dar ordens. É assim que alguns acreditam”, considerou.
Por outro lado, o responsável venezuelano acusou Portugal de manter nos bancos portugueses “grande parte do dinheiro roubado da Venezuela”. “Dá tristeza, não pensem que é um dos melhores [países] com os quais temos relações. Grande parte do dinheiro roubado da Venezuela está nos bancos de Portugal”, disse Cabello, numa alusão aos recursos bloqueados no Novo Banco, sem referir o nome da instituição bancária.
“Não pensem que eles são nossos benfeitores. Não, não, não. Grande parte do dinheiro roubado da Venezuela está nos bancos de Portugal”, concluiu.
TAP afirma que medida é “gravosa"
A TAP diz que “não compreende” a suspensão por 90 dias de voos para a Venezuela que lhe foi aplicada e garante que esta é uma “medida gravosa”, que prejudica os passageiros, adiantou fonte oficial da empresa ao PÚBLICO.
“A TAP não compreende as razões desta suspensão da operação para a Venezuela por 90 dias, uma vez que cumpre todos os requisitos legais e de segurança exigidos pelas autoridades de ambos os países”, salienta a fonte. “Trata-se de uma medida gravosa que prejudica os nossos passageiros, não tendo a companhia sequer tido hipótese de exercer o contraditório”, acrescenta a fonte oficial da companhia aérea.
O Governo português também já pediu um inquérito para averiguar a veracidade das acusações que envolvem a transportadora aérea portuguesa, dizendo não ter qualquer indício de irregularidades no voo que transportou Marquez e Guaidó.
Comunidade portuguesa em Caracas incrédula
A decisão do Governo venezuelano foi recebida com surpresa e alguma incredulidade por portugueses radicados na Venezuela, que admitem que a comunidade portuguesa será a mais afectada.
“É uma decisão desagradável, que afecta sobretudo a comunidade portuguesa”, disse à Lusa Fernando Campos, conselheiro das comunidades portuguesas, que não se mostrou surpreendido, mas explicou que “não está de acordo” com a decisão, porque não lhe encontra fundamento.
Vários empresários, questionados pela Lusa sobre a suspensão dos voos, reagiram com “incredulidade”, chegando mesmo alguns a pensar tratar-se “de um rumor das redes sociais”. No entanto, um empresário, à semelhança de outros portugueses, admitiu que “se os voos forem suspensos” vai complicar-se a situação para quem viaja para a Europa, onde há poucas linhas em comparação com as que operavam, há alguns anos, para Caracas.
A TAP voa para Caracas duas vezes por semana, à terça e quarta-feira, e diversos agentes de viagem confirmaram à Lusa que, de momento, o voo previsto para terça-feira continua a aparecer no sistema.
Na segunda-feira, o Governo de Nicolás Maduro determinou a suspensão dos voos da TAP. “Devido às graves irregularidades cometidas no voo TP173, e em conformidade com os regulamentos nacionais da aviação civil, as operações da companhia aérea TAP ficam suspensas por 90 dias”, escreveu o ministro dos Transportes da Venezuela, Hipólito Abreu, na conta da rede social Twitter.
Durante uma conferência de imprensa em Caracas, o ministro Hipólito Abreu, esclareceu que “foi encontrada uma série de eventos irregulares, entre os quais se destaca: documentos que não possuem certificação de fumigação, a identificação das pessoas que não corresponde à lista fornecida pela companhia aérea, assim como a localização de materiais não qualificados para transporte”.
Segundo as autoridades venezuelanas Juan Guaidó viajou de Lisboa para Caracas com o nome de António Márquez. No entanto, no sábado, durante uma conferência de imprensa, o político insistiu que tinha viajado com o seu nome: “O meu nome é Juan Gerardo António Guaidó Márquez. Esse é o meu nome. Tenho vários nomes, Juan, Gerardo, António, Guaidó Márquez. Viajei com o meu nome. Se a ditadura não gosta dos meus nomes isso é outra coisa”, afirmou.